1.º de Dezembro
O dia em que Portugal celebra o facto de ser menos importante do que a Catalunha.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
História de esguelha
quarta-feira, 30 de novembro de 2016
Chapa Cinco (x 2)
Não sei se é directiva nacional ou idiossincrasia da delegação cá do burgo, mas a Segurança Social responde às reclamações sempre com duas cartas.
A primeira serve unicamente para avisar que a resposta virá na segunda.
A segunda serve para, de facto, não responder ao teor da reclamação.
sábado, 12 de novembro de 2016
O actor e a contra-regra:
Pedro e Mónica na Terra da Carochinha
A versão de Pedro Dias, alegado homicida de Aguiar da Beira, tem tantos buracos, que até estou a pensar substituir o escorredor de alimentos...
13:30
— O Pedro conhecia os agentes da GNR que o abordaram?
— Não, senhora. Não os conhecia de modo algum.
— Nem nenhuma das pessoas que aparecem nas notícias como suas vítimas?
[Pedro Dias olha de relance para a advogada, Mónica Quintela.]
— Não, senhora.
— Mas esteve com elas todas...
— Não.08:12
— E não sequestrou pessoas?
— De maneira nenhuma. Essas pessoas até o relógio me emprestaram.
— E não roubou carros a essas pessoas?
— Não, pedi o carro emprestado.18:38
— Nunca roubou?
— Não... Hã, roubei... Roubei meio frango de uma arca de um amigo meu, conhecido.
— De um amigo...?
— De um amigo. Que não soube que eu lá estive.07:11
— O que é que a sua família soube, até hoje, sobre si? Nestas últimas quatro semanas.
— Nada, absolutamente nada. Não consegui comunicar com ninguém.
— Não o ajudaram? Foi dito várias vezes que o Pedro tinha sido ajudado.
— Coitados, como é que me ajudavam?! [...]
Ou seja, os familiares (que ele próprio reconhece que o amam) e os amigos nunca o ajudaram, mas as duas vítimas de agressão (espancadas, estranguladas, amordaçadas e atadas) da aldeia de Moldes, que nem sequer o conheciam, emprestaram-lhe o carro com que fugiu para Vila Real, e até o relógio de pulso! E tudo isto, apesar de que não só Pedro Dias não as conhecia, como nem NUNCA sequer esteve com elas... Há bons samaritanos!
06:13
— O Pedro Dias está em fuga desde o dia 11 de Outubro, é suspeito do homicídio de duas pessoas e de ter baleado outras três — assume a autoria destes factos?
— O senhor agente da GNR [baleado, mas que sobreviveu] terá certamente mais a dizer sobre o que me fizeram do que eu terei a dizer sobre isso...
— Mas assume a autoria desses homicídios ou não?
— De maneira nenhuma.11:12
— Para clarificar, o Pedro está a dizer-me que não matou ninguém, não roubou ninguém, não sequestrou ninguém, e que mesmo assim esteve em fuga quatro semanas...
— Sim, não fiz nada do que me acusam até agora.
— Nenhum destes crimes praticou?
— Nenhum desses crimes.
— Portanto, está a afirmar-nos com convicção que se sente um homem inocente.
— Sinto-me um homem inocente, com vontade de defender a minha honra.
— E sente alguma motivação para ter sido perseguido? Como é que justifica, então, que um homem inocente possa ser perseguido?
[Pedro Dias levanta os olhos para a advogada, que lhe sussurra, quase imperceptivelmente: «O GNR...»]
— O senhor GNR poderá facilmente responder-lhe a isso...13:30
— O Pedro conhecia os agentes da GNR que o abordaram?
— Não, senhora. Não os conhecia de modo algum.17:18
— Fui ameaçado [com o mandato de busca europeu] logo no primeiro dia, quando me telefonaram.
— Mas alguém lhe telefonou? Até que horas é que teve o telefone ligado? Com quem é que falou nas primeiras horas?
— Uma senhora sargento, que não lhe sei dizer o nome [Nota: noutra parte do vídeo, Pedro Dias identifica a sargento pelo sobrenome] que me ameaçou de morte, disse logo que eu corria risco de vida. Logo no primeiro telefonema que me fez.
