quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A realidade bruta

Achava que a escrita devia exprimir apenas «o real nu e cru». Decidiu mesmo aprender estenografia, para que nenhum pormenor lhe escapasse nem tivesse tempo de reflectir. Em esplanadas, confiava ao papel «a existência bruta». Uma tarde, a caneta esbarrou com excremento de pomba. A matéria fecal interrompeu-lhe uma frase em que, transgredindo a norma abstracta, opinava sobre gestos concretos. Pensou: «Se a realidade pune desta forma um delito menor, ela deve ser implacável com os dissidentes.»

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