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quinta-feira, 14 de novembro de 2013
Infinitude
Publicada por
José Ferreira Borges
Nicolau de Cusa defendeu algumas teses sobre o infinito — onde coincidem os opostos — usando argumentos bastante persuasivos. Sem esforço, ele demonstra, por exemplo, que num círculo infinitamente grande a circunferência equivale à tangente: «curvo» e «recto» não se distinguem. Ora o infinito fica longe: deve ser exorbitante o preço do bilhete. Daí que o pensamento, para não abandonar a finitude, aceite facilmente o que lhe dizem acerca desse algo indefinido que, mudo e remoto, nunca deixou pistas.
domingo, 20 de outubro de 2013
Pormenores
Publicada por
José Ferreira Borges
Conclui um membro de certa tribo que «2 + 2 = 5»: dá dois nós numa corda, dois noutra e junta-as mediante um quinto nó. O sinal «+» foi também adicionado. Bernard Shaw subverteu assim a regra de ouro: «Não faças aos outros o que gostarias que eles te fizessem: eles podem ter um gosto diferente.» Seria injusto ignorar os caprichos alheios. Nem a matemática falha nem a ética baralha — se todos os pormenores entrarem nas contas.
domingo, 29 de setembro de 2013
O eleitor de arquétipos
Publicada por
José Ferreira Borges
Amigo de dois políticos que eram adversários e se iam submeter ao escrutínio popular, a ambos prometeu, secretamente, o voto. Não lhes mentiu. Sendo platónico, acreditava na existência de Formas matemáticas eternas. No boletim, colocou metade da cruz num quadrado e a metade complementar no outro, esperando a união das duas no Quadrado absoluto, em pleno mundo inteligível. Talvez o desejo se tenha cumprido: nenhum dos dois candidatos venceu. Havia um terceiro — que atraía gente menos idealista.
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
«Alturas» e outras ambiguidades
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José Ferreira Borges
É por alturas que arrumo os livros: há alturas em que tento arrumá-los de uma forma; alturas há em que tento arrumá-los de outra. O critério actual vai destilando ambiguidade: arrumo-os, justamente, por alturas. Aprecio o arranjo externo que os irmana, intuindo o contraste que isso faz com a divergência interna que os separa. Um segundo critério poderá ser o da espessura da lombada. «Frequentemente», dirão os compêndios de matemática, «para achar um volume a régua basta.»
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
terça-feira, 17 de setembro de 2013
«Two kinds of people»
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José Ferreira Borges
Diz a anedota que, relativamente à matemática, há três tipos de pessoas: as que sabem fazer contas e as que não. Em termos gerais, a regra consiste em haver só dois. A ideia, que invadiu o cinema, radica na eterna luta de contrários, conhecida pelo menos desde a expulsão do Éden. Para extinguir tal cliché, dever-se-á criar um paradoxo. Só há dois tipos de pessoas: as que não se enquadram nisso e as que ficaram de fora.
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Nada garante que não seja veneno
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José Ferreira Borges
Numa disposição de pontos que faça lembrar um triângulo, a maioria percepciona, efectivamente, um triângulo: une os pontos com linhas imaginárias. Ninguém jurará não haver qualquer figura, embora o acto de suprimir mentalmente os pontos adquira, por comparação, igual legitimidade. Na base da resposta encontra-se a tendência para o «enchimento», também implícita na cansativa história do copo: o optimista vê-o meio cheio; o pessimista, meio vazio. Mas o que importa é saber de que bebida se trata.
quarta-feira, 29 de maio de 2013
O infinito e um instante
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José Ferreira Borges
Dividindo por zero a unidade, Bhaskara obtinha o imperceptível infinito. Também lograra calcular o instante em que os deuses consentiriam as núpcias da filha, destinada ao celibato segundo previsões astrológicas. À queda da última gota do vaso superior da clepsidra deveria suceder o «sim» de Lilavati. Mas uma pérola desprendera-se-lhe do colar, indo impedir a passagem da água derradeira. O desejado instante copiara o infinito: surgira sem o dizer, durara sem se mostrar, partira sem ser notado.
sábado, 20 de abril de 2013
O eu em exercícios
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José Ferreira Borges
«Sou resultado do que até agora fui», jura o cientista. «Não sou quem fui, só a antecipação do que hei-de ser», assegura o filósofo. «Sou o que sou, espelhado em tudo o que me cerca», acentua o místico. «Não sou senão inúmeros fragmentos que de mim restam», sublinha o poeta. O primeiro adiciona, o segundo subtrai, o terceiro multiplica, o quarto divide. E todos, deste modo, se entretêm a fazer exercícios matemáticos com as suas discretas ilusões.
sexta-feira, 5 de abril de 2013
Mais de sessenta mil
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José Ferreira Borges
Garantem especialistas que, ao longo do dia, passam pelas nossas cabeças mais de sessenta mil pensamentos. Ora isso equivale a supor que os pensamentos são realidades facilmente contáveis, perfeitamente circunscritas, e que surgem sempre de forma descontínua, lembrando um rápido galgar de poldras. Acontece, no entanto, que a vida mental é bem mais complexa e refinada, excepto porventura se gastarmos o tempo em actividades embrutecedoras — como a de contar os pensamentos que temos ao longo do dia.
domingo, 17 de março de 2013
No final de contas...
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Paulo Araújo
No 9.º ano, Pedro Passos Coelho foi o meu professor na disciplina de matemática — sim, é verdade. No final daquele ano lectivo deu-me uma rotunda negativa. Hoje compreendo como tal infâmia aconteceu. O agora primeiro-ministro não percebe nada de matemática.
sábado, 9 de março de 2013
Prazeres e números
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José Ferreira Borges
Epicuro valorizava os «prazeres estáticos», não os «prazeres cinéticos». Os primeiros identificam-se com a ausência de dor e de perturbação; os segundos expõem-nos à possibilidade de elas se manifestarem. Apliquemos-lhes a matemática: os «prazeres cinéticos» e o sofrimento equivalerão ao conjunto dos números reais, exceptuando o zero — o qual, portanto, corresponderá aos «prazeres estáticos». Aqueles têm o seu simétrico, positivo ou negativo. Estes, como o zero, são simétricos de si mesmos — sem hiato, nem sombra, nem distância.
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