— Recorda-se que horas eram?
— Umas nove e meia da manhã, talvez.
— De dia 11.
— De dia 11.
— E foi aí que decidiu pôr-se em fuga, ou já estava em fuga?
— Estava a caminho da minha família, que é o meu centro, o meu universo.
— E depois dessa chamada...
— E depois dessa chamada, mal recebi essa chamada, dez minutos depois estava a ser baleado no Alto da Freita.
— E foi aí que iniciou a fuga.
— Foi aí que tentei sobreviver.
Ou seja, Pedro Dias não conhecia «de modo algum» os agentes que o abordaram. Apesar disso, os dois agentes (um dos quais foi baleado mortalmente, e o outro com gravidade) «fizeram» algo a Pedro Dias (que saiu ileso, ao contrário dos dois agentes que «fizeram» não sei quê).
Mas, não obstante ter sido alegadamente “vítima” do que dois agentes lhe «fizeram» e de ter sido “testemunha” (presume-se, pois Pedro Dias nega ter sido ele) da morte de um militar da GNR, Pedro Dias não denunciou o crime que “testemunhou” nem o “abuso” que sofreu às autoridades. De facto, começou o novo dia como se nada fosse, estando normalmente a caminho da sua família.
(O argumento de que não fez a denúncia às autoridades por temer a GNR não cola: segundo Pedro Dias, ele não estava em fuga, e só soube que estava a ser procurado pelas autoridades às 9h30, quando foi contactado por telefone — isso apesar de umas horas antes ter “testemunhado” um agente da GNR a ser abatido à sua frente, coisa do mais normal do mundo, certamente.)
Parabéns, Dr.ª Mónica Quintela, faz tudo muito sentido.
terça-feira, 13 de setembro de 2016
Eduardo Cunha, o «preservativo político»
Eduardo Cunha é aquilo a que poderíamos chamar um «preservativo político»: dá jeito quando é preciso foder alguém, mas, terminado o serviço, o destino é o caixote do lixo.
quarta-feira, 7 de setembro de 2016
Dá Deus ovos a quem não tem galinhas
Isabel dos Santos, prendada filha do presidente de Angola, deu uma entrevista ao Financial Times onde refuta a ideia de que a sua fortuna advenha de “paitrocínios”. Não, segundo a empresária, é tudo resultado de um talento inato para os negócios:
«Tive sentido para os negócios desde muito nova. Vendia ovos quando tinha seis anos.»
Algumas bocas reaccionárias nas redes sociais logo ridicularizaram a afirmação: com que então, a herdeira do Presidente (José Eduardo dos Santos assumiu o cargo quando a filha tinha precisamente 6 anos) saía do palácio presidencial e ia fazer uns biscates como vendedora ambulante?!
Eu, em contra-ciclo, acredito piamente na história do negócio de venda de ovos — aproveitando aqui a oportunidade para, com atraso de quase 40 anos, apresentar a minha solidariedade à criança a quem Isabel dos Santos previamente os roubara.
sábado, 16 de julho de 2016
O melhor golpe é o «golpe do “golpe militar falhado”»...
Qualquer pessoa com dois dedos de testa já percebeu que o “golpe militar falhado” da noite de ontem na Turquia foi orquestrado pelo seu suposto alvo: Recep Tayyip Erdoğan.
Qual incêndio do Reichstag em 1933, o sultão de Ancara tem agora rédea (ainda mais) solta para exercer repressão e controlo sobre toda e qualquer oposição.
(A imagem que acompanha estas linhas tem vários trocadilhos em turco — por certo gramaticalmente errados, pois eu não falo turco...)
quarta-feira, 8 de junho de 2016
Being a hooligan
Estou de acordo, não se deve argumentar contra alguém com base nas suas características físicas. Mas o penteado destes dois faz por opção própria parte da sua facúndia. Por isso, não se chega ao âmago do pensamento deles sem penetrar na selva do couro cabeludo e sem cravar a picareta nas zonas mais profundas do rizoma.
