Descem a vereda do parque em passo lento de sábado à
tarde. Vistos de costas, não se percebe se são namorados, se irmãos ou mãe e
filho (ela parece mais velha), mas essa dúvida é ainda mais espúria quando os
vemos posar para a fotografia: o que importa se o que encenam para a câmara é
amor romântico ou ternura familiar? No simulacro dos sentimentos é indiferente
o tipo de parentesco.
Mas nada impede a especulação literária. A vida não
impede geralmente a especulação literária. Fotografias sorridentes são
instrumento que as pessoas usam para acreditarem, a coberto dos anos ou da
distância, que em certo dia ou local foram felizes. A foto como alibi para a
auto-estima ou o optimismo. Talvez alguém naquele casal conhecesse já as
faculdades paliativas da nostalgia.