De vezes em quando, o Jumbo põe DVDs de filmes em promoção e desperta o adolescente que há em mim. E o consumidor. (E o idiota.) Aparentemente, filmes a um euro são boas aquisições, mas tendo em conta que a maioria deles não vale um chavo, um euro é na realidade um preço exorbitante. Claro que o puto estúpido que eu consigo ser não se importa nada com isso. Um contentor a transbordar de DVDs é uma visão irresistível. Atiro-me a ele como Ali Babá ao tesouro dos quarenta ladrões (o que, como metáfora, nem é assim tão desajustado, se considerarmos a verdadeira natureza do capitalismo e a quantidade de vezes que já murmurei Abre-te Sésamo em frente às portas automáticas do estabelecimento).
Partilho com Vasco Pulido Valente um vício ou um defeito (apenas um dos muitos que ele tem, ok?): tenho demasiadas vezes uma necessidade inelutável de consumir policiais como narcótico, para distracção da vidinha medíocre. O cronista do Público lê policiais eu vejo policias, se os apanho. E filmes de ETs.
Sempre que o Jumbo faz as suas feiras de um euro, eu encho uma cesta de DVDs. Depois passeio-os pela loja com a alegria de um adolescente ou de um titular de cartão de crédito da década passada, e de seguida, mais responsavelmente do que estes, devolvo a maior parte dos filmes à proveniência (faço uma triagem mental enquanto me abasteço de mercearia). Saio de lá, ainda assim, com meia dúzia deles, geralmente mais seis do que aconselhariam o bom-gosto e o bom-senso.
Nem sempre reconheço para mim próprio o quanto isto é patético. Por vezes trago um Hitchcock ou um galardoado de Cannes para ludibriar a consciência. A comparação com outros prospectores de lixo também me serve de alibi. Ao contrário de alguns tipos que mergulham no contentor como porcos numa manjedoura, numa ânsia de encontrar pérolas que faz transbordar o recipiente, eu vou fazendo a selecção com pinças e torcidelas de nariz, e chego a arrumar o que os outros desarrumam, como se o lixo em montinhos fosse menos asqueroso.
Ontem um dos trash lovers estava em franca competição comigo, mas, vendo-me atrasado no meu falso pudor, teve um gesto magnânimo: ofereceu-me uma das suas melhores descobertas. Aquilo começou por me desconcertar (eu estava a tentar passar despercebido, e não imaginava que me pudessem achar camarada numa coisa destas), e de seguida deu-me ares de superioridade. O tipo tinha-me estendido um exemplar de “A Super Patrulha” (“Crime Busters”), com Terence Hill e Bud Spencer, e por alguma razão eu achei, com uma risadinha snob, cretina, que a merda que levava no carrinho de compras se não comparava àquilo.
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