O ogre republicano
terça-feira, 7 de junho de 2016
Avaliar pelas aparências
segunda-feira, 30 de maio de 2016
Petição pela atribuição da Ordem da Liberdade (a título póstumo) a Mário Nunes, voluntário português do YPG na luta contra o autoproclamado "Estado Islâmico"
Texto da Petição:
Mário Nunes, que se saiba, o primeiro voluntário português a ingressar as YPG (Unidades de Protecção Popular, em curdo) na luta contra o totalitarismo do autoproclamado “Estado Islâmico”, disse em 2015 que «preferia morrer a não fazer nada».
Segundo notícias recentes, entretanto confirmadas, um ano depois Mário Nunes morreu em resultado da sua luta contra a opressão terrorista.
Alguns dirão que Mário Nunes foi um traidor à pátria, pois, sendo militar, desertou do seu posto numa messe da Força Aérea Portuguesa para ir lutar integrando um grupo paramilitar não reconhecido pelo Governo de Portugal.
Quem assim pensa comunga do “legalismo” de Adolf Eichmann e seus correligionários, para quem o que importava era obedecer à hierarquia instituída em vez de fazer o que era moralmente correcto. Mas desde os Julgamentos de Nuremberga que a Humanidade afirmou inequivocamente um princípio moral: o de que a obrigação de obedecer às hierarquias — e até à Lei — cessa quando a ordem dada configura um crime contra a Humanidade.
Mas o mal alastra-se (e haverá maior mal do que crimes contra a Humanidade?) não só porque alguns, fanáticos, intolerantes e aguerridos, o instigam e o praticam. Não: o mal alastra-se também porque uma enorme massa humana, podendo, nada faz para o impedir. Assim, do “Princípio de Nuremberga” pode deduzir-se um corolário: o de que a desobediência (incluindo a deserção) é aceitável — e até um imperativo moral! — quando, perante crimes contra a Humanidade, a ordem é (implícita ou explicitamente) para nada fazer.
Assim agiu Mário Nunes: perante a inacção da esmagadora maioria do mundo civilizado, perante a ordem para nada fazer face ao horror na distante/próxima Síria, Mário Nunes tomou a iniciativa de dizer basta! Porque, como nos ensinou Antígona, e ecoando as palavras imortais desse outro herói nacional, Salgueiro Maia, «às vezes é preciso desobedecer».
Cremos, por isso, que Mário Nunes não só não é um traidor, como é merecedor do reconhecimento e do louvor nacional, na forma da atribuição, infelizmente a título póstumo, de um grau da Ordem da Liberdade, aquela que, segundo o art.º 28.º da Lei n.º 5/2011, de 2 de Março, se destina «a distinguir serviços relevantes prestados em defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e à causa da liberdade.»
Não encontramos melhores palavras que descrevam a decisão de Mário Nunes de integrar as milícias das YPG. Encontramos poucas pessoas tão merecedoras quanto Mário Nunes de uma tal condecoração.
Se concorda, assine a Petição.
sexta-feira, 11 de março de 2016
A Mulher Invisível
A RTP 2 transmitiu esta semana o documentário «A Longa Batalha das Mulheres Pintoras», sobre quatro séculos de avanços e recuos na luta pelo reconhecimento do direito de as mulheres serem artistas. A quem não viu e ainda puder ver, recomendo vivamente, pois é não somente interessante e informativo: é também esclarecedor e, por vezes, surpreendente.
Este assunto já tinha sido abordado numa conferência de Malcolm Gladwell, cujo vídeo traduzi há meses, mas com duas importantes diferenças: por um lado esse autor focava-se numa só artista, por outro enquadrava-a no âmbito mais vasto da discriminação de uma classe por outra.
O programa transmitido pela RTP 2 trouxe-me à lembrança uma colecção publicada nos últimos anos do século XX e que ilustrava, de forma quase caricatural, o quão enraizada ainda está a discriminação da mulher em geral e da mulher-enquanto-artista em particular.
A colecção — «Grandes Pintores do Século XX» — era composta por 48 volumes dedicados a outros tantos artistas:
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Isto das listas, já se sabe, é coisa sempre melindrosa: cada um tem a sua, e por vezes nem concordamos a 100% com a nossa própria lista.
