Saio à rua e vejo um pequeno desfile que num relance me parece um freak show. Um grupo bizarro de rapazes e homens batendo em tambores, liderado por um sujeito a cavalo e seguido em procissão por meia dúzia de junkies de membros magros e rosto desfigurado. O do cavalo manobra no ar um bastão quase invisível de fino e felizmente inútil (o ritmo já é incerto que chegue assim, sem ninguém obedecer à sua marcação errónea). Cavalga como certas figuras antigas de aldeia, costas arqueadas, queixo recolhido no peito, dormitando ou mal equilibrando a bebedeira. Os que o seguem, com as suas idades, estaturas e bombos sem aprumo nem ordem, imitam demasiado bem uma tropa fandanga que tivesse por uniforme os andrajos desenterrados num saque de aldeia miserável. Atrás do cortejo, os heroinómamos das redondezas, embasbacados e marchando como zombies sem destino.
Depois esfrego os olhos e noto que é apenas um desfile de Carnaval, um que não precisou de investir muito nos disfarces para alcançar aquele efeito. É uma ronda dos arredores que desceu à cidade percutindo bombos e causando pasmo aos junkies do bairro e a mim. Ou só a mim: os junkies nem assistem ao triste cortejo, apenas coincidiram na rua no momento do desfile, a caminho dos seus habituais compromissos inadiáveis.
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