«Eu sou um típico caso de pessoa tímida, não gosto muito que olhem para mim, mas sei que isso é um defeito (…)»
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
A timidez e o ‘piropo’
quarta-feira, 18 de junho de 2014
Lição n.º 1
O problema é quando algumas destas pessoas escrevem textos que, por uma razão ou outra, nos vemos forçados a ler. A sua forma «descontraída» de escrever geralmente significa que nós não vamos ter uma leitura descontraída, mas trabalhosa, aborrecida, tentando decifrar a sintaxe para conseguir chegar à semântica. Irrita-me quando antes de perceber a ideia ou argumento tenho de parar para perceber a frase. E irrito-me mais quando, depois de finalmente perceber a frase, descubro que não há uma ideia ou argumento (o que também é frequente).
Os praticantes desta «escrita descontraída», mesmo que pensem o contrário, são meros principiantes das letras e da comunicação. Não se relacionam suficientemente com a língua e a linguagem para perceber duas coisas:
1) Que as frases que escrevemos saíram da nossa cabeça e, por isso, somos capazes de entender facilmente um texto nosso, mesmo que ele esteja descuidado, mal pontuado, sem acentos e que ao escrevê-lo lhe tenhamos comido uma parte das palavras. Quem alguma vez se deu ao trabalho de rever a sério o que escreve sabe que é assim.
2) Aquilo a que noutros escritores chamamos de «escrita simples» é geralmente uma escrita bastante trabalhada — e que não ignora regras e convenções. Este tipo de «escritores simples» trabalha arduamente os textos para que a comunicação resulte límpida, transparente, sem dar trabalho desnecessário ao leitor (a não ser o que resulta da compreensão das ideias expressas).
Meus amigos: aspas, acentuação, vírgulas, pontos, travessões, itálicos (em estrangeirismos e títulos, por exemplo), concordância em género e número, correcta conjugação e aplicação de verbos, escolha rigorosa de adjectivos, etc. não são coisas antiquadas, desnecessárias, descartáveis. Não são, sequer, caprichos estilísticos de escritor. São a essência formal da comunicação escrita. Se não têm nada a dizer, não escrevam. Se acham que têm alguma coisa a dizer, lembrem-se que estão a escrever para seres que não convivem intimamente com os macaquinhos que vocês têm no sótão.
quarta-feira, 4 de junho de 2014
Deixem o pimba em paz? As artes e o público
terça-feira, 6 de maio de 2014
Educação, esse luxo supérfluo
Uma notícia no Público de hoje faz saber (para os que andam distraídos) que «Austeridade nas escolas teve o triplo da dose prevista» no memorando de entendimento com a Troika. A mensagem política é clara: «A Educação é supérflua, é um luxo».
(Se em tudo se cortou mais do que nos era pedido, mas mesmo assim só se alcançaram os objectivos do défice porque, de desaire em desaire, esses objectivos foram sendo relaxados, surpreende que ninguém com responsabilidade discuta com seriedade o que correu mal. Ou talvez não surpreenda, se quem tem responsabilidade não tem seriedade.)
O artigo no Público é bastante esclarecedor, nomeadamente quanto ao aumento brutal da burocracia (contrariando a anunciada autonomia), mas tem uma frase que, talvez tirada do seu contexto original, é enganadora. A certa altura, um director escolar queixa-se da degradação das condições de trabalho, dizendo: «Neste momento, os professores só têm tempo para dar aulas, não têm tempo para mais nada». Com tal desabafo, o entrevistado queria certamente dizer que o aumento da carga de trabalho estava a privar os docentes de tempo para terem vida própria e familiar, mas a frase, assim, é ambígua, pois dá a ideia errada de que aos professores só é pedido que dêem as aulas. Ora, pelo menos nas escolas de que tenho conhecimento, passa-se precisamente o contrário: o aumento brutal da burocracia, de que se queixam os directores, transbordou completamente pela hieraquia abaixo. Os professores passam cada vez mais tempo a fazer “tretas” burocráticas que lhes tiram tempo e ânimo para o que realmente interessa: ensinar. Tais mudanças em nada beneficiaram os alunos.
