segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A encomenda

«Caso não seja entregue, agradecemos a devolução, indicando a razão com um X.» Imagino o que aconteceria se o destinatário da encomenda fosse a Divindade e os filósofos se tornassem os responsáveis por desenhar a «cruz da não entrega». Aristóteles colocá-la-ia em «Ausente»; Epicuro, em «Recusado»; Kant, em «Desconhecido»; Hume, em «Encerrado»; Feuerbach, em «Mudou-se»; Nietzsche, em «Falecido»; Wittgenstein, em «Endereço insuficiente»; Sartre, em «Não reclamado». Já os panteístas, como Espinosa, ficariam legitimamente de posse da encomenda.

3 comentários:

  1. Eu não sei como é que o Jośe faz, mas que é o meu contribuidor favorito da Iniciação ao Tédio isso parece-me indiscutível. Tinha de sair do Facebook para transmitir isto - como é que estes curtos textos dizem tanta coisa e conseguem sempre fazer sorrir uma pessoa?

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  2. Agradeço os comentários. Em resposta à pergunta do Hélder, direi que a redacção dos posts é, em si, uma questão de técnica e de estilo, a que o cérebro se habitua. Limitado às 77 palavras, também não tem por onde fugir. Complicado, sim (muito complicado), é conseguir obter a ideia central, embora por vezes o melhor da ideia surja durante a escrita. Admito, no entanto, que no presente post tenha havido inspiração divina. Aliás, sob diversas formas.

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