No Facebook, um amigo partilhou ontem uma imagem que, segundo quem a postou originalmente, «Não precisa de qualquer tipo de comentário. Está tudo lá escrito.».
Pois, simplesmente não está, de facto, tudo escrito: o autor da imagem “esqueceu” alguma informação, nomeada e convenientemente, aquela que destrói em absoluto a “teoria”, expondo a falácia.
Esqueceu-se, por exemplo, de dizer que o sistema parlamentar australiano comporta duas câmaras: a Câmara Baixa (Casa dos Representantes), com os tais 150 membros, e a Câmara Alta (Senado), com 76 membros. Isto perfaz um Parlamento nacional com 226 membros, quase o mesmo que Portugal (sistema unicameral).
Mas ainda há mais: a Austrália é um estado federal, dividido em 6 estados e 2 territórios. Cada um desses estados/territórios tem o seu próprio Parlamento, que na maior parte dos casos tem duas câmaras. Vejamos:
- Austrália do Sul: 47 membros da Câmara Baixa (CB) + 22 membros da Câmara Alta (CA) = 69
- Austrália Ocidental: 59 (CB) + 36 (CA) = 95
- Nova Gales do Sul: 93 (CB) + 42 (CA) = 135
- Queensland: 89 membros (Câmara única)
- Tasmânia: 25 (CB) + 15 (CA) = 40
- Vitória: 88 (CB) + 40 (CA) = 128
- Território da Capital: 17 membros (Câmara única)
- Território do Norte: 25 membros (Câmara única)
Isto quer dizer que o total de parlamentares na Austrália, entre nacionais e “regionais”, é de 824.
Quanto a Portugal, para além dos 230 deputados nacionais, tem 57 deputados regionais nos Açores e 47 deputados regionais na Madeira. Isto perfaz 334 parlamentares.
Ou seja, o número de parlamentares australianos é quase 2,5 vezes o de Portugal — embora “só” tenha o dobro da população.
(Como diriam os famosos cartazes: não brinquem com os números.)
O problema de Portugal não está no excesso de deputados — mas na sua qualidade. E, já agora, na dos eleitores também.