sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Jogada de antecipação

Vítor Gaspar, o 'Ditador das Finanças'

É verdade que, se aos Presidentes da República também coubessem cognomes, o de Cavaco Silva seria (como já alguém disse) «O Presidente Que Não Conta» — mas o “Ditador das Finanças” escusava de assumir isso e antecipar-se à promulgação presidencial...

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

«Foda-se lá o nome!»

Folha com a lista (algo incompleta) dos nomes propostos para o blogue

Iria, pois, haver um blogue. Se fosse o primeiro blogue do mundo, poderia chamar-se apenas «blogue», marcando a entrada do neologismo no léxico — mas não era, pelo que tinha de ser encontrada uma alternativa viável.

Nos dias seguintes, por e-mail, chat, mensagem de Facebook ou SMS, fomos coleccionando propostas, das basicamente banais às requintadamente rebuscadas, das potencialmente pedantes às assumidamente alarves. (Algumas eram aliterativamente gerúndicas.)
Para além do processo de “peer review” por que cada proposta passava [e as aliterações continuam], a escolha foi desde logo condicionada pelo mais plebeu dos pragmatismos dos tempos que correm: a preexistência de um blogue com nome igual, ou muito parecido, e a (in)disponibilidade do endereço web que, para cada nome considerado, nos pareceria mais adequado.

Digamos que foi uma empreitada digna de desalentar Sísifo: foram testados mais de 80 nomes, alguns em desespero de causa. Desses, quase 50 (e todos os nossos preferidos) já estavam tomados. Suprema maldade: 26 deles, apesar de criados há bastante tempo, tinham 5 posts ou menos, incluindo 11 só com um post e 7 sem nenhum! Um quarteirão de blogues criados apenas para nos desfeitear.
Um de nós expeliu, em tom de desabafo: «Foda-se lá o nome!» Era uma boa sugestão, com a extensão do título a aconselhar o recurso, no endereço web, a uma sigla (flon): também estava tomada, tal como o estava a da variante «Foda-se lá p’rò nome!» (flpn). A versão abreviada (e multiusos) «Foda-se!», com ou sem hífen, também já não era opção disponível.

Era evidente que nisto dos nomes nos ocorriam apenas coisas óbvias, e que qualquer veleidade a golpe de génio se revelava logo já ter surgido a outro “génio” antes de nós. Eis, pois, o momento de citar Fernando Pessoa — para mostrar que, se não nos brota nada de jeito (da boca ou da pluma), pelo menos sempre vai dando para ler algo de jeito:

[...] Já o Chevalier de Cailly perguntava, no século [dezoito], dado que sempre que escrevia qualquer coisa, descobria que a Antiguidade a já havia dito, por que não teria essa tal Antiguidade vindo depois dele, pois então teria ele escrito primeiro.


Esta história tem um post-scriptum: tal como na política nacional, a decisão final foi feita democraticamente, por voto secreto, tendo o “eleitorado” à disposição um rol de más opções. Habemus Bloguem!

Ora aí está, mais um blogue...

Ora aí está... Mais um blogue... Ainda por cima, super divertido!

EDITORIAL: A montanha pariu um rato, talvez

Andámos meses para marcar um jantar e nunca o conseguimos. Quer dizer, temo-nos encontrado aqui e ali, alguns de nós até assiduamente. Três trabalham juntos. Mas marcar um jantar em que todos pudessem ou quisessem estar foi uma impossibilidade. Jantámos quatro dos seis arregimentados. Não foi mau. Quase 70%. Houve quórum. Maioria qualificada. Quase mudámos a Constituição.
Meses antes, numa conversa de bêbados, dois de nós desataram a chorar ao balcão que era uma tristeza que não se tivesse feito mais nada depois «daquilo». Havia uma crise e falências e encerramentos e um recuo como nunca víramos. Agora é que «a coisa» fazia sentido. «A coisa» ou um sucedâneo que não envergonhasse. De resto, era notável como nos últimos tempos se vinha invocando o nome da «coisa», velhos seguidores nostálgicos que se davam a conhecer e gente nova que a descobria com espanto. Naquela noite, os dois despediram-se com abraços apertados, ranho no nariz e promessas firmes de pensar em alguma… coisa. (Não havia muita imaginação disponível nem para substantivos.) Depois foi cada um para sua casa, tentando não cambalear demasiado, e nas semanas seguintes espalharam a Boa Nova.
Houve então conversas ocasionais, alargadas e entrecruzadas (e muito espaçadas), onde os argumentos contra eram sempre mais fortes e sensatos. Mas nem assim a ideia se desvaneceu, como mandava a inteligência. Quando um desistia, outro insistia, num dilatado processo de contrabalanço que poderia muito bem ser representando por aquela cena famosa da ginástica sueca no Pátio das Cantigas com Vasco Santana e Ribeirinho. Cómico e ridículo dessa maneira.
Uma das últimas tentativas de esconjuro foi escrita como uma súplica no blogue Os Canhões de Navarone — e teve o efeito contrário. Aumentou a pressão para jantar.
O repasto teve então lugar e o mais relevante da noite foi ter-se descoberto que alguém agora conduzia um Qashqai. À mesa, além do proprietário do SUV, havia um recém-licenciado em Línguas-Literaturas-&-Mais-Qualquer-Coisa, um engenheiro com delírios de designer gráfico e um antigo baixista de arraiais populares. Fez-se um jogo que consistia em escolher os cinco nomes menos maus de uma lista de trigésimas escolhas. A aposta era elevada. Foi então que a montanha pariu um rato. Tanta evocação, tanta assertividade e tanto vinho para isto a que o leitor agora chegou: à sobremesa estava decidido que em sucessão da coisa Periférica, como sói acontecer com as vedetas rock, se faria um reunion blog e algum alarido à volta dele. Um tédio, portanto. (O nome pode não ser brilhante mas é eloquente.)

Iniciação ao tédio é então um blogue que, não correndo mal, reunirá as composições individuais dos antigos membros dos Duran... da Periférica espalhadas pelo Facebook, pelos blogues Divina Comédia, Grafismo Sem Rede e Os Canhões de Navarone, ou pelo espaço aéreo nacional. Correndo bem, Iniciação ao Tédio fará isso e porá no activo os mais adormecidos dos bandmates. No mínimo, o leitor poupará alguns cliques se quiser seguir regularmente os blogues mencionados. (Um contributo nosso para a prevenção de tendinites no indicador, esse flagelo moderno.) No máximo, assistirá ao prelúdio de algo que lançará sombras sobre a Granta que o Carlos Vaz Marques prepara sem contar connosco. Não nos falta ambição, como se vê, apenas noção do ridículo e força para sair do sofá. De onde, de resto, se vê distintamente a cidade e os portuguesitos a correr de um lado para o outro na sua azáfama, como ilustra a imagem do cabeçalho. Será particularmente para eles e sobre eles este blogue vermelhusco. Desfruta, nobre povo.

P.S. Convém frisar que, como o nome indica, se trata apenas de uma iniciação ao tédio. Para tédio mais desenvolvido, há que procurar outras moradas.