Agora que a crise nos cortou as asas, visitar Espanha, antes a coisa banal, volta a ser uma aspiração ambiciosa e cara. Aliás, qualquer viagem, mesmo no rectângulo ridículo a que chamamos pátria, é uma aspiração ambiciosa e cara. Sair de casa para um trabalho a mais de vinte quilómetros é caro — e, para um quinto dos portugueses (and counting, deixem passar o Verão e o emprego sazonal), uma ambição. Circular no dia-a-dia dentro da própria cidade onde se vive é caro. Não tarda, concluiremos que ser cidadão português é caro. Ou apenas ser cidadão. Caro e, evidentemente, uma aspiração acima das nossas possibilidades. Podemos argumentar que temos cidadania há nove séculos, mas isso é coisa com que nos iludimos desde o infame, pretensioso, impune e delirante bofetão henriquesiano na nobre mãe.
O que queria dizer, contudo, é que não me incomoda assim tanto recentrar a ambição viandante em Espanha. O país vizinho é suficientemente variado no que se refere a arquitectura, tradições, cultura e, sobretudo, paisagem, natureza e clima para preencher planos de viagem por uns bons anos. Seria até legítimo suspeitar que a crise é uma invenção espanhola para que os portugueses descubram o que existe para lá do Bojador de Pontevedra, Zamora, Badajoz ou Huelva e aquém dos Pirinéus. O Turismo de Portugal pode ser imune a subornos (duvido, é uma instituição com gestores escolhidos por partidos portugueses), mas eu não sou. Daí, a chamada de atenção para este post (cada clique, um euro para mim, cortesia de várias Juntas Hermanas), que li com inveja suficiente para um relatozinho de viagem que hei-de fazer sobre a estrada que une Trujillo a Placência, partindo de Mérida e talvez passando por Cuenca (esqueçam a Geografia convencional que vos impingiram).
Se porventura o relato não acontecer, lembrem-se que não seria a primeira vez que aqui se prometem textos que não se cumprem. É o que acontece quando por profilaxia e receita médica um tipo tem de enfrentar as artroses teclando ao acaso palavras vãs.
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