quarta-feira, 29 de maio de 2013
O infinito e um instante
domingo, 26 de maio de 2013
Aversão
sexta-feira, 24 de maio de 2013
A propósito de Wagner (ou não)
Há Wagner há duzentos anos, é claro, e toda uma galeria de compositores antes e depois dele. Mas, embora ame e rejubile com a música clássica (ou erudita ou o que quiserem), temo ser demasiado plebeu para encarnar um verdadeiro amante do género. E talvez a pop seja uma sina dos que formam o carácter nos anos oitenta do século XX.
Nunca nenhum disco tocou tanto nas minhas orelhas como Snow Borne Sorrow, dos Nine Horses (David Sylvian). Há certamente aberturas mais respeitáveis nos anais da música, mas o falso optimismo ou alegria melancólica de “Wonderful World”, primeiro tema do álbum, é que põe os altifalantes do Chevrolet a vibrar, dando um sentido ao Inverno ou, se nos permitirmos certa indulgência, um slogan à Primavera.
E depois há o terceiro tema, com o contrabaixo a marcar-nos a pulsação — cujo título, “The Banality of Evil”, nos pode afinal remeter para Bayreuth.
Verificações
quarta-feira, 22 de maio de 2013
Superstições
Frase do dia (2)
«Pai de Passos Coelho aconselha o filho a demitir-se. “Isto não tem conserto. Entrega isto.”»
A argumentação é mais de avô, mas certos pais conseguem também este grau de indulgência e cumplicidade, tomando sempre o partido da prole. Como se depois de o estouvado do rapaz se ter mandado contra o louceiro, deixando tudo em cacos, o avô (no caso, o pai) fizesse a proverbial vista grossa e, tipicamente, com infinito amor, admoestando o móvel em vez do fedelho, sentenciasse: «Deixa lá, a louça não prestava.»
Para aplicar um correctivo à criatura teríamos de invocar uma perceptora. Ou uma governanta mais afeiçoada à louça do que ao pequeno lorde. Não se põe de parte que ande por aí alguma.
Frase do dia (1)
Jogos de palavras orwellianos são tão habituais neste Governo como respirar. E ele está ofegante.
A frase, bela e lapidar, é de Pacheco Pereira, a propósito da novilíngua do Governo, onde “requalificar” significa despedir.
P.S. Pacheco não a escreveu bem assim; retoquei-lhe um pouco estilo, mas não o sentido.
terça-feira, 21 de maio de 2013
segunda-feira, 20 de maio de 2013
Gavetas exigentes
Livros excessivos
Hoje à tarde, enquanto exercitava os bíceps com o calhamaço (minto, enquanto o tentava encaixar no Skype), um novo marcador verde se revelou. Foi aí que me lembrei de alguém ter dito que o livro vinha com dois, um para as páginas principais, outro para as notas.
Há bocado não dava com as chaves de casa e ocorreu-me logo que poderiam estar dentro da Piada Infinita. Não estavam. Mas encontrei lá o corta-unhas que usei depois do banho. E o suplemento de emprego do Expresso.
É por estas coisas que o livro se torna pesado e difícil de ler, não pela escrita do autor. A Quetzal não podia tê-lo dividido em volumes? Ou pelo menos arranjado uma capa dura? É que daqui a pouco vou-me deitar e já tremo só de pensar no esforço para segurar o livro. No meu último pesadelo ele caiu-me na cara. Ainda vou ter de tirar preventivamente a cana do nariz, como diz que fazem os boxeurs.
Personagens incríveis: Maria Teixeira Alves
Há pessoas que pensamos que não existem, são mera ficção hilária. Maria Teixeira Alves, jornalista, blogger e depósito de preconceitos, é uma delas. Pela forma como escreve e argumenta, é um permanente atentado à língua e à inteligência. Mas isso não a coíbe de dividir os jornalistas em duas classes para criar o seu próprio pedestal: os engajados e os que têm «muito» mérito. «Acho que é fácil perceberem porque continuo a ser jornalista», diz ela sem rebuço.
