Pesquisando num dos meus antigos blogues (decesso desde outubro de 2009), encontro um comentário à seguinte notícia do Público de 11/04/2009, meses depois do início da crise financeira em que ainda andamos naufragados:
Pela primeira vez na história, Brasil passa a credor do FMI
“Chique”, “histórico”, “soberano”. Não faltaram adjectivos ao Presidente brasileiro, Lula da Silva, para classificar o empréstimo que o país vai conceder ao Fundo Monetário Internacional (FMI). [...] “Você não acha chique o Brasil emprestar dinheiro para o FMI?”, perguntou a um dos jornalistas presentes na conferência de imprensa. “Eu passei parte da minha juventude a carregar faixas contra o FMI no centro de São Paulo e, agora, serei o primeiro Presidente deste país a emprestar dinheiro à mesma estrutura a quem já devemos muito dinheiro”, enfatizou.
No final desta semana, o Governo brasileiro anunciou que vai disponibilizar 3,4 mil milhões de euros ao FMI, com o objectivo de ajudar países emergentes que enfrentam dificuldades de crédito devido à crise internacional. “Agora estamos a entrar no clube de credores do FMI”, frisou o ministro das Fazenda (Finanças), Guido Mantega.
[...]
Brasil viveu “humilhação”
Depois de décadas a receber visitas de representantes do FMI, o Brasil saldou as dívidas com a estrutura em finais de 2005 [...]. Até essa altura, sublinhou Lula da Silva antes de seguir para a cimeira do G20 em Londres, o país viveu um “inferno”, uma “humilhação”.
“A gente via descendo do avião, no aeroporto, mulheres e homens do FMI dando palpites sobre o que tínhamos de fazer. Aquilo era uma humilhação. Diziam que tínhamos de fazer ajuste fiscal, contenção de gastos... era um inferno”, afirmou.
[...] “Antes da actual crise financeira global, disse o Presidente, o FMI vivia dando palpites sobre as economias do Brasil e de outros países da América do Sul”, assegurou.
Comentava então eu, num post intitulado «Passei metade da vida a lutar contra os “Maus”. Agora sou um dos “Maus”, e sabem que mais? Até que não é mau...» :
Curioso: agora que está no “Clube dos Ricos”, Lula da Silva não explicou se:
- Estava errado quando lutava contra o FMI;
- O FMI tinha razão quando pedia o saneamento das contas brasileiras, e isso ajudou a chegar onde estão hoje;
- A postura do FMI era mesmo errada e ele, agora que tem voto na matéria, vai lutar por um “FMI de rosto humano”;
- Qual quê! Agora que é credor, vai levar aos outros a «humilhação» que o Brasil sofreu antes, dando-lhes palpites a toda a hora...
O cenário dos homens que descem de aviões com palpites indesejados soa-me bastante familiar, pelo que me inclino para a hipótese de que o FMI pós-contributo brasileiro se regula mais pelo princípio expresso na minha quarta alternativa.
Ou talvez eu esteja a ser injusto. Talvez o Brasil, seguindo a promessa do governo de Lula da Silva, tenha dado o tal “rosto humano” ao FMI — mas apenas, como referia a notícia, relativamente a «países emergentes».
Países imergentes, como Portugal, levam a velha receita.
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