Uma das mais fascinantes características do ministro Vítor Gaspar (que chegou ao Governo com aura de génio da Economia e currículo com supostas «provas dadas») é a sua imorredoura capacidade para se surpreender com o andar da... Economia.
O Governo corta os salários do funcionários públicos, aumenta os impostos para todos e diminui a segurança no trabalho facilitando os despedimentos. Quando, perante a menor disponibilidade financeira e as perspectivas negras para o futuro, os portugueses se precavêem retraindo ainda mais o consumo e a economia cai mais rapidamente... Vítor Gaspar fica surpreendido.
(A 13 de setembro último, em entrevista à RTP, Pedro Passos Coelho, que antes dissera que os portugueses viviam acima das suas possibilidades, justificou o acentuar da retracção económica pondo a culpa nos portugueses, que teriam consumido menos do que podiam...)
Quando a quebra do consumo leva ao aumento do desemprego (consequência natural num tecido empresarial que depende esmagadoramente do consumo interno)... Vítor Gaspar fica desapontado.
Foi assim que, ainda antes de muitos destes episódios caricatos da política portuguesa ocorrerem, me convenci que o alegado «génio» da Economia não percebe nada de Economia (real). A propósito disso, escrevi no Facebook, a 10 de setembro de 2012, o post que a seguir reproduzo.
«É preciso ter estudado Economia muitos anos para não perceber isto...»
Daniel Kahneman e Amos Tversky (dois psicólogos) mostraram em 1979 que, ao contrário das teorias económicas vigentes (em grande medida, ainda agora), os sacrossantos Mercados não são racionais.A teoria foi recebida com escândalo e cepticismo pelos previsíveis guardiães da ortodoxia económica: com fervor, agarraram-se ao dogma e, benzendo-se, maldisseram os ímpios incréus que ousavam entrar no recinto sagrado do Templo e denunciar os seus ídolos de caco e as suas burlas sibilinas.
Às objecções do Sinédrio e da Cúria da Economia, Kahneman retorquiu com ironia: «É preciso ter estudado Economia muitos anos para não perceber isto...»
Para nossa desgraça, a boutade de Kahneman aplica-se, não apenas à teoria económica da racionalidade dos Mercados, mas à generalidade da política económica adoptada em Portugal e por muito desse mundo...
Nota: Daniel Kahneman viria a ganhar o Prémio Nobel da Economia em 2002 (Tversky já tinha morrido, não sendo por isso nobelizável).
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