Leia-se esta pérola:
«Os ignóbeis socialistas e bloquistas vão levar amanhã mais uma vez a adopção de crianças por duas pessoas homossexuais do mesmo sexo que vivam juntas, ao Parlamento. Não se enganem, todas as manifs, todos os Grandolas Vilas Morenas, todos os Galambas e Dragos, todos os actos de terrorismo de interrupção de membros do Governo em actos públicos, têm um único objectivo "dar crianças aos homossexuais".»
A senhora não é uma figura patusca do Portugal profundo, é jornalista do Diário Económico e escreve no Corta-Fitas. Para uma risada mais cómoda, pode ser lida no seu próprio blogue, humildemente intitulado Farpas. Mas atenção: Maria Alves avisa que escusam de ir lá insultá-la, porque ela não dá cobertura a insultos. Não precisa. Como alguém comentou algures, a sua retórica insulta-se a si própria.
domingo, 19 de maio de 2013
A fé é o que nos salva (1)
O título desta nova série da minha Wackypedia é uma homenagem à resposta circular que a minha mãe me dava quando, tendo-me anteriormente dito que era preciso ter fé para nos salvarmos, eu lhe perguntava o que era isso da «fé».
sábado, 18 de maio de 2013
Trindade e futebol
quinta-feira, 16 de maio de 2013
O vendedor de metáforas
terça-feira, 14 de maio de 2013
O lugar das dúvidas
Reinterpretando as profecias
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Gestão orçamental na casa de um socialista encartado
O cenário descrito por Inês Teotónio Pereira só prova que a senhora não sabe educar os seus filhos, ao contrário do que tenta convencer-nos no início do texto.
(A autora do artigo do jornal i parece acreditar que educar filhos consiste em repetir-lhes ad nauseam um ideário político-social. Falando com a experiência, não de pai, mas de filho, trago-lhe uma má notícia: não é por aí. Educa-se pelo exemplo, não pela doutrinação.)
E está visto que, tal como a honestidade e a boa administração da coisa pública, também a educação dos filhos não segue as linhas de fractura ideológicas.
O meu pai, que era socialista encartado, sempre nos deixou bem claro que havia deveres. O dinheiro — o pouco dinheiro — que íamos tendo no bolso, não era atribuído em jeito de mesada ou semanada, conceito que nos parecia ficcional (de resto, só o conhecíamos dos livros dos Cinco ou dos Sete...).
Não, o pouco dinheiro que tínhamos, recebíamo-lo no fim de cada período escolar, segundo uma tabela pré-estabelecida, por cada 3, 4 e 5 (estava fora de questão haver um 2: se houvesse, não havia dinheiro nenhum). E tinha que durar o trimestre inteiro, até que as notas nos dessem (se fossem boas) direito a mais algum. Era, por isso, preciso saber administrar um orçamento — um parco orçamento. E nós sabíamos.
(OK, em abono da verdade havia fontes de rendimento adicional, de periodicidade não trimestral: a casa, o jardim e o não tão pequeno quintal das traseiras tinham muito trabalho para ser feito o ano todo. Entre limpar o pó e aspirar o chão, rapar as ervas dos malfadados caminhos de terra batida entre os canteiros, fazer a vindima, apanhar maçãs, peras e marmelos, regar a horta, semear e apanhar batatas, entre outras tarefas, havia diversas formas de enriquecimento lícito.)
Esta minha dependência do que o meu pai me dava (uma espécie de transferência do Orçamento de Estado para as autarquias, simplesmente a “autarquia” que eu era tinha de demonstrar os seus méritos) durou uns 7 anos. Se não me engano, foi no 8.º ano de escolaridade que consegui uma bolsa: como era bastante mais do que o meu pai antes me dava, podemos dizer que foram os meus Fundos Comunitários. Mas não eram a fundo perdido, ou melhor, os fundos só continuavam a chegar se a cada trimestre eu fizesse prova de resultados merecedores. (Por isso, aquilo por que o Gaspar está a passar, com avaliações periódicas da Troika, conheci eu em 1986 — a diferença é que eu não fazia asneira entre cada avaliação, de forma que a “troika” que decidia se a minha bolsa continuava a ser-me paga não teve de relaxar uma e outra vez os critérios que eu era obrigado a cumprir...)
