quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Voltar atrás
Publicada por
José Ferreira Borges
Motivo de análise psicológica é a afirmação que
seguríssimas pessoas tecem segundo a qual, se voltassem atrás, fariam
exactamente as mesmas coisas que até à data terão feito. Sendo, ainda por cima,
claro que aquele que atrás voltasse regressaria aí diferente daquele que pela
primeira vez agiu, concluiu-se que a
personalidade de quem assim fala, se não for dada a ludibriar-nos ou a
ludibriar-se, se caracteriza por três aspectos essenciais: nulo arrependimento,
rigor matemático e sólida monotonia.
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Rigor matemático?! Não percebo isso. Uma pessoa que volta atrás e faz exactamente o que antes tinha feito pode ser várias coisas: um chato, um obstinado, um autista, um conservador de primeira, etc. Mas um matemático...? Porquê um matemático e não um enfermeiro? Ou um jornalista? Ou outra coisa qualquer?
ResponderEliminarPenso que ele quer dizer que só a Matemática é uma ciência de facto exacta, pelo que só por meios matemáticos (analíticos) é possível determinar -- logo, afirmar -- de que se regressou exactamente ao mesmo ponto (neste caso, no tempo). Os métodos mais empíricos, que envolvam algum tipo de medição, pressupõem sempre aproximações (logo, erro).
ResponderEliminarPercebo o que diz mas um matemático perceberia que na vida há tantas variáveis e restrições que, pela leis das probabilidades, voltando a um local ou a uma situação algum tempo depois não encontraria as coisas tal como eram antes. A variável tempo teria, certamente, introduzido alterações.
ResponderEliminarInalterações apesar do tempo apenas seriam possíveis em situações conservadas em vazio, não (re)visitáveis.
PS: Já agora, quanto mais convivo com números e com modelos mais me convenço que a Matemática também seria uma ciência de facto exacta se fechássemos o mundo numa câmara de vácuo. Como isso não é possível...
Acho que ele não fala em voltar atrás *no espaço* algum *tempo depois*, mas voltar atrás *no tempo*. Que se saiba é impossível (isso dos 'wormholes' parece-me demasiada especulação), mas é o sentido, creio, que as pessoas, com ou sem arrependimento ou desejos de mudança do já feito, dão à expressão «Se voltasse atrás...»
ResponderEliminarA Matemática é uma ciência de facto exacta. Um logaritmo é um logaritmo, uma exponencial é exponencial, uma lei quadrática é uma lei quadrática.
Outra coisa é a aplicação matemática ao mundo físico. (A Matemática vive bem sem mundo físico.)
Se a queda dos graves segue rigorosamente uma lei quadrática depende das simplificações que se fazem ou não (resistência do ar); se um condensador carrega ou não segundo uma lei exponencial também depende das simplificações que se fazem (impermeabilidade do dieléctrico, etc.).
Antes de mais, agradeço os comentários. Acrescento só duas coisas:
ResponderEliminar- Quando aludo aí ao “rigor matemático”, não pretendo obviamente dizer que a pessoa em questão seria um matemático nem que um matemático teria inevitavelmente as características de tal pessoa.
- Na sequência do que refere o Fernando, o que está implícito é justamente o facto de a Matemática apresentar o modelo de rigor exigido a quem pretendesse fazer “exactamente” o mesmo (como se a vida fosse um percurso que pudesse ser milimetricamente repetido). Claro que a expressão esconde uma pequena ironia, pois uma coisa é dizer que se faria exactamente o mesmo, outra seria fazê-lo de facto.
Olá!
EliminarNão leve muito a sério o que eu digo... Por vezes gosto de me dar ares de discordante apenas pelo gosto de discordar.
Sou muito sensível a conceitos ligados à matemática e acho que há o mito urbano (agora apeteceu-me dizer isto, não ligue) de que a matemática é uma coisa muito objectiva, incondicional, pura. E não é bem assim: tem dias.
PS: Gosto de ler o que escreve.
Faça o favor de discordar!
EliminarGrato pela leitura.