Fui das pessoas que saudaram a chegada de Crato ao Ministério, por conhecer as críticas (justas) que fazia à Educação. Hoje considero-o um traidor, um mercenário. O economista (que ele também é, de formação de base) venceu sobre o pedagogo.
O sistema é gerido politicamente de forma terrorista.
sexta-feira, 2 de maio de 2014
O retrato do escritor
Já escrevi sobre isto algumas vezes: é um erro que manuais escolares, jornais, revistas literárias, contracapas e badanas ou separadores televisivos (estes já só em dias de centenário) passem o tempo a mostrar imagens dos escritores clássicos enquanto velhos. A escrita literária não dispensa, geralmente, maturidade e sapiência, mas não é uma actividade reservada a anciãos, como a iconografia editorial sugere. Pedagogicamente, esta tradição ou inércia tem sido catastrófica. A juventude está por vezes disponível para a literatura, mas é sempre avessa a projectar-se a si própria na terceira idade. E o que a imagética institucional tem feito é dar à juventude a desculpa de que ela precisa para remeter os clássicos para a cave bafienta da paleontologia (sem que Hollywood tenha feito com os escribas jurássicos o mesmo marketing que fez com os dinossauros).
Somado o fosso geracional ao fosso histórico — tão fundamente cavados pela passagem do tempo, a invenção da cor, a evolução do trajar e do pentear, e pelas escolhas preguiçosas dos responsáveis gráficos —, é uma verdadeira surpresa que hoje alguém com menos de trinta anos se interesse por literatura com mais de vinte anos (quando já tão dificilmente se interessa por literatura tout court).
É certo que em alguns dos casos mais antigos não há retratos disponíveis do escritor enquanto jovem. Sobram uma estatuária amputada, umas gravuras que parecem de santinhos da igreja, de duvidosa correspondência ao modelo biológico. Mas, havendo pudor de fazer passar esta iconografia por um processo inverso ao da Maddie (um rejuvenescimento especulativo computadorizado), restavam duas soluções: assegurar-se que de autores mais recentes se publicavam sobretudo as fotos menos envelhecidas, para contrabalançar, ou optar-se por biografias em vez de imagens, biografias que insistissem particularmente no facto de os autores terem sido jovens e humanos como todas as outras pessoas.
Porque a verdade é que a maioria dos escritores e pensadores não teve de esperar pelos sessenta ou setenta anos para escrever as suas melhores obras — e é isso que a juventude em formação precisaria imediatamente de saber, se não por imagens, por palavras. Que, tirando José Rodrigues dos Santos, a literatura é coisa de gente interessante ou normal, viva ela em que século viva.
Para ser verdadeiramente pedagógico, um livro ou manual escolar deveria apresentar a imagem do escritor à época que escreveu o texto. Junto com o cadastro policial e político, testes de alcoolémia, testemunhos de rivais, resultados de análises às DST e cartas de ex-amantes ressentidos/as.
domingo, 13 de abril de 2014
Ai que saudades da «cultura de excelência» do pré-25 de Abril!
Leio no Público que Durão Barroso veio lembrar-nos da «cultura de excelência» promovida nas escolas antes do 25 de Abril.
Senhor Dr. Durão Barroso, não era cultura de «excelência» — era a cultura de «Sua Excelência», era a cultura da exclusão.
A escola pública no Estado Novo não procurava detectar o talento onde quer que ele existisse, levando-o à excelência. A escola pública do Estado Novo procurava perpetuar o statu quo: garantir que os pobres se mantinham calados e sossegados — e pobres, como Deus quis.
A educação, para lá dos quatro anos da Primária (que a falta de fiscalização não garantia, sequer), estava fundamentalmente reservada às classes média e superiores — e nesses tempos a imensa maioria da população não alcançava, nem de longe, o nível da classe média.
