Depois do post “Mulher a rezar” revisitei, agora com atenção, os nichos religiosos ao fundo da rampa do Calvário de que já falei algumas vezes. Passo ali todos os dias, de carro ou a pé, mas não tinha percebido que o Cristo coroado e flagelado não carrega a cruz (está agarrado a uma coluna) e que do outro lado é a casa de um Santo António com o Menino ao colo, e não de uma Virgem Maria (embora a de Fátima também esteja presente, num altar subalterno aos pés do franciscano).
Espreitei e vi como ardiam velas em latinhas que parecem de refrigerantes, com gravuras no exterior, vi plantas em vasos que dão aos nichos um certo ambiente de estufa, vi as vassouras que diariamente varrem os pequenos compartimentos, as bisnagas com que se borrifam as plantas e a cerâmica ou o barro pintado das figuras, vi na sua mundana caixa de supermercado o rolo de papel de alumínio de onde saem os fundos que protegem os tabuleiros das velas, vi a prosaica caixa dos fósforos que acendem as velas, vi o saco preto reciclável onde se acumulam as latinhas já usadas — vi, enfim, os bastidores de oratórios ou santuários demasiado pequenos para terem resguardados da vista os produtos e os objectos que revelam a humanidade por detrás do culto.
Decerto não veria nada disso se tivesse ido ali apenas para rezar.
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