quarta-feira, 24 de abril de 2013

1. O argumento do tijolo

João Miguel Tavares é um conhecido e enérgico defensor da austeridade. No seu artigo desta terça-feira no Público pretendeu arrefecer os ânimos dos que se alegraram por ter sido descoberto um erro no célebre ficheiro Excel de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, frequentemente citado pelos promotores da austeridade. E que argumentação usou Tavares? Uma de peso. Ou de volume. De número de páginas. É que, diz o jornalista, ao contrário do que pensa a massa ignara, aquela dupla de economistas não se tornou famosa pelas «26 páginas de Growth in a Time of Debt», o artigo que continha o erro, mas sim pelas 512 páginas de This Time Is Different — Eight Centuries of Financial Folly, «um tijolo que se distingue precisamente pela avassaladora quantidade de dados que os autores foram capazes de coligir».

Ora, isto parece mais bullying do que argumentação. Como se alguém dissesse: «Não levam a sério as minhas palavras? Experimentem o meu peso», sentando de seguida os seus 120 quilos de hambúrgueres sobre o adversário para o calar.

A lógica de João Miguel Tavares pretende que o leitor, conhecido o erro de um artigo, ceda com alegria ao argumento da quantidade de informação em vez de, preventivamente, precavidamente, alertado pelo exemplo, se perguntar como e que informação foi coligida, e que influência isso teve nas conclusões alcançadas pelo cartapácio. Como se um erro em 26 páginas, e a interpretação fragilizada dele resultante, fosse mais improvável em meio milhar delas.

João Miguel Tavares quer enfim que nos verguemos perante a autoridade do calhamaço. É muito comum nos dogmáticos. Tome-se a Bíblia, por exemplo.

1 comentário:

  1. João Miguel Tavares, depois de andar a fazer teoria pró-austeridade para inoculação nas criancinhas pela mão do seu Papa Gaspar, deve andar preocupado com tudo isto. Deve temer que agora as vendas do seu livro caiam a pique.

    O problema é que os meios de comunicação social andam cheios de papagaios e moços de fretes, gente sem conhecimentos para falar do que fala, que 'fazem' a cabeça de meio mundo, manipulando completamente a opinião pública.

    E é assim, depois de lhes serem servidos ensinamentos enviesados, realidades deturpadas, que a população vota.

    O resultado está à vista.

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