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terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Crise da imprensa: os meus contributos

A minha relação com a imprensa no último ano não tem contribuído nada para a sua saúde económica. Deixei de comprar o Público quando me incutiram a sensatez de considerar um euro e sessenta e cinco dinheiro a mais para um jogo de Sudoku (só comprava ao fim-de-semana, o baixo nível de dificuldade dos jogos de segunda a quinta não era estimulante). A única outra razão que me fazia (e faz) comprar o jornal era o suplemento Ípsilon. Há alguma possibilidade de entusiasmo e fascínio nas artes que não encontro no quotidiano político e social do país, na sua nefasta e maçadora previsibilidade. Sem me atrever a uma reflexão como a da Alexandra Lucas Coelho, julgo que, se o jornal diminuísse drasticamente o número de páginas e colunistas dedicados à vidinha e transformasse em caderno diário o Ípsilon, o número de compradores aumentava. Não subestimem a quantidade de pessoas que se está nas tintas para o futuro de Paulo Portas e dispensa a redundância de quotidianamente lhe darem as mesmas más notícias sobre o seu próprio futuro. Há, apesar de tudo, mais efervescência e diversidade na literatura, no teatro ou na música do que na vida da república. Desta, um resumo mensal dificilmente deixaria de fora qualquer novidade. Aliás, um almanaque anual ao género do Borda d’Água, com as suas tabelas de ciclos e reiterações e os mesmos provérbios e mezinhas, seria suficiente periódico nacional.

sábado, 14 de junho de 2014

LER

Durante anos, uma das minhas maiores alegrias era folhear jornais e revistas novos ou reformulados. Gostava tanto de bons textos quanto de bom (e novo) grafismo. Por isso não resisti à extravagância financeira de comprar a “nova” LER. (Há leitores deste blogue que julgam ser uma boutade o meu lamento por no último ano e picos não ter estado à altura dos cinco euros da revista. Pois saibam que hesitei em pagar o euro extra que agora custa e me não estava a ser pedido pela tabacaria, cujo sistema informático ainda considerava o preço antigo. Fui honesto, alertei o funcionário — e vim todo o caminho a chorar a minha inadequação idiossincrática ao capitalismo sem pruridos ora vigente. Sou um cândido.)
Lá dei os seis euritos, portanto, apaziguando-me com a ideia que seria um luxo trimestral que a troika certamente toleraria. O regresso à trimestralidade está, de resto, também de acordo com a minha actual disponibilidade de tempo (disputada, contudo, pela Granta, cuja assinatura um anjo partilhou comigo).
Bem, queria era dizer que gostei bastante desta LER (estava só a ver se adormecia os editores antes de chegar aqui, mas talvez nem fosse necessário, estão certamente distraídos com o Mundial). Ao pegar-lhe senti o mesmo tipo de textura, maleabilidade e excitação que sentia há trinta anos com um Disney Especial — e isto é um elogio.

Depois vou ler.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Revista de imprensa e blogosfera

Os conservadores, como aquelas pessoas que encaixam a realidade nas previsões do Zodíaco, discutem entre si de que forma a sua bibliografia muito culta e cool explica a actualidade. Para fingirem solidariedade social, concedem que se dê uma atençãozita ao trabalho de Thomas Piketty sobre a desigualdade económica. Vasco Pulido Valente, pelo seu lado, foi ler mais um livro de história da I Guerra Mundial que explica, claro, como o Estado Social e qualquer forma de socialismo são insustentáveis. Os comunistas à antiga andam excitados com as conquistas da Rússia e repetem para si mesmos que são direitos e benfeitorias. Putin, vê-se pelas fotos do fim-de-semana, anda literalmente inchado de orgulho com o sucesso das suas campanhas (há quem diga que é botox, mas são calúnias, macho russo não estica o rosto, é ilegal). Na Coreia do Norte, diz-nos um jornalista da Lusa, afinal não se deitam os tios aos cães e há liberdade de penteado (que é, como se sabe, um requisito mínimo para a liberdade de pensamento, que sob o couro cabeludo se abriga). Já só faltam 76 dias e a Europa parece mais bem preparada para o centenário de Sarajevo do que o Brasil para o Mundial de Futebol.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

E os cortes continuam...

El inMundo: Tu periódico de siempre, ahora mucho más in (ofensivo) -- (Prosiguen los recortes...)


Inspirado pelo post do Rui.