Mantive esta bolsa até ao fim do Ensino Secundário e ainda (crescida no seu valor) durante os cinco anos da minha licenciatura (agora prestando provas a cada semestre). Foi a minha única fonte de rendimento até ter o meu primeiro salário, aos 23 anos.
Ah! Resta dizer que a dita bolsa (que a minha irmã também recebeu) não foi atribuída pelo Serviço de Acção Social Escolar ou outro qualquer organismo do Ministério da Educação ou do Estado.
(Se a situação financeira da minha família foi certamente um factor tido em conta — era um só salário de quadro médio a entrar numa casa com três filhos em idade escolar —, a instituição pagadora deixava claro que o critério principal era o do mérito escolar, periodicamente medido pelas classificações alcançadas no decurso de 10 longos anos.)
Como se chamava a instituição que me atribuiu a bolsa?
É com vergonha que admito chamar-se Fundação Calouste Gulbenkian — essa instituição desconhecida que, segundo a avaliação do ministério de Vítor Gaspar, é menos «pertinente/relevante» do que a notável Fundação Social Democrática da Madeira...
A farsa de Inês (Teotónio) Pereira
Em tempos melhores do que este, até poderíamos defender a autora na parte que diz respeito à educação dos seus filhos. Ela é acusada de não os saber educar e essa acusação é injusta. A maioria dos que a acusam (apegando-se à irrelevante fábula que ela escreveu em vez de à moral da história nela implícita) não pode reivindicar para si mesma um trabalho melhor do que o dela. Se o pudesse, o mundo adolescente não era a barbárie fútil e assustadora que sabemos ser esmagadoramente.
Os problemas da farsa de Inês Pereira são outros, os que referi.
A inoportunidade. Por mais críticas que haja a fazer ao socialismo (ou melhor, ao PS, não temos de partilhar do preconceito da senhora quanto à ideologia), parece um anacronismo ou uma desfaçatez insistir no exercício depois de dois anos de despautério PSD/CDS. No mínimo, a incompetência e a vilania de Passos e Portas deveriam moderar-lhe o discurso.
O maniqueísmo. No universo a preto e branco da senhora Teotónio Pereira, o adolescente típico que ela no fundo descreve é “socialista” porque ela odeia o socialismo. Mas na verdade, não só são também assim “socialistas” os adolescentes PP e PSD, como o têm igualmente sido os políticos desses dois partidos.
O problema português foi (e é) comportamental (e transversal) e a senhora quer fazer-nos crer que é ideológico. Que os defeitos não são de carácter mas de filiação partidária. Que não foram a corrupção, o nepotismo, a irresponsabilidade, o oportunismo e outros vícios da índole lusa a trazer-nos aqui, mas as convicções políticas de alguns. Que se a ideia de Passos de criminalizar os governantes nocivos fosse avante se deveriam prender todos os que professam o socialismo, não os que cometeram crimes ou esbanjaram dinheiro. No fundo, Inês Teotónio Pereira quer que a esquerda seja, não uma posição política, mas um estigma social, talvez o cadastro policial de uma agremiação criminosa.
Na sua concepção maniqueísta do mundo, Inês Teotónio Pereira não se coíbe de implicitamente defender que do outro lado da barricada, do seu lado, as pessoas são justas por natureza, e se têm dinheiro é porque é delas por direito. O seu penúltimo parágrafo é uma defesa pungente desta ideia. Reparem que não há lugar no argumentário da senhora para questionar quem tem o dinheiro. Os socialistas são quem arruína as nações. Os ricos, se têm o que têm, foi porque, justa e impolutamente, o mereceram. É feio invejá-los. Proibido questioná-los. E isso que ela diz aos seus filhos e ao país.
Nariz de vidente
(Quando escrevi este nanoconto, há anos, não poderia prever as voltas que a ideia daria...)
Não acabem com a crise
Os meus domingos, sempre que possível dias de retiro, de devaneios bucólicos, são frequentemente assolados pela perplexidade. Não é apenas o ciclo da Natureza, o seu definhamento belo no Outono, ou o milagre biológico e estético da renovação primaveril. Surpreendem-me sempre o amarelo e o lilás de hectares de giestas e urzes floridas, e nunca fico imune a um bosque renovado de verde.
