domingo, 28 de dezembro de 2014
Selfie ou as faculdades paliativas da nostalgia
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
Catalogue des prix d’amour
Mosquitos em Bruxelas parecia-me um contra senso, imaginando-os bichos eminentemente meridionais ou amigos de ambientes de gente pobre. Mas quando me começaram a cair no copo lembrei-me que sou pobre e meridional. Não, não foi isso. Quando passei a usar a vetusta base de copos como tampa contra os dípteros kamikazes, tomei consciência do sítio onde estava: La Fleur en Papier Doré (Het Goudblommeke in Papier para os amigos flamengos), um café que respeita o seu ilustre passado mantendo, quase sem a espanar, a decoração original. A Flor em Papel Dourado é um estaminet fundado em 1366, mas não creio que houvesse nenhum mosquito dessa colheita. Os que partilharam comigo o cabernet e mais tarde nadaram nos meus sucos gástricos deveriam ser do tempo da última remodelação do botequim, acontecida, diria, na transição de oitocentos para novecentos. Gosto de sítios assim, com verdadeira história. E se tomasse notas no meu moleskine (ou, menos romanticamente, usasse a câmara do telemóvel), poderia hoje reproduzir na íntegra, poupando o trabalho de inventar tema e coerência para um post, a piéce de résistance das antiquarias que enfeitam, emolduradas, amareladas e empoeiradas, as paredes da casa. Refiro-me ao tarifário de um prostíbulo, de 1915.
Pode ser encontrado na Internet. O "Catalogue". E o amor, parece.
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
de[s]amor: countdown para o Dia de São Valentim (3)
Neste tempo, em que a aproximação do Dia de São Valentim nos submerge numa maré “fofinha” de ursos de peluche, corações gigantes de veludo e postais (reais ou virtuais) com mensagens lamechas, urge variar um pouco.
Ora, o que há de menos romântico (no sentido vernacular) e “fofinho” do que a Economia? Exactamente: nada.
Assim, o antídoto certo contra tanta lamechice insincera (amores eternos e infinitos, etc.), de pechisbeque, é a requintada linha, que agora lanço, de cartões postais produzidos com o profissionalismo dos analistas de uma prestigiada agência de rating. (Não estando dinheiro envolvido, a dita agência de rating abriu una excepção e disse apenas a verdade, em vez de tentar criar uma.)
domingo, 10 de novembro de 2013
Impossibilidade
terça-feira, 17 de setembro de 2013
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
«Toda a gente tem direito a ter um desgosto de amor»
Levantam-se da mesa, deixam os homens na sala e vão para a varanda fumar, com os copos pousados num móvel contíguo. Já não se viam há algum tempo, possivelmente desde as últimas férias de Verão, talvez desde as anteriores. Duas delas falam da terceira como se ela não estivesse presente, mas não a estão a excluir da conversa. Estão a explicar-lhe, quase de forma encenada, o que pensaram e disseram entre elas sobre a amiga quando a viram, cada uma em sua ocasião. Que não podia ser, não cresciam assim. Era coisa que se tinha ou não se tinha, e ela antes não tinha. Não como agora. A primeira conta que, logo que viu a Clara (chamemos-lhe assim), lhe atirou de imediato aos mãos ao peito. Não esteve cá com coisas. Era como São Tomé, precisava de ver com os dedos para crer. Clara tinha defendido, com o seu narizito indignado, que eram naturais, mas ela não acreditava. E o tacto não lhe mentia. Clara anui, entrando na conversa: sim, as coisas tinham-se passado daquele modo. Ela tinha querido brincar durante um bocado, embora soubesse que as amigas acabariam por perceber. Mas não lhe ficavam bem?
Tinha sido depois de se separar do Júlio. Ele não se fora embora por causa das mamas dela, mas Clara precisava de se concentrar em alguma coisa para esquecer o desgosto. E se o pensou melhor o fez. Já tinha lido muito sobre aquilo, como todas, os métodos, os riscos, quem pôs e quem não pôs.
Seguem-se alguns minutos em que as três esgrimem a sua bibliografia, em diferentes tons de rosa mas no mesmo papel couché ou acetinado, sobre o assunto.
Depois desse interlúdio estético-medicinal, Clara retoma a questão anterior. O desgosto amoroso não era assim tão mau, talvez ela tivesse avançado para a cirurgia de qualquer modo. O desgosto, aliás, era parte da vida das pessoas, «toda a gente tem direito a ter um desgosto de amor».
Ter-se-ia ela enganado? Teria querido dizer que toda a gente, num momento ou noutro da sua vida, tinha, naturalmente, um desgosto de amor? Ou estaria a socorrer-se de um discurso reivindicativo, o povo pela voz dela a reclamar direitos iguais aos dos ricos, mesmo que esses ricos sejam os das novelas ou os dos romances de Margarida Rebelo Pinto? Umas mamas de silicone e um desgosto de amor podem ser anseios legítimos e equiparáveis da classe operária?
Depois voltam à questão mamária, com gargalhadinhas e apalpões (agora em directo), e o escriba, de educação antiga, tenta ainda com mais denodo (mas não com melhores resultados) concentrar-se na leitura.
domingo, 25 de agosto de 2013
Baile copular
* E, no sentido desta exegese, o slow era a antecâmara do sexo tântrico.