O caso El Mundo ou os dias contados da imprensa séria

O El Mundo trouxe à luz do dia os casos Bárcenas (financiamento ilegal do PP, partido do Governo em Espanha) e Urdangarin (escândalo de corrupção protagonizado pelo genro do Rei).
Os accionistas de El Mundo, inesperadamente, afastaram Pedro J. Ramírez da direcção do jornal que fundou.
Diz-se por todo o lado, e é difícil achar falso o estrepitoso rumor, que o afastamento surge por pressão do Governo espanhol e da Casa Real.
Longe vai o tempo em que havia tipos de dinheiro a investir em projectos de jornalismo de investigação em vez os dificultarem. Em Portugal, o dinheiro disfarça-se de mecenas para pagar umas reportagens de cariz histórico ou cultural (as do Público Mais). São interessantes e aliviam a consciência de todos os envolvidos: investidores, jornal e leitores, que assim podem assistir impávidos ao definhar da investigação.
Apesar de injusto (numa primeira fase) para os restantes jornalistas de El Mundo, os leitores do jornal deveriam boicotá-lo a partir de hoje. Doutra maneira, será cada vez mais difícil haver imprensa independente e ousada, condição essencial das democracias.
Mas não tenho muita fé em atitudes drásticas por parte dos leitores. Em Trás-os-Montes, o único jornal que conheci que de facto fez jornalismo (o Semanário Transmontano) terminou um dia por cansaço sem que se ouvisse um queixume em todo o “reino maravilhoso”.
Na península (e não só nela), o conluio entre o dinheiro e os poderes ainda tem muitas ofensivas para fazer antes que o povo perceba o que perde perdendo a democracia. E a democracia perde-se quando se perde o jornalismo de investigação. Continuem a iludir-se com o jornalismo cidadão e tretas afins.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Praxes

Julgo por vezes que ninguém que mereça respeito intelectual simpatiza com o mundo idiota e perigoso das praxes universitárias. O que é que isto significa? Que tenho uma visão restrita das pessoas que merecem respeito intelectual? Talvez. Sou um sentimental, mas não confundo afecto e piedade com admiração. Não acho inteligentes ou iluminadas todas as pessoas que amo ou por quem tenho compaixão. Neste tempo de dificuldades, por exemplo, apiedo-me do país, mas continuo a não o ter lá assim em grande consideração. O país aceita as praxes — eu tenho pena do país também por isso.
O que acho mesmo que isto significa é que ninguém respeitável do ponto de vista intelectual tem poder ou, tendo-o, o quer exercer contra a imbecilidade geral. Isto significa também que à frente de uma parte das universidades, como do país, estão idiotas, comodistas ou cobardes.
A natureza estupidificante e fascizante das praxes universitárias está há muito identificada. Num mundo de adultos, ou num mundo de gente decente e culta, a sua abolição tinha ocorrido há muito, sem dramas, com a veemência célere e inelutável dos gestos necessários e consensuais.
Acontece que Portugal não é nenhum desses mundos. O poder dos reitores e o poder da gente decente e culta é limitado. O respeito intelectual é uma daquelas coisas obsoletas, como a palavra de honra ou a honestidade. Quem o merece, torna-se geralmente clandestino, por segurança. Como nos media e na rua, a indigência intelectual sequestrou o que resta de inteligência e cultura no campus. Os reitores são tolerados no seu posto — não exactamente respeitados ou obedecidos. Os professores não contam, e muitos deles são suficientemente cultos e intelectualmente respeitáveis para abominar as praxes.
No mundo de anedota que é Portugal, os próprios jornais de referência identificam um rapazola qualquer como «ex-responsável pelo conselho de praxes». Notem-se os termos, a sisudez e a gravidade dos termos: «ex-responsável» para definir um ex-cabecilha de uma comandita vocacionada para a galhofice e a humilhação. Como se houvesse naquela figuras alguma ponta de responsabilidade no sentido institucional ou ético do termo. Como se com frequência aquela responsabilidade não fosse meramente do âmbito do Código Penal. E «conselho de praxes», assim, embrulhado em respeitabilidade, em seriedade, como se os adultos dos jornais se empenhassem na brincadeirinha das crianças, sorvessem cerimoniosamente o chá que não está nas chávenas, mastigassem convictos e censurando-se as cólicas a lama dos bolinhos que as crianças lhes dão a comer.
Que a rapaziada nos seus divertidos e irresponsáveis vinte anos crie «conselhos» e nomeie «responsáveis», determine «códigos» que regem a companhia alegre, compreende-se — quem não quis ter na adolescência um clube secreto ou uma casa na árvore? Que os adultos de um país, os seus jornais, as suas instituições e os seus líderes não ponham limites à brincadeira é caso para levar a nação ao divã de Freud ou a internar no Conde Ferreira. Se houver verba. E vagas.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Bruteza

