Afirma um estudo recente que aos 38 anos (em média) o homem se torna igual ao seu pai: adormece no sofá, ri das piadas próprias, etc. A figura do progenitor, no entanto, constitui aqui um mero artifício retórico: aos 38, o indivíduo entra no «campo dos velhos» — particularismos genéticos são irrelevantes. Uma tal conclusão, bizarra e totalitária, até dá vontade de adormecer no sofá, de rir das piadas próprias — e das anedotas que estudos assim involuntariamente representam.
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quarta-feira, 30 de abril de 2014
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
O homúnculo
Publicada por
José Ferreira Borges
Embora mãe há vários anos, acredita que os filhos vieram inteiros do marido, passaram uma temporada a crescer dentro dela e abordaram a luz na altura certa. Trata-se de uma versão da antiga conjectura de que existia um homúnculo no interior do espermatozóide. Tento apresentar-lhe uma explicação alinhada com a ciência. A tarefa revela-se penosa. Nunca será sem choque angustiante que se desiste da ideia de que os machos são demiurgos por natureza e homicidas por distracção.
domingo, 25 de agosto de 2013
Clonar John Lennon
Publicada por
José Ferreira Borges
Um dentista pretende clonar John Lennon a partir do ADN de um dente que possui do célebre músico. Subjazem a este tipo de fantasias a crença feroz no determinismo genético e o inaceitável menosprezo da noção de «identidade pessoal». A circunstância vivida pelo clone será irremediavelmente outra; outra será também a criatura lançada a viver a nova circunstância. Com base em sugestão antroponímica, diremos que talvez seja possível clonar o John; mas é impossível clonar o Lennon.
domingo, 21 de abril de 2013
Hereditariedade e meio
Publicada por
José Ferreira Borges
Em fatigantes investigações, buscam saber os cientistas se o «que somos» é resultado da hereditariedade, do meio ou das duas coisas em simultâneo. Esquecem uma quarta alternativa: a de que sejam antes a hereditariedade e o meio o resultado do «que somos». Tal hipótese, de índole metafísica, não pode, claro, ser testada com recurso ao método experimental. Mas ela permite, pelo menos, amainar o furor de alguns exclusivismos cegos e questionar as propostas de certos interaccionismos vazios.
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