Não é que a lei proibisse ipsis verbis o acesso das classes populares a educação suplementar, mas a prática do regime garantia que assim fosse, para todos os efeitos. As poucas famílias de classe mais baixa que conseguiam providenciar uma educação liceal a um dos seus filhos faziam-no com grande esforço, à custa de muito sacrifício: em geral, apenas o filho mais novo, na melhor das hipóteses, teria a oportunidade de prosseguir os estudos, pois era preciso que todos os irmãos e irmãs mais velhos trabalhassem (como moços de recados e marçanos, como criadas de servir e ajudantes de costureira) para que houvesse dinheiro à justa para suportar as despesas dessa escola promotora de «cultura de excelência».
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O meu pai foi um excelente aluno. Poucos meses depois de iniciar a 1.ª Classe, o professor percebeu que ele não só sabia toda a matéria desse ano (já dera duas voltas ao livro), como sabia de facto mais do que os alunos da 2.ª Classe. Homem sábio, passou-o logo para essa turma mais avançada, razão pela qual o meu pai concluiu a Primária em apenas três anos.
Como na altura a escola pública, como é sabido, promovia uma «cultura de excelência», a sua condição social ditaria que não prosseguisse os estudos. O meu avô precisava de um par de braços extra a trabalhar na sua pequena carpintaria e no meio hectare de terreno arrendado que ajudava no sustento das seis bocas da família.
Mais tarde, já com 18 ou 19 anos, o meu pai resolveu tentar fazer, como autoproposto, os exames do 2.º ano do curso do Liceu. Preparou-se autonomamente o melhor que pôde, chegando a pagar, com dinheiro penosamente ganho, umas explicações particulares de Francês.
Quando se tentou inscrever nas provas, foi informado que não bastava pagar a já de si pesada taxa de inscrição: precisava de um termo de responsabilidade.
— Termo de responsabilidade? — perguntou o meu pai.
— Alguém que se responsabilize por si, que afiance que está preparado para realizar os exames. Quem o assina tem de ser um familiar seu com escolaridade superior à sua, ou um licenciado.
— Mas responsabilizar-se por quê? Sou eu que vou pagar a inscrição. Se reprovar no exame, quem é que prejudico para além de mim? Para quê um «responsável»?
Era a «cultura da excelência» a funcionar. O meu pai podia discordar o quanto quisesse, as regras eram como eram. (Ai as saudades...)
Na família, mesmo alargada, não havia ninguém com escolaridade superior à dele. Quanto a um licenciado, não sei se o meu pai não encontrou um que se «responsabilizasse» por ele, ou se recusou a humilhação de procurar um. O resultado foi que não pôde realizar os exames, ficando-se pela escolaridade primária. Tudo em nome da «cultura de excelência», pois claro.
domingo, 12 de janeiro de 2014
Segredos
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
Lapso duplo
sábado, 12 de outubro de 2013
Exercícios
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Informações iniciais
sábado, 21 de setembro de 2013
Improvisar, para quê?
Em vésperas da abertura do ano lectivo, o primeiro-ministro asseverou que desta vez não haveria lugar a «improvisos»:
Por uma vez, Pedro Passos Coelho falou a verdade. Em anos anteriores, a improvisação era frequentemente a regra.
Não agora: nada de improvisos. Desta vez, com este Governo, o lema para a Educação é «Que se foda!»:
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Pelo fim do Ensino Superior público
Agora é oficial e indesmentível: o Governo quer acabar com o ensino superior público.
Não bastavam os constantes cortes nas transferências orçamentais do Estado (que começaram mais de uma década antes de a austeridade chegar ao resto do país), agora a Direcção Geral do Orçamento impôs um tecto máximo às receitas próprias que as universidades e politécnicos podem gerar, além de cativar (isto é, ficar com) parte dessas receitas, obtidas, por exemplo, pela prestação de serviços de consultoria, investigação e desenvolvimento a empresas.
O Governo diminui cada vez mais o dinheiro que entrega ao ensino superior — mas agora passou a uma nova dimensão de ataque: impede também que as instituições arranjem dinheiro por si próprias.
