José Manuel Fernandes
Leio que José Manuel Fernandes vai embarcar num novo projecto editorial, o Observador, que certamente não por coincidência rima com conservador. (Rui Ramos coordena o Conselho Editorial…)
Eu gosto de alguns conservadores. Gosto mesmo muito das crónicas do velho Dr. António Sousa Homem, são da melhor literatura que Francisco José Viegas escreve e da melhor que se lê em Portugal. Tenho a minha própria costela conservadora. Como um tipo de outros tempos, espanta-me a linguagem da juventude, as suas maneiras, o desrespeito, o totalitarismo que nela é tão natural que alguns dos seus elementos se surpreendem genuinamente quando acusados de desconsideração, de abuso.
Não gosto de fanáticos. E, por corolário, não gosto de José Manuel Fernandes. Desde que ele se apaixonou por Helena Matos, essa avençada do Tea Party, gosto menos ainda. Os dois isolados são irritantes; juntos tornam-se odiosos, uma espécie de Bonnie and Clyde com um gosto sádico por assaltar velhinhas.
José Manuel Fernandes é um conservador influente. Que Portugal tenha fretado e revestido a pechisquebe um cacilheiro para ir a Veneza, fazendo deste género de epopeia marítima o símbolo de uma opção no que se refere ao apoio às artes, é, de certa forma, um desiderato para o qual contribuiu o antigo director do Público. Anos atrás, ele escreveu que «uma só exposição como a de Amadeo [na Gulbenkian] faz mais pela educação do gosto dos portugueses do que milhares de microeventos de “criadores” que não estão dispostos a correr riscos». A ideia era defender meia dúzia de grandes exposições deste género como investimento único do Estado nas artes. Daí a o Estado “arriscar” na Joana Vasconcelos pós-Versalhes, foi um passinho.
O próprio José Manuel Fernandes é uma pessoa de arriscar. Quando temos um governo, uma maioria e um presidente de direita, quando temos uma crise e instituições tutelares a forçar uma viragem política e social extrema à direita, José Manuel Fernandes embarca num arriscado projecto editorial… de direita. É preciso coragem. É certo que não há o risco de lhe faltarem patrocinadores, com tantas empresas agradecidas pelo admirável mundo novo que ele ajudou a promover. Mas há o risco grande de os portugueses confundirem o Observador com o Diário da República, quando notarem que a tendência editorial é a mesma. Claro que este problema de concorrência se resolverá rapidamente quando todos perceberem que há benefício em assinar o Observador, onde as (más) novas legislativas aparecerão primeiro. O DR deverá, aliás, ser rapidamente extinto, por redundante. Para quê um caro órgão público oficial quando podemos ter um privado órgão oficioso?
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