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quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Fingimentos
Publicada por
José Ferreira Borges
Procurou conhecer e experimentar por dentro todos os movimentos esotéricos e religiosos. Mas o seu grande projecto era o de alcançar um perfeito estado de desencanto e de cepticismo. Tal desiderato lançava-lhe sobre as vivências espirituais doses de fingimento de que nunca viria a libertar-se. Antevendo o fim, apressou-se a abandonar dogmas, crenças, técnicas, rituais. A tarefa revelou-se impraticável. Conseguiu apenas supor-se desencantado e céptico. Também a sua morte, por afinidade, não passou de um completo fingimento.
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Acerca da matéria
Publicada por
José Ferreira Borges
Escreve António Gedeão que «o Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma». Garante Ernest Rutherford que «o átomo é sobretudo espaço vazio». Deste modo, a matéria revela-se uma profunda escassez. Deveria, pois, ser fácil alcançar o nirvana — e outros vácuos igualmente gratificantes. Deveria também constituir autêntico milagre o facto de sabermos onde estão os objectos. Todavia, pelo contrário, a chamada «realidade empírica» mostra-se frequentemente excessiva. Ou então ela é um excessivo milagre que nos passa, afinal, despercebido.
domingo, 15 de setembro de 2013
A máquina das experiências
Publicada por
José Ferreira Borges
Robert Nozick propôs que imaginássemos certa máquina capaz de nos fornecer qualquer experiência — se a ela nos ligássemos. Todos os desejos seriam satisfeitos, embora — sem o saber — flutuássemos num tanque, o cérebro estimulado por eléctrodos. Nozick acreditava que a maior parte das pessoas recusaria ligar-se, dispensando essa vivência exclusiva de prazeres ilimitados. Mas o aparelho também traria dor — se a desejássemos. Podemos inclusive presumir que, metafisicamente falando, estamos ligados a máquinas idênticas — porém anómalas, por uso impróprio.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
O alívio que vem depois
Publicada por
José Ferreira Borges
Contaram-mo. Certo adolescente, descobrindo maneira de infligir pequenos choques eléctricos em si mesmo, decidiu fazê-lo com regularidade. Doloroso? «Sim», confessava o moço, «mas depois é cá um alívio!» Os psicólogos chamam «reforço negativo» ao desaparecimento do estímulo adverso. Ignoro como designam esse impulso de buscar a dor só para fruir o bálsamo da sua extinção. Porém, a níveis diversos, de modo mais ou menos voluntário, todos os humanos são incorrigíveis adolescentes a brincar com a corrente eléctrica.
terça-feira, 16 de julho de 2013
Metamorfose e experiência
Publicada por
José Ferreira Borges
Ter-se convertido em insecto não subtraiu inteiramente Gregor Samsa à espécie humana. A experiência foi a de um contraste. Já a pergunta de Thomas Nagel «Como é ser-se morcego?» sugere um âmbito menos
híbrido. Só lhe responderíamos sendo «puros» morcegos. Porém, isso inviabilizaria o interesse da questão. Cada existência persiste intransferível em si mesma. Podemos, claro, imaginar uma realidade supraconsciente que integre experiências múltiplas de entes inumeráveis. Mas essa ideia, além de cientificamente vazia, é potencialmente delirante.
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