domingo, 25 de agosto de 2013

Casais pés-de-trigo-ondulando-na-seara
ou A curiosidade no processo evolutivo

Depois dos casais vice-versa (registados aqui), temos os casais pés-de-trigo-ondulando-na-seara. O seu amor e a sua identificação cumprem-se na forma como se inclinam para as mesmas curiosidades, soprados pela mesma brisa. Como olham levando a cabeça, o pescoço e os ombros atrás do olhar. Como parecem atravessar o vidro da montra que espreitam, esticar a cabeça e o corpo para entrar nas portas dos estabelecimentos que cruzam sem no entanto abandonar o passeio diletante pelas ruas da cidade. São a versão transeunte do fab four homem-elástico, a sua versão casal-em-passeio-nocturno-pós-prandial. Vemo-los esticar o pescoço para os pratos e os menus de quem ainda come nas esplanadas que eles cruzam; virar em sincronia aquática as cabeças para a gente que passa.

Dir-se-ia que a característica que os define e une mais enquanto casal é a elasticidade, síncrona e por vezes quase frenética, que exibem do torso para cima, mas há quem defenda que é apenas a curiosidade. A curiosidade moldando o corpo. Os seus descendentes, se eles legarem também o gene indiscreto per saecula, serão como pequenas girafas balanceando na ponta de um longo pescoço uma pequena cabeça de olhos protuberantes que não perdem pitada da vida na savana.

Sem comentários:

Enviar um comentário