segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A intervenção secreta de Ariadne

Almejava esquecer um passado atroz. Decidiu convertê-lo em narrativa. Ocultou-a num ficheiro com palavra-passe. Criou outro. Guardou aí essa palavra-passe. Num terceiro, alojou a do segundo. E assim sucessivamente, rumo ao olvido. Chegado ao milionésimo sétimo, logrou esquecer os dolorosos tempos. Mas também o sentido daquele exercício. Clicou então — gesto fortuito — em «Colar». O vocábulo «fio» adveio à página, garantindo-lhe acesso ao ficheiro anterior. Reentrara no labirinto. Sem o saber, foi avançando em busca de si próprio.

3 comentários:

  1. Interessante e oportuno esse texto. Estou começando uma auto biografia na terceira pessoa. Ainda não sei o que vai resultar... :)

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    1. Em princípio, o resultado será bom. Mas o problema é saber se, adquirindo uma existência independente, a «terceira pessoa» também pensará o mesmo.
      :)

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    2. Nunca o saberemos. E essa é a grande vantagem de tais formas narrativas.

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