Se a diminuição da dotação orçamental serve o objectivo do défice, a limitação à iniciativa autónoma de financiamento serve que interesses?
Os lugares de Setembro
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Desmontando alguns mitos da Educação em Portugal
O Público apresenta hoje um estudo da OCDE sobre a Educação. É uma leitura muito interessante e demolidora de certo mitos que se criaram sobre o sector em Portugal.
O jornal apresenta a sua própria infografia de resumo dos principais números, mas infelizmente a disposição dos gráficos facilita mais a comparação entre os diferentes níveis de ensino (pré-escolar, 1.º–2.º ciclos, 3.º ciclo, secundário, superior) do que entre Portugal e os outros países. Por essa razão, apresento os meus próprios gráficos, feitos com base nos mesmos dados.
Em cada gráfico, “PT” (azul) indica a coluna correspondente a Portugal, “OCDE” (vermelho) refere-se à média dos 34 países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (incluindo Portugal) e “UE21” (verde) refere-se à média dos 21 países da União Europeia que são também membros da OCDE (isto é, todos os membros da UE, excepto Bulgária, Chipre, Letónia, Lituânia, Malta e Roménia). Os dados são em geral relativos ao ano lectivo de 2010/2011, estabelecendo-se por vezes comparação com o ano 2000.
Mito #1: O custo por aluno em Portugal é muito elevado
Os dados da OCDE não confirmam esta ideia, bem pelo contrário. Em todos os níveis de ensino — pré-escolar, 1.º/2.º ciclos, 3.º ciclo/secundário e superior — o dinheiro gasto por aluno no ano de 2010 foi inferior (por vezes, substancialmente inferior) ao gasto na média dos países da OCDE ou da UE21.
Em termos meramente financeiros, o sistema educativo português é, por isso, mais eficiente do que o da média desses países: é 1,5% a 28,5% mais “poupadinho”.
Mito #2: Portugal gasta uma percentagem demasiado elevada da sua riqueza na Educação
Se os números da OCDE até confirmariam isto no virar do milénio (com Portugal a gastar ligeiramente mais do que os seus congéneres), actualmente já não é verdade. Em termos percentuais (relativamente ao PIB), Portugal gastou em 2010 um pouco menos do que a média dos países da UE21 e substancialmente menos do que a média da OCDE: em termos comparativos, gastámos 3,5% a 15% menos do que os parceiros com os quais nos comparamos. (A poupança nacional aumentou certamente ainda mais com os cortes salariais na Função Pública.)
Mito #3: Os professores portugueses trabalham pouco
O trabalho de um professor não é fácil de aferir, uma vez que não se limita ao tempo efectivamente gasto a leccionar. Mas, uma vez que é este número (horas de aulas por semana, por ex.) que é habitualmente apresentado como prova da suposta ligeireza da profissão docente, comparemos esses números (em termos de totais anuais).
Segundo o estudo da OCDE, com excepção do ensino pré-escolar, os professores portugueses passam mais tempo a leccionar do que o seu colega médio da OCDE ou da UE21. E se a vantagem dos professores do ensino pré-escolar portugueses é ligeira (1,5% a 3% menos tempo passado com os alunos), a desvantagem dos professores nacionais dos restantes níveis de ensino é bem mais substancial: passam 10% a 20% mais tempo a leccionar do que os seus colegas nos outros países.
O estudo também revela que, pelo contrário, o horário total dos professores portugueses (contando horas lectivas e não lectivas: 1508 h/ano) é bastante inferior ao da média da OCDE (1670) e da UE21 (1600). Isto significa que o tempo contabilizado em actividades não lectivas — como preparação de aulas, correcção de trabalhos e testes, reuniões e investigação — é inferior em Portugal.
