O Governo de Vítor Gaspar insiste. A recessão não dá tréguas, antes de agrava? Aplique-se uma dose mais forte do “tratamento” que deitou a economia por terra, a ver se é desta que resulta...
Em Setembro do ano passado usei pela primeira vez a expressão «cegueira ideológica» para classificar a acção e as opções político-económicas de Vítor Gaspar y sus muchachos. Os sintomas mantêm-se, como se constata.
Mais de seis meses depois, descobri que a doença já consta da literatura: Em Pensar, Depressa e Devagar, livro a que já me referi por várias vezes, Daniel Kahneman, laureado com o Prémio Nobel da Economia, dedica um capítulo a uma teoria económica que resistiu incontestada mais de 250 anos, apesar de ser relativamente fácil encontrar-lhe falhas graves. Escreve Kahneman (pp. 364–365):
O mistério é como é que uma conceção [...] que é vulnerável a contraexemplos tão óbvios sobreviveu durante tanto tempo. Eu posso explica-la através de uma debilidade da mente académica que observei muitas vezes em mim mesmo. Chamo-lhe cegueira induzida pela teoria: depois de terem aceitado uma teoria e de a terem usado como ferramenta no vosso pensamento, é extraordinariamente difícil reparar nas suas falhas. Se se deparam com uma observação que não parece encaixar no modelo, assumem que deverá haver uma explicação perfeitamente plausível que, de algum modo, vos está a escapar. Dão à teoria o benefício da dúvida, confiando na comunidade de especialistas que a aceitaram. [...]
No caso de Gaspar, sabemos agora, pelo menos um artigo de fé nunca foi consensual ou sequer aceite pela maioria da comunidade de especialistas em Economia — e há agora indícios bastante fortes de que os santos eram de pau oco. Mas os santos de pau oco também têm a sua legião de fiéis, como sabemos. E não das menos fanáticas.
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