Eduardo Cunha é aquilo a que poderíamos chamar um «preservativo político»: dá jeito quando é preciso foder alguém, mas, terminado o serviço, o destino é o caixote do lixo.
terça-feira, 13 de setembro de 2016
sábado, 9 de janeiro de 2016
Cortesãos de esquerda
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
Cinismo à portuguesa
«Tudo o que é demais enjoa, e ainda mais quando se faz vida disso. Se ninguém [o] refuta é precisamente porque o cromo se tornou inofensivo por ridículo.»
«Paulo Morais (…) exibe a sua mania da corrupção, de uma maneira insultuosa e quase alucinada.»
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
Crise da imprensa: os meus contributos
sábado, 7 de novembro de 2015
Malcolm Gladwell: «Párias, Símbolos e Pioneiros» (palestra)
Malcolm Gladwell, colaborador permanente da revista The New Yorker, deu em 2013 uma interessantíssima (e longa...) palestra sobre uma das formas mais surpreendentes como as classes dominantes garantem a manutenção da sua condição de privilégio.
Gladwell centrou-se particularmente na discriminação das mulheres — na política, na arte, na vida em sociedade em geral —, discriminação que por vezes se mantém, mesmo quando aparentemente a porta se abriu para elas...
(Outro tema importante é o do anti-semitismo.)
O argumento é ilustrado com dois exemplos paradigmáticos: o da pintora inglesa Elizabeth Thompson (1846–1933) e da ex-primeira-ministra australiana (2010–2013), Julia Gillard.
Esta palestra fascinou-me desde que a vi pela primeira vez. Há 2 meses ganhei coragem (e aprendi o procedimento técnico) para traduzi-la e legendá-la.
Uma outra palestra, do mesmo autor e do mesmo ano, centra-se na história de uma das mais importantes sufragistas americanas, Alva Vanderbilt (também conhecida como Alva Belmont) e das razões que levaram esta insuspeita mulher — milionária e privilegiada — a lutar contra o sistema estabelecido.
Infelizmente, quando comecei o longo processo de tradução e legendagem (levou-me 50 dias...), não sabia que havia quase a estrear um filme sobre o movimento sufragista.
Por isso, escolhi começar pela palestra sobre a pintora. Talvez daqui a 50 dias tenha o outro, sobre a sufragista, pronto...
segunda-feira, 5 de outubro de 2015
PAF: Violência doméstica
A noite foi passada — por jornalistas, comentadores e políticos no activo — a avançar teorias sobre a razão de o eleitorado ter mantido a coligação PSD/CDS como maior força política (ainda que fragilizada face a 2011), mesmo após tanta austeridade e tanta queixa popular por causa da austeridade.
Confesso: de facto quase não assisti à noite eleitoral, pelo que quando digo que a noite foi passada nisto, estou em verdade a lançar um palpite. Mais: avanço mesmo que, de entre todas as teorias apresentadas, nenhuma se aproximou realmente da verdade. (Que é, claro, a que de seguida aqui apresento.)
Tantos eleitores renovaram o voto de confiança na coligação que nos governou nos últimos quatro anos pela mesma razão que tanta mulher vítima de violência doméstica volta para a casa onde ainda vive o marido que as violentou.
Como “Zé Povinho” não é nome que caia bem nessa personificação feminina do eleitorado português, chamemos-lhe “Maria Tuga”.
Dá quase para vê-la, mas não consigo dizer o que veste ou que traços físicos tem, pois tudo em que reparo é no olho negro (fruto de uma queda das escadas...) que a custo a maquilhagem disfarça.
E dá perfeitamente para ouvi-la, enquanto fala com a vizinha:
«É, voltei para o meu homem, que é que se havia de fazer?... Sim, ele é um pouco bruto, insultou-me uma e outra vez, até à frente dos miúdos, bateu-me vezes sem conta — mas a verdade é que eu estava a pedi-las... quase sempre, sim. Pus-me a jeito. No fundo, no fundo, lá naquele modo abrutalhado dele, ele ama-me. Tudo o que faz é para o meu bem. Bate-me, sim, bate-me, já o admiti. Mas depois é sempre super-carinhoso. Já sabe como é: o melhor sexo é o das reconciliações...»
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
Não brinquem com números, respeitem os deputados!
(Pensando bem, não respeitem — se não merecem.
Mas respeitem os números, esses sim, respeitem sempre!)
No Facebook, um amigo partilhou ontem uma imagem que, segundo quem a postou originalmente, «Não precisa de qualquer tipo de comentário. Está tudo lá escrito.».
Pois, simplesmente não está, de facto, tudo escrito: o autor da imagem “esqueceu” alguma informação, nomeada e convenientemente, aquela que destrói em absoluto a “teoria”, expondo a falácia.
Esqueceu-se, por exemplo, de dizer que o sistema parlamentar australiano comporta duas câmaras: a Câmara Baixa (Casa dos Representantes), com os tais 150 membros, e a Câmara Alta (Senado), com 76 membros. Isto perfaz um Parlamento nacional com 226 membros, quase o mesmo que Portugal (sistema unicameral).
