domingo, 25 de agosto de 2013

Baile copular

A churrasqueira no Verão põe uma esplanada e música em colunas. A música que as colunas debitam é muito obviamente destinada a atrair ouvidos emigrantes, convidando-os a gastar parte das suas economias do ano nuns grelhados à maneira. No entanto, de forma menos óbvia, a música que se ouve não está acertada com o repertório pimba actual, há uma décalage, ou talvez uma nostalgia de quem foi emigrante no seu tempo. A estética dominante é a de Linda de Suza, o nacional cançonetismo da diáspora dos setenta, uma ou outra música tradicional. A emoção em vez do trocadilho e da alusão sexual obsessiva. E isso é quase comovente, quase desclassificamos como foleira a música que da esplanada abaixo da janela vem trazer ao nosso próprio jantar pequeno-burguês memórias de romarias e bailaricos, de quando disfarçávamos de subversão a afinal indisfarçável adesão ao ímpeto bailador, o de colar ao nosso um ritmado corpo feminino, na evocação ou antecâmara dos prazeres sensuais que é na realidade o baile*.

* E, no sentido desta exegese, o slow era a antecâmara do sexo tântrico.

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