Como antes dele o gerente de uma churrasqueira e o escriturário de uma empresa, o mecânico, com apenas um pouco mais de vernáculo do que os grandes liberais dos blogues, declara que não se pode adiar mais, é preciso despedir funcionários públicos, essa corja. Não uma pequena quantidade para troika ver. Milhares, centenas de milhares. Talvez isso não resolva o problema do país de imediato, concede, mas resolve-o a médio prazo. Não diz se por milagre.
O mecânico não se lembra de que grande parte dos seus clientes são funcionários públicos e que o negócio pode afundar se os seus funcionários públicos deixarem de conduzir carros por muito tempo. Ou para sempre. O mecânico não se lembra de que funcionários públicos são os professores dos seus filhos, os médicos e os enfermeiros que mantêm a sua mãe viva e lhe permitem continuar a receber a reforma dela. São os tipos que lhe apanham à porta o lixo que ele deixa espalhar-se pelo passeio. E são aqueles gajos que conduzem a frota cuja manutenção lhe foi entregue por amigo bem colocado na câmara. O mecânico esquece-se, a bem dizer, de que o bem-estar e a economia do concelho estão por enquanto, para o mal e para o bem, dependentes do funcionalismo público. E, na sua precipitação, o mecânico esquece-se de que a própria esposa é funcionária pública (sem formação, desqualificada, na primeira linha dos despedimentos).
O mecânico não o sabe, não pensou a sério no assunto, mas fala dos funcionários públicos como de uma abstracção. Muito à anos vinte do século passado, fala dos funcionários públicos como de “os outros”, como de uma raça expiatória.
Ainda bem que, à escala nacional, o Governo e os seus liberalíssimos e cultíssimos bloggers não são deste aziago jaez.
Não se deduza deste post que defendo uma economia assente no funcionalismo público. Não defendo. Apenas não acho que despedimentos nas actuais circunstâncias sejam solução para nada. Podem ser inevitáveis como a morte, mas não são solução. Por isso não os vendam como se fossem.
ResponderEliminarAté acredito que haja em vários casos funcionários públicos a mais. Mas de um programa de reformas eu esperava que criasse condições para que o sector privado absorvesse trabalhadores do público, não que políticas incompetentes e cobardes ou coniventes (lembremo-nos das PPPs, da energia e dos felizardos do PSI20) levassem milhares de pessoas dos dois sectores para o desemprego e para o desemprego sem apoios.