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quarta-feira, 2 de março de 2016

O direito a ser burro

Henrique Raposo escreveu um livro.
Parece que o livro está devidamente indocumentado no que concerne o tema sobre o qual versa. Como diriam os anglófonos, «that’s reassuring»: ficamos com a certeza de que o livro foi mesmo escrito pelo seu alegado autor. (O mesmo não se pode dizer, segundo consta, da dissertação de mestrado de José Sócrates.)

Mas as reacções nas redes sociais não se fizeram esperar e, como soe nas redes sociais, assumiram dimensões imerecidas pelo calibre intelectual do escriba. Consta que descambaram mesmo em ameaças à integridade física de Raposo. A galeria onde deveria decorrer a apresentação do livro acabou por cancelar o evento — não em protesto contra a falta de qualidade e rigor do livro, mas por medo da polémica.

Acho mal. Henrique Raposo é burro, e com todo o direito a sê-lo!
O homem não merecia que fermentasse em mim o desejo de dizer «Je suis Raposo».
(Um derradeiro rasgo de lucidez controlou-me a mão: o que saiu foi a imagem que acompanha estas linhas.)

sábado, 21 de novembro de 2015

Por que assumi as cores da França,
mas não as do Líbano ou do Mali

Por que razão é que, na própria noite dos ataques de Paris, espontaneamente, alterei a minha imagem de perfil no Facebook para as cores e o símbolo da França (que ainda mantenho e manterei por tempo indeterminado), mas não tive igual gesto relativamente a, por exemplo, o atentado bombista em Beirute ou a mortífera toma de reféns num hotel em Bamako?

Racismo, preconceito — é do que me tentam convencer algumas publicações partilhadas por amigos e por desconhecidos. Há, parece, mortos de primeira, de segunda e de terceira; há até um «mapa mundi trágico» — dizem-me, apontando um dedo acusador, tentando impor-me um sentimento de culpa ou de vergonha.

Se essa é a intenção, falharam redondamente. Porque a verdade é que um mapa mundi trágico — simplesmente, ao contrário do que os autores daquele pensam, esse mapa mundi é pessoal, não é global: cada pessoa tem o seu próprio mapa mundi trágico (e no meu a Nova Zelândia está a vermelho).

Começo por deixar claro que, ao assumir as cores da França, mais do que solidarizar-me com os mortos e as suas famílias, pretendo solidarizar-me com a França.
Porque, se o atentado na França é uma tragédia de dimensão humana (morreu gente, e não foi pouca), é acima de tudo uma tragédia civilizacional: foi um ataque à ideia de França, ao modo de ser e estar na vida do povo francês (e, por extensão, do Ocidente), foi um ataque a uma certa ideia de sociedade aberta, liberal e laica.
Já um ataque ao Líbano ou ao Mali, o que significa para mim, em termos identitários? Nada, admitamo-lo sem medo. Vistos do ponto onde me situo (e sem esquecer as implicações geopolíticas), tais ataques são quase exclusivamente tragédias humanas. E essas — na França, no Líbano ou no Mali —, tendo vitimado (tanto quanto sei) pessoas que desconheço, são-me sempre algo abstractas, não cravam tão fundo as unhas na pele do sentimento.

Dito de outra maneira, a razão pela qual faço “luto” pelos atentados na França, mas não pelos no Líbano ou no Mali, é a mesma pela qual temos direito a licença por luto se nos morrer um irmão emigrado há anos na Austrália, mas não temos igual direito quando morre o vizinho do quinto esquerdo. Ou a razão pela qual vamos ao funeral do nosso ex-professor primário, mas não ao do ex-professor da escola de (digamos) Trigaches, terra cujo quase nada que sabemos se deve à Wikipédia. O que não quer dizer que o ex-professor de Trigaches não mereça um belo funeral, com grande assistência e sentidas manifestações de pesar — da parte de quem o conheceu e dele se sentia próximo. Idem, mutatis mutandis, para o Líbano e o Mali.

Países há muitos, uns mais próximos geograficamente, outros mais distantes — e, mais importante ainda, uns mais próximos culturalmente, sociologicamente, outros mais distantes (tão distantes, alguns, como se de outra galáxia se tratasse).
Há países que nos são irmãos, há outros que são apenas os vizinhos do quinto esquerdo, e há os que são de Trigaches, professores ou não.
Fingir que isso não é assim, assumir as cores do Líbano ou do Mali só para aparentar uma identificação que não se sente, que não se pode realmente sentir, é hipocrisia. Na melhor das hipóteses, é reflexo sem valor, como o da beata que vai aos velórios de desconhecidos por desfastio.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Deus, diz-me onde construo a Arca.