Na minha assumida ignorância, detecto nesta colecção muitos nomes que desconfio não serem tão relevantes assim e, simultaneamente, saltam-me à vista muitas ausências surpreendentes: Gustav Klimt, Edward Hopper, Egon Schiele...
(Ressalva: tenho noção de que algumas das ausências se deverão, não à idiossincrasia dos critérios estéticos e artísticos dos organizadores da colecção, mas à mais prosaica questão dos direitos de reprodução das obras, que nem sempre terão sido conseguidos.)
Mas uma ausência é notória, e custa-me a crer que possa ser totalmente explicada pela inflexibilidade dos herdeiros dos artistas. Ou melhor, das artistas, porque a ausência — total! — a que me refiro é a de mulheres-artistas: absolutamente todos os quarenta e oito nomes da colecção são de homens. Todinhos.
Exactamente: nada de Georgia O’Keeffe, nada de Frida Kahlo, nada de Tamara de Lempicka — só para referir três nomes que, na minha cultura artística assumidamente limitada, me ocorrem sem esforço. Será crível que todos os herdeiros destas artistas — e de todas as outras que não me ocorrem mas que mereceriam figurar numa tal colecção — se recusaram a ceder os direitos de reprodução das obras? Dificilmente.
Mas, cereja em cima do bolo da gritante discriminação, os organizadores de uma colecção intitulada «Grandes Pintores do Século XX» acharam espaço para Toulouse-Lautrec, um artista que, tendo morrido a 9 de Setembro de 1901, viveu pouco mais de oito meses no século XX, sendo por isso mais correcto considerá-lo um pintor do século XIX.
Pior: também encontraram espaço para Vincent van Gogh, que morreu em 1890, isto é, mais de dez anos antes de começar o século XX!!!
E escusam de invocar como justificação o facto de que um e outro artista só tiveram o justo reconhecimento no século XX: mesmo a ser verdade (o que é discutível), não só é um argumento dificilmente defensável (a colecção é de autores «do» século XX, não de autores «famosos no» século XX), como, a sê-lo, então reclamo a inclusão dos artistas anónimos das grutas de Altamira e Lascaux no rol de «Grandes Pintores do Século XX»...
quarta-feira, 2 de março de 2016
O direito a ser burro
Henrique Raposo escreveu um livro.
Parece que o livro está devidamente indocumentado no que concerne o tema sobre o qual versa. Como diriam os anglófonos, «that’s reassuring»: ficamos com a certeza de que o livro foi mesmo escrito pelo seu alegado autor. (O mesmo não se pode dizer, segundo consta, da dissertação de mestrado de José Sócrates.)
Mas as reacções nas redes sociais não se fizeram esperar e, como soe nas redes sociais, assumiram dimensões imerecidas pelo calibre intelectual do escriba. Consta que descambaram mesmo em ameaças à integridade física de Raposo. A galeria onde deveria decorrer a apresentação do livro acabou por cancelar o evento — não em protesto contra a falta de qualidade e rigor do livro, mas por medo da polémica.
Acho mal. Henrique Raposo é burro, e com todo o direito a sê-lo!
O homem não merecia que fermentasse em mim o desejo de dizer «Je suis Raposo».
(Um derradeiro rasgo de lucidez controlou-me a mão: o que saiu foi a imagem que acompanha estas linhas.)
quarta-feira, 13 de janeiro de 2016
O regresso aos Jedis
*Ou não é só dos filmes. Alien – O Oitavo passageiro é da mesma altura e sobreviveu muito melhor.
sábado, 9 de janeiro de 2016
Cortesãos de esquerda
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
Cinismo à portuguesa
«Tudo o que é demais enjoa, e ainda mais quando se faz vida disso. Se ninguém [o] refuta é precisamente porque o cromo se tornou inofensivo por ridículo.»
«Paulo Morais (…) exibe a sua mania da corrupção, de uma maneira insultuosa e quase alucinada.»
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
A timidez e o ‘piropo’
«Eu sou um típico caso de pessoa tímida, não gosto muito que olhem para mim, mas sei que isso é um defeito (…)»