Lá em casa levávamos broncas se numa visita curta a um compartimento ou na passagem por um corredor acendíamos lâmpadas fluorescentes em vez de incandescentes. Estávamos avisados e informados: as lâmpadas incandescentes consumiam mais quando acesas em permanência; as fluorescentes, mais baratas em utilizações prolongadas, custavam caro a acender. Se apenas estávamos de passagem ou íamos entrar e sair, não havia nenhuma boa desculpa para acender lâmpadas fluorescentes. Esse erro agastava sobremaneira o nosso pai, provocando-lhe em certas alturas uma irascibilidade que só viemos a perceber de todo quando soubemos o que era viver com um ordenado que demasiadas vezes não chegava ao fim do mês.
Hoje, num reflexo daqueles tempos, desloco-me pela casa apagando a luz dos compartimentos atrás de mim, mesmo que tencione voltar, enquanto acendo a dos que me ficam no caminho. Por vezes fico às escuras alguns metros, se os interruptores não estão próximos e acho supérfluo iluminar uns poucos passos. Não me perturba este jogo. Como não me perturba ir a pé para o trabalho. O ambiente ganha com isso. Eu gasto menos com isso. Perturba-me que venha a precisar de uma mercearia que venda fiado e não a encontre. Não encontre mercearias de espécie nenhuma. Nem tudo do passado é repetível. No portugalzinho provinciano e comunitário de Salazar era possível levar uma grande lista de compras e dinheiro nenhum na carteira. Os franchises de hoje, mesmo quando apresentam rostos mais simpáticos por detrás da registadora, não têm a mesma confiança na palavra dada. Além de que, suspeito, a companhia da electricidade é hoje mais despida de escrúpulos na hora de definir tarifários.
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