Um agressor e assassino de mulheres é mascote de foto-piadolas na Internet e é aplaudido na sua entrada em tribunal. Duas faces do mesmo país boçal. É perante quadros destes que acho a crise leve, enquanto nação merecemos mais, uma purga a sério, uma das pragas da Bíblia, pelo menos.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A perdulária arte de chegar tarde

Depois de quase todos o literatos do país terem dado o seu contributo para o debate facebookiano que espoletou um post de José Mário Silva sobre um comentário (crítico) de Luís Quintais a uma crítica (elogiosa) de José Mário Silva no Actual, a coisa provavelmente esmorecerá. Mais uma vez, cheguei tarde. Damn it!

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Já cá faltava a hagiografia borgesiana
(ou «Alguém lhe explique os documentários da National Geographic»)

Um amigo meu comentou assim as reacções nas redes sociais à morte de António Borges:

metade dos tugas adora cuspir na campa de qualquer um que tente ensinar-lhe aritmética e berra que a aritmética é faxista e inconstitucional...

As receitas económicas de António Borges — homem da Goldman Sachs, organização com responsabilidades criminosas no colapso económico e social em que nos vamos afogando — são uma tentativa de «ensinar aritmética» aos Portugueses na mesma medida em que o objectivo da chita é ensinar a gazela a correr.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Twitter

Rede social e serviço de microblogging cuja única utilidade e virtude é facilitar o pedido de desculpas pela nossa mensagem anterior.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O protesto mais parvo da história universal dos protestos

falsa factura em nome de Pedro Passos Coelho

Segundo o Público:

Consumidores pedem facturas em nome de Passos Coelho

O feitiço virou-se contra o feiticeiro. Em protesto contra a nova legislação que penaliza com multas até 2000 euros quem não pedir facturas, muitos consumidores começaram a pedir facturas com o número de identificação fiscal de Pedro Passos Coelho. Os dados do primeiro-ministro estão a ser divulgados em SMS e emails que se tornaram virais. As redes sociais estão a propagar o protesto.
[...]
O número de contribuinte do primeiro-ministro não é, contudo, o único que está a ser difundido através das redes sociais. Também o NIF dos ministros Vítor Gaspar e Miguel Relvas estão a ser divulgados e partilhados no Facebook e no Twitter com a sugestão de que sejam usados para o mesmo fim.
[...]
Em teoria, Passos Coelho pode até ser investigado pelas Finanças, por ter gasto um valor superior aos seus rendimentos. Vários serviços do Fisco contactados pelo Correio da Manhã — que dizem estar a par do que se está a passar — admitiram a possibilidade de o primeiro-ministro poder vir a ser alvo de uma investigação das Finanças, uma vez que existem “mecanismos de fiscalização automáticos que disparam quando um contribuinte gasta em facturas mais do que aquilo que declara como rendimento”.


Eis o protesto mais parvo da história universal dos protestos, por (pelo menos) quatro razões:

  1. Estou mesmo a ver Pedro Passos Coelho, Vítor Gaspar ou Miguel Relvas a serem “chateados” pelas Finanças para os fiscalizarem. O primeiro-ministro há tempos dizia que dormia perfeitamente — imagino o quanto a perspectiva de cair sob o martelo do fisco lhe esteja a tirar o sono...
  2. Mesmo que tal fiscalização ocorresse (o que, sabemos bem, nunca acontecerá), estes ministros, tal como quaisquer outros contribuintes “vítimas” de tal brincadeira, conseguiriam safar-se facilmente mostrando que é impossível terem estado em todos os sítios a que respeitam esses milhares de facturas (algumas certamente emitidas quase simultaneamente em locais afastados por dezenas ou centenas de quilómetros).
  3. Se é verdade, como no site «e-faturas» dizem, que o contribuinte final nem precisa (embora possa, como garantia) registar as facturas electrónicas emitidas com o seu NIF, pois terá automaticamente direito ao benefício fiscal quando o comerciante comunicar os dados das facturas que emitiu, então estes protestos só vão garantir que Passos Coelho e outros ministros “afectados” conseguem o máximo de benefício fiscal à custa de terceiros. 250€ (valor máximo) não os aquecem ou arrefecem, mas não deixa de ter piada que um protesto resulte em benefício fiscal para o alvo do protesto.
  4. Se é verdade que há falta de segurança na transmissão dos dados das facturas, podendo um desconhecido não autorizado (com alguns conhecimentos de informática) aceder a informação que viole o direito à privacidade dos contribuintes (onde estiveram, quando, o que compraram...), então este protesto tem também como consequência proteger a privacidade de Pedro Passos Coelho e dos demais afectados: ao emitirem tantas facturas com informação falsa, conseguem soterrar os reais consumos e a localização dos ministros, que efectivamente não se distinguirão dos consumos falsamente atribuídos a eles, pelo que tais informações (as verdadeiras) continuarão no foro privado. É um caso de privacidade garantida pela “multidão”. Passos Coelhos, Relvas e Gaspar agradecem.