No dia em que o JN noticiou a morte de Nadir Afonso, a sua manchete cumpria a rotina de informar em letras garrafais sobre um novo assalto ou um novo crime. Para o pintor ficou um quadradinho. Sendo inadequado ter vergonha do JN (porque não sou seu comprador nem seu accionista), tenho vergonha do país que o engendra. E quero que se foda a conversa sobre o país real. Um país, seja ele real ou imaginário, devia ter limites para a bruteza.

domingo, 17 de novembro de 2013

A manchete do JN

Ainda não percebi se o vizinho do rés-do-chão deixa quotidianamente o jornal à sua porta depois de o ler ou se lho entregam tarde e ele apenas o recolhe no dia seguinte. Seja como for, todos os dias leio a manchete do JN ao regressar a casa — e, graças sejam dadas aos cinquenta e quatro degraus que entretanto venço, todos os dias a tenho já esquecida quando entro em casa.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Quim Barreiros dirige JN por um dia

Ao que parece, o Jornal de Notícias apresentará uma excelente prova de bom gosto como manchete de amanhã (hoje, para a maior parte de vocês). A tentação é culpar o jornal, mas um jornal não existe sem leitores. O Norte, e não só o Norte boçal, tem defendido teimosamente o JN como o “seu” jornal, apenas porque o pasquim inclui mais páginas de noticiário regional, mesmo que irrelevante. Os empresários e as luminárias do Norte sempre preferiram a noticiazinha paroquial, ainda que medíocre, a uma informação decente. As mesas de café, os consultórios de dentista e todos os velhos solares acima do Mondego revestem-se de JN. Não sei porque se queixam de o Norte ter perdido influência. Parece-me que disputamos bem o primeiro lugar ao Correio da Manhã no que toca a irrelevância ruidosa e grotesca.

(Isto faz-me lembrar como, à escala provincial, os transmontanos preferiram deixar morrer o Semanário Transmontano, o único jornal digno de prelo que aqui conheci.)

domingo, 9 de junho de 2013

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Personagens incríveis: Maria Teixeira Alves

Há pessoas que pensamos que não existem, são mera ficção hilária. Maria Teixeira Alves, jornalista, blogger e depósito de preconceitos, é uma delas. Pela forma como escreve e argumenta, é um permanente atentado à língua e à inteligência. Mas isso não a coíbe de dividir os jornalistas em duas classes para criar o seu próprio pedestal: os engajados e os que têm «muito» mérito. «Acho que é fácil perceberem porque continuo a ser jornalista», diz ela sem rebuço.
Leia-se esta pérola:

«Os ignóbeis socialistas e bloquistas vão levar amanhã mais uma vez a adopção de crianças por duas pessoas homossexuais do mesmo sexo que vivam juntas, ao Parlamento. Não se enganem, todas as manifs, todos os Grandolas Vilas Morenas, todos os Galambas e Dragos, todos os actos de terrorismo de interrupção de membros do Governo em actos públicos, têm um único objectivo "dar crianças aos homossexuais".»

A senhora não é uma figura patusca do Portugal profundo, é jornalista do Diário Económico e escreve no Corta-Fitas. Para uma risada mais cómoda, pode ser lida no seu próprio blogue, humildemente intitulado Farpas. Mas atenção: Maria Alves avisa que escusam de ir lá insultá-la, porque ela não dá cobertura a insultos. Não precisa. Como alguém comentou algures, a sua retórica insulta-se a si própria.

domingo, 12 de maio de 2013

Gostar de ler

«Gosta de ler?» A resposta, se afirmativa, culmina frequentemente na aceitação do estéril pasquim, da revista paupérrima, do livro que pede clemência pelo simples facto de existir. Pior é se a isto se junta a obrigação social da leitura. Ora «gostar de ler» não equivale a «gostar de ler tudo». Se ambas as partes tiverem em conta este genuíno preceito relativamente ao exemplar em causa, talvez lhe adiem o ingresso no contentor — ou noutras filiais do esquecimento.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

3. (Ainda o João Miguel Tavares)

Afinal a saída de Pedro Lomba da última página do Público não devolveu um moderado de direita àquela secção do jornal, oportunidade que referi há dias por ironia descrente ou cinismo. Pelo contrário. Desconfio que a mudança até fará empalidecer Vasco Pulido Valente (colunista que, embora por conveniência a uma velha historiografia in progress, até já aceita haver no aprofundar da crise europeia um dedo ou pelo menos uma alegria alemães; que talvez a Deutschland não seja sempre apenas um território de dignos e inquestionáveis credores).

