sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Veterinário vegetariano fundamentalista faz inspecção sanitária no mercado municipal
ou Vasco Câmara avalia o filme “Hannah Arendt”

cartaz do filme

Há dias fui especialmente ao Porto ver o filme “Hannah Arendt”, de Margarethe von Trotta, com Barbara Sukowa no papel titular. O tema interessa-me (em especial depois de ter lido As Origens do Totalitarismo) e o resultado no ecrã não me desiludiu, bem pelo contrário.

Foi por isso que me surpreendeu a classificação que Vasco Câmara, crítico do Público, lhe atribuiu: 1 estrela, o que na escala do jornal corresponde à apreciação de «Medíocre». Medíocre?!

Não consigo imaginar que falhas viu Vasco Câmara no filme para lhe dar um medíocre.

É uma história “hollywoodesca”, sem pés nem cabeça? Não: é uma história verídica.

OK, seja. Mas é uma história irrelevante? Não: trata do momento mais importante da vida de uma das mais importantes filósofas do século XX, tendo como pano de fundo um dos acontecimentos mais importantes do século XX (o Holocausto), concretamente, a polémica reportagem que a filósofa judia alemã Hannah Arendt fez do também polémico e mediático julgamento de Adolf Eichmann por Israel, em 1961.

Está mal filmado? Está mal representado? Não sou especialista nem numa coisa nem noutra, mas diria que não. A representação é realista, tendo em conta o perfil das personagens, e a filmagem é eficaz, sem espectacularidade, sem sentimentalismos, sem masturbações estéticas — como convirá quando se aborda um assunto, não só sério, mas verídico e sensível.

Porquê, então, uma só estrela?

A resposta não é que “Hannah Arendt” é, de facto, um filme medíocre; a resposta é que o filme de Margarethe von Trotta, seja por que razão for, não é o tipo de filme de que Vasco Câmara gosta, e isso basta: qualidade do argumento, da realização, da interpretação, é tudo irrelevante.
(Eu prefiro o verso livre e o tom desabrido de Álvaro de Campos ao metro rígido e ao tom contido da lírica camoniana, mas não meto no mesmo saco os sonetos de Camões e os do Chico Cheta...)

Vasco Câmara não é um crítico de cinema, de facto. Vasco Câmara é, mais propriamente, a versão cinematográfica do veterinário vegetariano fundamentalista que, posto a fazer inspecção sanitária no mercado municipal, classifica toda a carne à venda como «Imprópria para consumo».

1 comentário:

  1. "Vasco Câmara é, mais propriamente, a versão cinematográfica do veterinário vegetariano fundamentalista que, posto a fazer inspecção sanitária no mercado municipal, classifica toda a carne à venda como «Imprópria para consumo»"

    E teria toda a razão em fazê-lo pois a carne é cancerígena para o ser humano. Está mais do que provado. Foi um exemplo mal escolhido.

    ResponderEliminar