O zombie é uma criatura idêntica a nós, excepto no irrisório facto de se achar desprovida de consciência. Embora exteriormente vivo, o morto-vivo está intimamente morto. Por conseguinte, ninguém sabe (salvo por analogia) o que é ser ou sentir-se zombie. Isso torna tal entidade um enigma indecifrável, um constrangimento lógico — e até uma aberração metafísica. Não admira que o Pentágono tenha um plano de acção contra um eventual ataque de zombies. Criaturas assim paradoxais são rigorosamente imprevisíveis.
domingo, 18 de maio de 2014
quinta-feira, 8 de maio de 2014
A aranha
No alfarrabista, abrindo um dicionário de filosofia, deparo com minúscula aranha aninhada no pequeno desvão feito por um grosso marcador de livros. Aguardo, para ver o que acontece. O animal não tarda a mover-se: atravessa a teoria do silogismo, galga premissas, vence conclusões, abeira-se da margem, despenha-se no intervalo que separa dois volumes fechados. Parece buscar o sentido da sua existência entre a lógica de Aristóteles e os livros que nunca lerá. Como qualquer um de nós.
quarta-feira, 7 de maio de 2014
Esperas
No tocante às esperas, quatro fases — variando as idades em que ocorrem — marcam a vida do pessimista. A uma primeira, em que tudo se espera dele, segue-se aquela em que o próprio admite: «Não esperem grande coisa de mim.» Já na terceira fase, em diálogo consigo, o pessimista declara: «Não espero nada de ti.» Por fim, dirá simplesmente: «Não espero.» Depois, é claro, irá embora. Um optimista passa exactamente pelas mesmas etapas. Mas distrai-se com mais facilidade.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
As cinzas e o inconsciente
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
Fórmula redentora
domingo, 17 de novembro de 2013
Coerência
Hoje é o Dia Mundial da Prematuridade. Por uma questão de coerência, a efeméride deveria ter sido celebrada ontem.
sábado, 16 de novembro de 2013
O túnel
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
A bagagem
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
O absurdo
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Ciclo existencial
sábado, 2 de novembro de 2013
Lugar desconhecido
sábado, 19 de outubro de 2013
«Meditatio mortis»
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
O som e o agoiro
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Já cá faltava a hagiografia borgesiana
(ou «Alguém lhe explique os documentários da National Geographic»)
Um amigo meu comentou assim as reacções nas redes sociais à morte de António Borges:
metade dos tugas adora cuspir na campa de qualquer um que tente ensinar-lhe aritmética e berra que a aritmética é faxista e inconstitucional...
As receitas económicas de António Borges — homem da Goldman Sachs, organização com responsabilidades criminosas no colapso económico e social em que nos vamos afogando — são uma tentativa de «ensinar aritmética» aos Portugueses na mesma medida em que o objectivo da chita é ensinar a gazela a correr.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Marcante e inabalável
Cavaco Silva enviou publicamente condolências pessoais à família do falecido economista António Borges. No texto, o Presidente da República considera-o «uma personalidade marcante da vida pública portuguesa», «um dos economistas mais brilhantes da sua geração», que «teve, ao longo de décadas, uma influência profunda em gerações de estudantes das melhores escolas de economia e gestão». Realça ainda a «firmeza inabalável das suas convicções».
Quanto à inabalabilidade das convicções de António Borges, discordo de que possa ser considerada uma qualidade: as convicções devem ser abaladas — quando os factos as contradizem. Coisa que, efectivamente, não ocorreu com o extinto economista ultraliberal. (Nesse sentido, infelizmente, Cavaco tem razão.)
Quanto ao brilhantismo do académico e à influência profunda que teve em gerações de estudantes de economia e gestão, calar-me-ei — para deixar o estado do país falar.
Por fim, o epíteto de «marcante». Terá sido, admito-o. Também a Pneumónica o foi.