Neste capítulo (e com excepção das reuniões), há que ter em conta que a contabilização é bastante difícil de fazer, pois corresponde a trabalho em grande medida feito em casa, individualmente. Não contabilização não significa inexistência — tal como contabilização não significa efectiva existência. Os números variarão grandemente de docente para docente e de área disciplinar para área disciplinar, mas arrisco-me a dizer que os professores portugueses são dos que mais tempo gastam a desempenhar tarefas da treta (por culpa do Ministério da Educação, não sua).
Mito #4: Os professores portugueses ganham demasiado bem
Neste capítulo, os dados da OCDE são mistos: os professores nacionais do 1.º e 2.º ciclos de ensino ganhavam* em geral mais (2% a 3,5%) do que os seus colegas lá fora, mas os nossos professores do ensino secundário ganhavam* menos (uma desvantagem de 5,5% a 8%). Uma conclusão imediata olhando os gráficos é que cá os professores de ambos os níveis de ensino ganham pela mesma tabela salarial, o que não se passa na generalidade da OCDE e UE21.
Os valores salariais apresentados no estudo da OCDE levantam-me sérias reservas. A média em causa refere-se a um professor com 15 anos de experiência. Sinceramente, o valor apresentado no caso português parece-me exagerado. Tanto quanto sei (mas posso estar errado), o número de professores com Mestrado (pré-Bolonha) é muito baixo em Portugal, havendo uma ligeira progressão na carreira associada a este nível de formação. Em dois casos que conheço bem de docentes com grau de mestre (os únicos, ou quase, nessa situação nas respectivas escolas), com 18–20 anos de experiência profissional, o nível salarial é algo inferior à suposta média nacional (onde se incluem a multidão de colegas menos graduados e com menos tempo de serviço).
A ideia da classe docente como classe favorecida tem, no entanto, algum suporte num dado: em média, os professores portugueses ganham mais 17% do que outro profissional nacional igualmente licenciado, enquanto que na média da OCDE e da UE21 os professores ganham menos 11%. Ou seja, efectivamente a profissão docente é (comparativamente) mais bem remunerada em Portugal do que lá fora. Mas combinando este dado com o que foi dito quanto ao custo anual por aluno e ao número de horas efectivamente gastas a leccionar (o cerne da profissão docente), a conclusão a que podemos chegar é que, ao contrário do que se passa noutros sectores da economia nacional, os “custos de produção” do sector educativo (em termos gerais e em termos de custo/hora útil) são mais baixos em Portugal do que lá fora.
Os professores portugueses não são demasiado bem remunerados — os demais licenciados do nosso país é que são ainda mais mal pagos do que pensam.
* De notar ainda que os valores apresentados dizem respeito aos salários no ano lectivo de 2010/2011, isto é, anteriores aos cortes salariais na Função Pública que ocorreram em 2011.
terça-feira, 18 de junho de 2013
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Em dia de greve
sexta-feira, 14 de junho de 2013
Os problemas da Educação em Portugal também têm raízes nestes pais...
Pais exigem anulação de exames se algum aluno não puder fazer provas
O presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, Jorge Ascenção, defendeu nesta quinta-feira, em declarações ao PÚBLICO, que caso uma parte dos alunos não faça o exame nacional de Português na próxima segunda-feira, devido à greve dos professores, as provas daqueles que as fizerem deverão ser anuladas.
“Não sei qual será a solução que o Governo vai adoptar, mas esta é a única que garante a equidade”, sustentou.
[...]
Na sua opinião, o adiamento da prova para apenas parte dos alunos ou a abertura da possibilidade de a fazerem na segunda fase não são soluções. “O facto de se tratar de uma prova diferente realizada num dia diferente coloca em causa a equidade, num momento decisivo para o futuro dos alunos”, considera Jorge Ascenção.
A falta de discernimento de um parceiro privilegiado do processo educativo explica alguns dos problemas da Educação em Portugal.
Se o facto de alguns alunos realizarem o exame de determinada disciplina em data diferente (com enunciado diferente, pois claro) põe em causa a «equidade» da avaliação, então, para ser coerente, a Confederação Nacional das Associações de Pais deveria opor-se terminantemente, fossem quais fossem as circunstâncias, à existência de uma segunda fase de exames.