Mas ainda há mais: a Austrália é um estado federal, dividido em 6 estados e 2 territórios. Cada um desses estados/territórios tem o seu próprio Parlamento, que na maior parte dos casos tem duas câmaras. Vejamos:
- Austrália do Sul: 47 membros da Câmara Baixa (CB) + 22 membros da Câmara Alta (CA) = 69
- Austrália Ocidental: 59 (CB) + 36 (CA) = 95
- Nova Gales do Sul: 93 (CB) + 42 (CA) = 135
- Queensland: 89 membros (Câmara única)
- Tasmânia: 25 (CB) + 15 (CA) = 40
- Vitória: 88 (CB) + 40 (CA) = 128
- Território da Capital: 17 membros (Câmara única)
- Território do Norte: 25 membros (Câmara única)
Isto quer dizer que o total de parlamentares na Austrália, entre nacionais e “regionais”, é de 824.
Quanto a Portugal, para além dos 230 deputados nacionais, tem 57 deputados regionais nos Açores e 47 deputados regionais na Madeira. Isto perfaz 334 parlamentares.
Ou seja, o número de parlamentares australianos é quase 2,5 vezes o de Portugal — embora “só” tenha o dobro da população.
(Como diriam os famosos cartazes: não brinquem com os números.)
O problema de Portugal não está no excesso de deputados — mas na sua qualidade. E, já agora, na dos eleitores também.
segunda-feira, 9 de março de 2015
1. O zelota
2. O cordeiro de Deus
3. O ridículo
terça-feira, 3 de março de 2015
Passos Coelho e o problema do literalismo reducionista
A revelação de que Pedro Passos Coelho deveu cinco anos de contribuições à Segurança Social, e que só quando o Público levantou a lebre é que o primeiro-ministro pagou parte (!) dessa dívida, gerou dois tipos de reacções: a dos membros do Governo e estruturas do PSD, lestos a encontrar culpas alhures, e a das pessoas com algum sentido de verdade.
As reacções governamentais e afins não comentarei para lá de dizer que, está visto, não há limites à falta de vergonha. (Eu é que ainda tinha ilusões neste particular.) Quanto às restantes, venho aqui pôr-lhes um embargo, passando desde logo por cima de apodos como «caloteiro», que me parecem apoucadores da discussão.
Alegou Passos Coelho que «não tinha consciência» de que as contribuições para a Segurança Social eram obrigatórias. Esta estranha “defesa” foi recebida, unanimemente e bem, com a recordação de um princípio fundamental do Direito: o desconhecimento da Lei não obsta à obrigação de a cumprirmos — ou em tudo se alegaria ignorância e siga a festa! Mas aqui surgiu uma divisão: entre os que descartaram tal alegação como pura mentira (como poderia um político profissional, ex-deputado, desconhecer o mais básico das suas obrigações legais?) e os que classificaram de inadmissível que tamanho ignorante desempenhe cargos públicos, para mais que encabece o Governo.
Disseram alguns destes últimos que já desconfiavam que Pedro Passos Coelho subira nas estruturas partidárias, não por mérito, mas por uma cuidada mistura de servilismo, clientelismo e compadrio, a que haveria a somar uma cara laroca para fazer boa figura nos cartazes de campanha: mais do que timoneiro, o primeiro-ministro seria o “poster boy” dos demolidores do Estado. A admissão de ignorância permitiria também contextualizar a insensibilidade de um primeiro-ministro que, em Setembro de 2012 (quando já sabia ser devedor à Segurança Social), veio anunciar um brutal aumento da Taxa Social Única a pagar pelos trabalhadores: Pedro Passos Coelho simplesmente «não tinha consciência» do que estava a falar — para ele não seria clara a diferença entre TSU e RSU, tal como, acrescentavam alguns, entre BCE e BCG...
Admitindo alguma verdade no diagnóstico expresso no parágrafo anterior, venho aqui deixar o meu embargo: mais do que da ignorância pura e dura, Pedro Passos Coelho foi vítima de uma ignorância (ou incompreensão) mais subtil, que designarei «literalismo reducionista», abrindo de seguida parênteses para, com um exemplo, deixar claro em que consiste tal conceito.
[Na minha infância, no Pátio das Cantigas, existia um grande tanque ao ar livre, pertencente à cerca do antigo Convento de São Domingos. Esse tanque era o local de eleição para a desova de dezenas de rãs, de que nasciam, para nosso fascínio de crianças, centenas de girinos que designávamos “peixes cabeçudos”.
Lembro-me que a certa altura começaram a surgir quantidades apreciáveis de girinos mortos. Fui rápido a apontar a suposta causa: tendo o tanque sido limpo pouca semanas antes, os anfíbios morriam à fome, por falta das algas a que chamávamos “lodo”. E tão certo estava do meu diagnóstico que, tendo aprendido havia pouco a escrever, logo fiz questão de comunicar por escrito à minha irmã as minhas conclusões quanto a tão preocupante hecatombe: «Os peixes cabeçudos estão a morrer porque não à lodo.» Assim mesmo, com «à» em vez de «há».
