segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Não brinquem com números, respeitem os deputados!
(Pensando bem, não respeitem — se não merecem.
Mas respeitem os números, esses sim, respeitem sempre!)

No Facebook, um amigo partilhou ontem uma imagem que, segundo quem a postou originalmente, «Não precisa de qualquer tipo de comentário. Está tudo lá escrito.».

Portugal: 230 deputados; Austrália: 150 deputados

Pois, simplesmente não está, de facto, tudo escrito: o autor da imagem “esqueceu” alguma informação, nomeada e convenientemente, aquela que destrói em absoluto a “teoria”, expondo a falácia.

Esqueceu-se, por exemplo, de dizer que o sistema parlamentar australiano comporta duas câmaras: a Câmara Baixa (Casa dos Representantes), com os tais 150 membros, e a Câmara Alta (Senado), com 76 membros. Isto perfaz um Parlamento nacional com 226 membros, quase o mesmo que Portugal (sistema unicameral).

Mas ainda há mais: a Austrália é um estado federal, dividido em 6 estados e 2 territórios. Cada um desses estados/territórios tem o seu próprio Parlamento, que na maior parte dos casos tem duas câmaras. Vejamos:

  • Austrália do Sul: 47 membros da Câmara Baixa (CB) + 22 membros da Câmara Alta (CA) = 69
  • Austrália Ocidental: 59 (CB) + 36 (CA) = 95
  • Nova Gales do Sul: 93 (CB) + 42 (CA) = 135
  • Queensland: 89 membros (Câmara única)
  • Tasmânia: 25 (CB) + 15 (CA) = 40
  • Vitória: 88 (CB) + 40 (CA) = 128
  • Território da Capital: 17 membros (Câmara única)
  • Território do Norte: 25 membros (Câmara única)

Isto quer dizer que o total de parlamentares na Austrália, entre nacionais e “regionais”, é de 824.

Quanto a Portugal, para além dos 230 deputados nacionais, tem 57 deputados regionais nos Açores e 47 deputados regionais na Madeira. Isto perfaz 334 parlamentares.

Ou seja, o número de parlamentares australianos é quase 2,5 vezes o de Portugal — embora “só” tenha o dobro da população.
(Como diriam os famosos cartazes: não brinquem com os números.)

O problema de Portugal não está no excesso de deputados — mas na sua qualidade. E, já agora, na dos eleitores também.

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