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Gestão orçamental na casa de um socialista encartado
O cenário descrito por Inês Teotónio Pereira só prova que a senhora não sabe educar os seus filhos, ao contrário do que tenta convencer-nos no início do texto.
(A autora do artigo do jornal i parece acreditar que educar filhos consiste em repetir-lhes ad nauseam um ideário político-social. Falando com a experiência, não de pai, mas de filho, trago-lhe uma má notícia: não é por aí. Educa-se pelo exemplo, não pela doutrinação.)
E está visto que, tal como a honestidade e a boa administração da coisa pública, também a educação dos filhos não segue as linhas de fractura ideológicas.
O meu pai, que era socialista encartado, sempre nos deixou bem claro que havia deveres. O dinheiro — o pouco dinheiro — que íamos tendo no bolso, não era atribuído em jeito de mesada ou semanada, conceito que nos parecia ficcional (de resto, só o conhecíamos dos livros dos Cinco ou dos Sete...).
Não, o pouco dinheiro que tínhamos, recebíamo-lo no fim de cada período escolar, segundo uma tabela pré-estabelecida, por cada 3, 4 e 5 (estava fora de questão haver um 2: se houvesse, não havia dinheiro nenhum). E tinha que durar o trimestre inteiro, até que as notas nos dessem (se fossem boas) direito a mais algum. Era, por isso, preciso saber administrar um orçamento — um parco orçamento. E nós sabíamos.
(OK, em abono da verdade havia fontes de rendimento adicional, de periodicidade não trimestral: a casa, o jardim e o não tão pequeno quintal das traseiras tinham muito trabalho para ser feito o ano todo. Entre limpar o pó e aspirar o chão, rapar as ervas dos malfadados caminhos de terra batida entre os canteiros, fazer a vindima, apanhar maçãs, peras e marmelos, regar a horta, semear e apanhar batatas, entre outras tarefas, havia diversas formas de enriquecimento lícito.)
Esta minha dependência do que o meu pai me dava (uma espécie de transferência do Orçamento de Estado para as autarquias, simplesmente a “autarquia” que eu era tinha de demonstrar os seus méritos) durou uns 7 anos. Se não me engano, foi no 8.º ano de escolaridade que consegui uma bolsa: como era bastante mais do que o meu pai antes me dava, podemos dizer que foram os meus Fundos Comunitários. Mas não eram a fundo perdido, ou melhor, os fundos só continuavam a chegar se a cada trimestre eu fizesse prova de resultados merecedores. (Por isso, aquilo por que o Gaspar está a passar, com avaliações periódicas da Troika, conheci eu em 1986 — a diferença é que eu não fazia asneira entre cada avaliação, de forma que a “troika” que decidia se a minha bolsa continuava a ser-me paga não teve de relaxar uma e outra vez os critérios que eu era obrigado a cumprir...)
Mantive esta bolsa até ao fim do Ensino Secundário e ainda (crescida no seu valor) durante os cinco anos da minha licenciatura (agora prestando provas a cada semestre). Foi a minha única fonte de rendimento até ter o meu primeiro salário, aos 23 anos.
Ah! Resta dizer que a dita bolsa (que a minha irmã também recebeu) não foi atribuída pelo Serviço de Acção Social Escolar ou outro qualquer organismo do Ministério da Educação ou do Estado.
(Se a situação financeira da minha família foi certamente um factor tido em conta — era um só salário de quadro médio a entrar numa casa com três filhos em idade escolar —, a instituição pagadora deixava claro que o critério principal era o do mérito escolar, periodicamente medido pelas classificações alcançadas no decurso de 10 longos anos.)
Como se chamava a instituição que me atribuiu a bolsa?
É com vergonha que admito chamar-se Fundação Calouste Gulbenkian — essa instituição desconhecida que, segundo a avaliação do ministério de Vítor Gaspar, é menos «pertinente/relevante» do que a notável Fundação Social Democrática da Madeira...