O bilhetinho foi lido pelo meu pai, que logo me chamou a atenção:
— Fernando, então já não te dissemos que quando há ou existe se escreve com agá, e que só nos outros casos é que é sem agá e com acento para trás?!
— Pois é, Pai, mas neste caso não há lodo!
De facto, conforme era visível no meu bilhete, eu inicialmente escrevera «há», mas, atendo-me literal e redutoramente à noção de que assim, com agá, era só e só quando havia algo, tinha riscado a palavra correcta e escrito «à» por cima.]
E assim voltamos à «falta de consciência» de Pedro Passos Coelho de que, enquanto consultor da Tecnoforma, estava obrigado a pagar contribuições sociais.
Ao contrário do que alguns, inegavelmente mal-intencionados, afirmaram, o primeiro-ministro não ignorava tout court a obrigatoriedade de os trabalhadores independentes contribuírem para a Segurança Social. Em boa verdade, Passos Coelho, caindo como o eu da minha infância no erro do literalismo reducionista, simplesmente acreditava estar isento: na sua inocente interpretação da letra da lei, tais contribuições obrigatórias aplicavam-se exclusivamente aos detentores de rendimentos do trabalho — e a sua colaboração com a Tecnoforma configurava um tacho.
P. S.: É também falso que Pedro Passos Coelho não saiba a diferença entre TSU e RSU, ou entre BCE e BCG. O primeiro-ministro sabe bem a diferença: em ambos os casos, «uma letra».
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015
João Miguel Tavares segrega pessoas de estatura mediana
«Neste novo “alto” poderíamos incluir tanto a habitual casta económica e política, como os detentores de privilégios corporativos, os burocratas que dificultam a livre iniciativa ou os especialistas na arte de fugir aos impostos; enquanto no novo “baixo” poderíamos colocar não só os pobres, mas também os reformados que se sentem espoliados, os jovens que nunca conseguiram um emprego, e todos aqueles que vêem a sua ascensão social dificultada pelas mais variadas redes de interesses que dominam os estados contemporâneos.»
O Brecht dos bons observadores
«Quando financiamos uma peça de Brecht de um qualquer encenador que jura que a cultura deve ser financiada por todos nós, podemos estar a reduzir os recursos disponíveis para mais um tratamento que possa salvar mais uma vida. E sacrificar a vida de uma criança é um preço demasiado elevado a pagar.»*
domingo, 6 de julho de 2014
É caro e ineficiente manter o interior: encerra-o e deita fora a chave
sexta-feira, 20 de junho de 2014
O Tua e a sua canção (ou)vistos pela nova direita
segunda-feira, 16 de junho de 2014
Problemas de habitação, no centenário de Sarajevo
«Aquilo era uma casa europeia habitada por uma família inteira no início do século XX, mas fazia-me lembrar as choupanas com que me deparava frequentemente na África rural. O princípio era exactamente o mesmo: um chão de terra batida numa habitação construída com paredes de pedra, sob um telhado feito de madeira, colmo ou ramos apanhados localmente. Uma taxa de mortalidade infantil que podia matar seis dos nove filhos da família Princip soava mais a África do que a Europa. O mundo desenvolvido podia desesperar perante os problemas sistémicos da África moderna, mas estar ali, naquele jardim de Obljaj, ensinou-me como grande parte da Europa estivera recentemente em situação similar.»*
* A partir do muito interessante excerto de O Gatilho, de Tim Butcher, publicado na LER de Junho.
sexta-feira, 13 de junho de 2014
O fanico de Cavaco
De resto, depois de, por exemplo, a sua tirada sobre a reforma que aufere, a empatia que as pessoas eventualmente sintam pelo ser humano que ele é será sempre mérito da bondade delas — nunca efeito dos actos dele.
segunda-feira, 26 de maio de 2014
Auspícios
Raramente ou nunca as eleições em Portugal são auspiciosas. Mas como haveriam de o ser se depositamos o nosso voto em urnas?
Marinho e Pinto
Marinho e Pinto é talvez o José Manuel Coelho destas eleições. Mas tem de se apressar se quiser ser o primeiro a desfraldar a bandeira nazi no parlamento europeu.
sexta-feira, 23 de maio de 2014
Dilúvio
Há duas relevantes estratégias para superar os embaraços desencadeados pelos silêncios da vida social: uma delas consiste em fazer alusões ao estado do tempo; outra, em tecer comentários ao estado a que o país chegou. Existem, no entanto, fórmulas que as sintetizam a ambas. Eis um exemplo, saído de voz tonitruante: «Isto vai tudo acabar em dilúvio!» Trata-se de uma sentença universal, capaz de corrigir qualquer silêncio. Ao invés do dilúvio — que não permite emendar grande coisa.