Mas a verdadeira perplexidade vem quando me encontro sozinho no meio de certa propriedade onde a beleza outonal ou primaveril dos bosques ocorre como num privativo jardim edénico. A verdadeira perplexidade e a verdadeira alegria.
Em tempos usada para lazer da classe alta, esta propriedade, privada mas de (potencial) uso público, foi abandonada devido à mudança dos hábitos de ócio, à substituição dos destinos turísticos. Na minha infância e adolescência, o sítio era usado por alguns autóctones para piqueniques, para tardes de lazer. Hoje, salvo raras e fugazes visitas de um ou outro nostálgico que vem num relance conferir o estado das coisas, não se vê por ali vivalma, e eu e os meus livros agradecemos.
Faz-lhe uma tangente um rio, com a sua ponte românica e os seus moinhos em ruínas, invadidos pela vegetação. Tem no perímetro e nas imediações pinhais e carvalhais. Dentro de muros há uma grande variedade de árvores que para minha vergonha não sei nomear. Tem diferentes zonas de sombra (densa ou apenas de sol coado) e prados onde estender largamente o corpo ao sol. Tem memórias em velhas paredes e telhados abaulados. Não tem gente. Porque, dir-se-ia, este género de bucolismo já não faz a alegria das pessoas.
Enquanto eu por ali sonho com uma herança que me permita tomar posse daquele território e proteger o paraíso, outros em gabinetes municipais sonham com revitalizar a propriedade. Um dos poucos visitantes com quem me cruzo um dia, informa-me que a Câmara local ficou com a concessão do sítio e pretende resgatá-lo para uso turístico, construir um restaurante, coisas dessas. Como que a adivinhar os meus pensamentos (os meus receios, o meu justificado preconceito em relação aos poderes municipais), a pessoa informa-me também que o primeiro passo daquela “revitalização”, segundo fonte oficiosa, poderá ser o abate de pinheiros. Até já estarão marcados. Despeço-me com um nó na garganta a fingir deambulação sem norte, mas com o pânico instalado de ver com os meus olhos as famigeradas marcações. Não as vi, mas não fiquei descansado. A ideia, infelizmente, não é absurda.
Obrigo-me agora portanto a adicionar ao meu sonho de herdeiro um que prolongue a crise, que inclua o fim do QREN, o fim das ajudas comunitárias a projectos de revitalização. Um sobre bancarrotas municipais que durem até uma geração mais verde tomar o poder. (Sim, bem sei que faria melhor em apostar apenas na quimérica herança ou no desconchavar europeu.)
domingo, 12 de maio de 2013
Gostar de ler
quinta-feira, 9 de maio de 2013
Declínio
De regresso ao folclore
Os últimos dez anos estiveram ao serviço de uma particular forma de crueldade: mostraram como Portugal poderia ser culturalmente descentralizado e como as berças poderiam ser um pouco sofisticadas, cosmopolitas. Em vão. Brevemente sofreremos não só com o que poderíamos ser mas também com o que por instantes fomos. Há uns anos só tínhamos saudades do futuro — agora teremos também saudades do passado recente.
Nada que aflija os nossos conterrâneos que estão no Governo ou que por lá passaram: cumprindo o seu dever de anjos camilianos, não os ocupa a decência, quanto mais a província. Mas também seriam de pouca utilidade: a província dispensa mais fãs do Politeama.
Há os outros, claro, os que vão à Bertrand do Chiado sem ser em turismo. Mas nem estes evitam a condescendência: se regressam quotidianamente à terra, fazem-no em safari, embevecidos com o pitoresco.
Não os censuremos, contudo. Se nós próprios temos tanto jeito para fazer de castiços e saltitantes pigmeus.
terça-feira, 7 de maio de 2013
«No Man's Land» e «Nowhere Man»
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Para autores potenciais de livros de auto-ajuda
Com Gaspar e o seu Governo socioterrorista, a estupidez ganha sempre nova e crescida dimensão
O Governo Gaspar continua a mostrar a sua raça.
