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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

PAF: Violência doméstica

A noite foi passada — por jornalistas, comentadores e políticos no activo — a avançar teorias sobre a razão de o eleitorado ter mantido a coligação PSD/CDS como maior força política (ainda que fragilizada face a 2011), mesmo após tanta austeridade e tanta queixa popular por causa da austeridade.

Confesso: de facto quase não assisti à noite eleitoral, pelo que quando digo que a noite foi passada nisto, estou em verdade a lançar um palpite. Mais: avanço mesmo que, de entre todas as teorias apresentadas, nenhuma se aproximou realmente da verdade. (Que é, claro, a que de seguida aqui apresento.)

Tantos eleitores renovaram o voto de confiança na coligação que nos governou nos últimos quatro anos pela mesma razão que tanta mulher vítima de violência doméstica volta para a casa onde ainda vive o marido que as violentou.

Como “Zé Povinho” não é nome que caia bem nessa personificação feminina do eleitorado português, chamemos-lhe “Maria Tuga”.

Dá quase para vê-la, mas não consigo dizer o que veste ou que traços físicos tem, pois tudo em que reparo é no olho negro (fruto de uma queda das escadas...) que a custo a maquilhagem disfarça.

E dá perfeitamente para ouvi-la, enquanto fala com a vizinha:

«É, voltei para o meu homem, que é que se havia de fazer?... Sim, ele é um pouco bruto, insultou-me uma e outra vez, até à frente dos miúdos, bateu-me vezes sem conta — mas a verdade é que eu estava a pedi-las... quase sempre, sim. Pus-me a jeito. No fundo, no fundo, lá naquele modo abrutalhado dele, ele ama-me. Tudo o que faz é para o meu bem. Bate-me, sim, bate-me, já o admiti. Mas depois é sempre super-carinhoso. Já sabe como é: o melhor sexo é o das reconciliações...»

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Auspícios

Raramente ou nunca as eleições em Portugal são auspiciosas. Mas como haveriam de o ser se depositamos o nosso voto em urnas?

Marinho e Pinto

Marinho e Pinto é talvez o José Manuel Coelho destas eleições. Mas tem de se apressar se quiser ser o primeiro a desfraldar a bandeira nazi no parlamento europeu.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A liberdade de ser e o papel do bobo

Os pobres de espírito e de carácter (e até de inteligência, não pode ser totalmente inteligente quem não percebe o conceito de liberdade individual) hão-de precisar sempre de alguém a quem discriminar, sobre quem fazer recair raivas, preconceitos, frustrações, complexos. A História ensina: mulheres, pretos, judeus, homossexuais… Há sempre um “argumento” de ordem “natural”, “científica” ou “cultural” para negarem ao próximo aquilo de que se consideram legítimos (alguns por direito divino) detentores: a liberdade de ser. É da definição de liberdade global que o direito a ser imbecil, inalienável, tem de se restringir à esfera do próprio indivíduo. Por favor ninguém proponha, neste estádio da civilização, um referendo sobre a possibilidade de as pessoas serem parvas para si mesmas. Direitos humanos não se referendam — e continuamos a precisar de cromos de quem rir. Não os deixemos é legislar, não é esse, historicamente, o papel do bobo.

domingo, 29 de setembro de 2013

O meu protesto contra a Comissão Nacional de Eleições

Eis o teor do protesto que submeti à Comissão Nacional de Eleições, contra a própria Comissão Nacional de Eleições:

A queixa é relativa a:
Delegados / Membros de mesa / Assembleias de voto

Contra que entidade(s) se queixa?:
Comissão Nacional de Eleições

Mensagem:
Venho protestar contras as novas regras de colocação das cabines de voto dentro das assembleias de voto.
Quando fui hoje votar (assembleia de voto da antiga freguesia de São Dinis, actualmente integrada na União de Freguesias de Vila Real), reparei que a entrada das cabines de voto estavam viradas para a Mesa da assembleia, e não para a parede, como em actos eleitorais anteriores.
Sendo baixo e franzino, tenho dificuldade em tapar convenientemente os meus boletins do voto com o meu corpo, pelo que me senti desconfortável por ter de votar nessas condições: pelo menos o delegado de uma das listas candidatas estava a menos de 5m de mim. (Não estou a dizer que sequer olhou para o que eu fazia, mas a verdade é que me senti com menos privacidade.)
Ao entregar os meus votos, protestei junto do Presidente da Mesa. Fui informado que tal disposição das cabines de voto estava de acordo com as novas regras (julgo que emitidas pela CNE), tendo-me sido dito que tal visava impedir que algum eleitor fotografasse o seu voto com o telemóvel.
A lei é a lei (não contesto por isso a actuação da Mesa), mas quando a lei é estúpida o cidadão tem o dever de protestar contra a lei. E neste caso a lei é supremamente estúpida!
Qual o mais importante: impedir um hipotético cidadão de fotografar o seu voto, ou garantir que todos os cidadãos votam com privacidade, condição essencial para que o dever cívico de votar seja exercido em liberdade? Quanto a mim, a segunda garantia é bem mais importante para a liberdade e confidencialidade do acto eleitoral.
EXIJO VOTAR SEM CORRER O RISCO DE VEREM O QUE FAÇO POR CIMA DO MEU OMBRO!

Se concordar com este protesto (ou para qualquer outra queixa), pode submeter o seu texto na página da CNE para apresentação de queixas.


Adenda:

Esta foto, disponível no site do Público e, segundo a legenda, relativa às eleições de hoje (não é uma imagem de arquivo), mostra que há pelo menos uma secção de voto no país que mantém a privacidade dos eleitores virando a entrada da cabines de voto para a parede:

Pergunto: foi esta secção que não cumpriu as regras da CNE, ou afinal (ao contrário do que me disseram quando votei) não existem tais regras?

O eleitor de arquétipos

Amigo de dois políticos que eram adversários e se iam submeter ao escrutínio popular, a ambos prometeu, secretamente, o voto. Não lhes mentiu. Sendo platónico, acreditava na existência de Formas matemáticas eternas. No boletim, colocou metade da cruz num quadrado e a metade complementar no outro, esperando a união das duas no Quadrado absoluto, em pleno mundo inteligível. Talvez o desejo se tenha cumprido: nenhum dos dois candidatos venceu. Havia um terceiro — que atraía gente menos idealista.

domingo, 7 de julho de 2013

Em Setembro teremos Os Idiotas
(não, não são os de todos os dias — ou serão?)

Eis uma ideia refrescante para o Verão (para o fim do Verão, pronto): em Setembro sairá Os Idiotas, primeiro romance do meu companheiro de blogue Rui Ângelo Araújo, numa edição d’O Lado Esquerdo Editora.

Em ano (e mês) de eleições autárquicas, convido-vos, não a conhecerem o Saavedra que há em vós — esperemos que não! —, mas, provável e desgraçadamente, o Saavedra que há um pouco por todo o nosso Bồ Đào Nha.


Site do livro: www.osidiotas.pt
Página no Facebook: www.facebook.com/osidiotaslivro

domingo, 3 de março de 2013

A semântica do capitalismo (2)

«Suíça aprova limites para salários abusivos dos patrões.» Agora terão de ser medianamente abusivos? Moderadamente abusivos? Só um bocadinho abusivos? Será o Público apenas coerente nas suas estranhas opções de sintaxe ou estará a ser involuntariamente sincero, a interpretar correctamente a realidade, a traduzir acertadamente a semântica do capitalismo?

A semântica do capitalismo

A crer na sintaxe do Público, se o sim ganhar no referendo suíço, haverá «limitação das “remunerações abusivas” dos “patrões” de grandes empresas». Limitação? Tipo: abusem, mas não muito? Abusem dez vezes por mês em vez de 12? Abusem à terça, quinta e sexta, mas não à quarta, sábado e domingo? Devo deduzir que em vez de remunerações gritantemente imorais apenas serão permitidas remunerações suavemente obscenas? O povo continuará a ser fodido, mas em versão softcore?
Ok, vou ler a notícia para ver se os suíços foram grandes o suficiente para referendarem o fim das remunerações abusivas.