quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Para uma história dos penteados

Uma das coisas mais difíceis de abandonar no final da adolescência é o penteado. Demoram-se anos, laboriosos anos, a atingir aquele insatisfatório resultado complexo e quando finalmente nos resignamos a ele chega a tropa ou a idade adulta, com as suas convenções, embaraços e barbeiros. Alguns adultos em particular, tendo atingido o estrelato nos anos setenta, quando eram meros pós-adolescentes, sentiram-se dispensados de fazer a transição capilar. Um pouco por coerência com a postura irreverente da época, um pouco por receio de ficarem irreconhecíveis perante os fãs se uma tesoura lhes passeasse sibilando pela cabeça.
Na verdade, o estatuto de rocker dos setenta, invocado igualmente por tanto roadie e fã ignoto, apenas serviu como desculpa para não enfrentar no espelho a angústia e as indagações hamletianas suscitadas por um crânio nu. É certo que os fãs reconhecem uma cabeleira de 1975 quando vêem uma, mas acontece frequente e jocosamente perguntarem: «quem diabo é aquele gajo barrigudo debaixo da trufa do Robert Plant?» Donde os hoje engravatados descendentes do flower power poderiam aprofundar a exegese e inferir que a força de Sansão não vinha dos seus longos cabelos.
Por mim, nada tenho contra quem decide ser contabilista, agente funerário ou pai de família das raízes do cabelo para baixo e manter-se dali para cima nostálgico de certos riffs de guitarra e torsos nus (tenho até ternura). A minha preocupação é estética. É que muitos destes homens esquecem-se também da calvície e a certa altura já nem a barriga nem os três raros embora longos cabelos que lhes restam evocam algo mais do que uma personagem mal desenhada de Tim Burton.
Por falar nisso, temos de conceder que é ainda mais embaraçoso ser-se um gajo barrigudo debaixo de um penteado dos anos oitenta. Bem, sempre foi embaraçoso estar-se debaixo de um penteado dos anos oitenta, mas é um pouco sádico que continuem a esconder isso do Robert Smith.
Já os Duran Duran seguiram o caminho sensato que a maioria de nós seguiu logo nos noventa: aparar as pontas de modo que ainda sobrasse uma ideia do que tinha sido o nosso penteado e, para combater o sentimento de perda, coleccionar espanadores exóticos e coloridos.

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