Agora ficamos a saber que os funcionários públicos que aceitarem a rescisão amigável do seu contrato nunca mais poderão voltar a trabalhar ou prestar serviços a qualquer órgão da Administração Central, Regional ou Local, empresa ou instituto público.
Além de ser uma inaceitável (e inconstitucional*) limitação aos direitos dos cidadãos, é uma estupidez completa.
Então, e se o funcionário que rescindir entretanto se (re)qualificar? Por exemplo, um trabalhador-estudante que até agora era administrativo de um município aproveita e vai acabar o mestrado, sei lá, em Engenharia Civil. Segundo as regras anunciadas, este hipotético cidadão não pode, com as novas (e mais valiosas) qualificações, conseguir um novo emprego na máquina estatal, inclusivamente noutro município que não aquele onde antes trabalhou.
Quer isto dizer que, mesmo que tenha mais qualificações e competência do que outro, será esse outro (menos qualificado, mas “virgem” do Estado) que ficará com o emprego.
Parabéns, assim se promove a meritocracia!
* Constituição da República Portuguesa:
Art.º 13.º, n.º 2: «Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.»
Art.º 47.º, n.º 2: «Todos os cidadãos têm o direito de acesso à função pública, em condições de igualdade e liberdade, em regra por via de concurso.»
Art.º 50.º, n.º 1: «Todos os cidadãos têm o direito de acesso, em condições de igualdade e liberdade, aos cargos públicos.»
Idem, n.º 2: «Ninguém pode ser prejudicado na sua colocação, no seu emprego, na sua carreira profissional ou nos benefícios sociais a que tenha direito, em virtude do exercício de direitos políticos ou do desempenho de cargos públicos.»
domingo, 5 de maio de 2013
sábado, 4 de maio de 2013
A gargalhada
A cegueira, uma vez mais
(Vítor Gaspar, um caso psicológico — 4)
O Governo de Vítor Gaspar insiste. A recessão não dá tréguas, antes de agrava? Aplique-se uma dose mais forte do “tratamento” que deitou a economia por terra, a ver se é desta que resulta...
Em Setembro do ano passado usei pela primeira vez a expressão «cegueira ideológica» para classificar a acção e as opções político-económicas de Vítor Gaspar y sus muchachos. Os sintomas mantêm-se, como se constata.
Mais de seis meses depois, descobri que a doença já consta da literatura: Em Pensar, Depressa e Devagar, livro a que já me referi por várias vezes, Daniel Kahneman, laureado com o Prémio Nobel da Economia, dedica um capítulo a uma teoria económica que resistiu incontestada mais de 250 anos, apesar de ser relativamente fácil encontrar-lhe falhas graves. Escreve Kahneman (pp. 364–365):
O mistério é como é que uma conceção [...] que é vulnerável a contraexemplos tão óbvios sobreviveu durante tanto tempo. Eu posso explica-la através de uma debilidade da mente académica que observei muitas vezes em mim mesmo. Chamo-lhe cegueira induzida pela teoria: depois de terem aceitado uma teoria e de a terem usado como ferramenta no vosso pensamento, é extraordinariamente difícil reparar nas suas falhas. Se se deparam com uma observação que não parece encaixar no modelo, assumem que deverá haver uma explicação perfeitamente plausível que, de algum modo, vos está a escapar. Dão à teoria o benefício da dúvida, confiando na comunidade de especialistas que a aceitaram. [...]
No caso de Gaspar, sabemos agora, pelo menos um artigo de fé nunca foi consensual ou sequer aceite pela maioria da comunidade de especialistas em Economia — e há agora indícios bastante fortes de que os santos eram de pau oco. Mas os santos de pau oco também têm a sua legião de fiéis, como sabemos. E não das menos fanáticas.
sexta-feira, 3 de maio de 2013
Rumo ao silêncio
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Tranquilidade e diferença
quarta-feira, 1 de maio de 2013
A concretude da abstracção
Aleluia! Já temos o instrumento da nossa salvação! Viva São Vítor! D.E.O. gratias!
Jornal i: «DEO. Medidas de corte na despesa vão ser postas em discussão pública, diz Vítor Gaspar»
Expresso: «DEO de Gaspar ameaça com “saída do euro”»
(D.E.O. = Documento de Estratégia Orçamental)