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Público e notório

1.
Uma apologia: «auto-suficientes no vinho e na cerveja.»

2.
Um epitáfio: «apenas auto-suficientes no vinho e na cerveja.»

3.
Um jornal cujo problema talvez já não seja apenas a falta de revisores: «Auto-suficientes no vinho e cerveja, ao contrário dos cereais.»*

4.
Se o Público queria dizer que os cereais produzem pouco ou bebem mais do que produzem, a frase está certa — e sejamos um pouco solidários com eles, com os cereais: ninguém devia ter de importar para beber (a não ser por desejo de experimentar beberagens finas ou exóticas).

5.
Se o Público queria dizer outra coisa, devia ter escrito: «Auto-suficientes no vinho e na cerveja, ao contrário de nos cereais.»

6.
Talvez o Público quisesse na verdade dizer que passou de um jornal de referência a um jornal de referência de Belmiro de Azevedo: baixos salários, baixo QI, muita auto-insuficiência.

* Destaque na última página do Público de quarta-feira.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Involuntária ironia

fotos de Amina, censuradas, conforme publicadas no New York Daily News

Amina Tyler, tunisina, publicou duas fotos em topless no site do movimento feminista ucraniano Femen, com mensagens escritas no tronco nu: na primeira, em inglês, lê-se «Foda-se a vossa moral»; na segunda, em árabe, «O meu corpo pertence-me, não serve a honra de ninguém». Seguiram-se as costumeiras ameaças de morte por parte de islamistas. Em reacção, o movimento Femem declarou o dia 4 de abril como «Dia da Jihad em Topless».

Num desenvolvimento involuntariamente irónico, o tabloide americano New York Daily News, no artigo que dá conta destes acontecimentos, censurou as duas fotos, pixelizando a palavra «fuck», os mamilos e os dedos médios erguidos de Amina.

(Por cá, o Público absteve-se de publicar as imagens de Amina — substituiu-as por um desenho inspirado na foto com inscrição em árabe —, deixou a frase em inglês sem tradução e referiu-se apenas ao «gesto obsceno» da jovem tunisina.)

quarta-feira, 20 de março de 2013

domingo, 3 de março de 2013

A semântica do capitalismo (2)

«Suíça aprova limites para salários abusivos dos patrões.» Agora terão de ser medianamente abusivos? Moderadamente abusivos? Só um bocadinho abusivos? Será o Público apenas coerente nas suas estranhas opções de sintaxe ou estará a ser involuntariamente sincero, a interpretar correctamente a realidade, a traduzir acertadamente a semântica do capitalismo?

A semântica do capitalismo

A crer na sintaxe do Público, se o sim ganhar no referendo suíço, haverá «limitação das “remunerações abusivas” dos “patrões” de grandes empresas». Limitação? Tipo: abusem, mas não muito? Abusem dez vezes por mês em vez de 12? Abusem à terça, quinta e sexta, mas não à quarta, sábado e domingo? Devo deduzir que em vez de remunerações gritantemente imorais apenas serão permitidas remunerações suavemente obscenas? O povo continuará a ser fodido, mas em versão softcore?
Ok, vou ler a notícia para ver se os suíços foram grandes o suficiente para referendarem o fim das remunerações abusivas.

Jornalismo de miséria

Sacrifícios? Fiz. Faço. farei. Harakiri? Não, Obrigado! Aos membros do Governo: TENHAM JUÍZO!

O cartaz que reproduzo ao lado e o do «Cavalo de Troika» foram citados no Expresso online (via agências noticiosas).

Ou melhor, no caso deste, foi selvaticamente truncado: o jornalista transcreveu apenas o princípio e o fim («Sacrifícios? Tenham juízo»), adulterando a mensagem que eu realmente transmiti.

É também deste “jornalismo” que se faz a nossa miséria.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O homem é bicho fodido de se aturar

Os dados dos casamentos e divórcios entre pessoas do mesmo sexo, desde 2010, são claros: os casamentos entre homens (268) representam menos de metade dos casamentos entre mulheres (597), mas os divórcios entre homens (20) são o dobro dos divórcios entre mulheres (10).

Com todas as reservas que as estatísticas de pequenos números nos merecem, vou arriscar uma conclusão: o homem é bicho fodido de se aturar.


Fonte: Público, “A evolução do estado civil em Portugal” (infografia)