domingo, 28 de dezembro de 2014
Selfie ou as faculdades paliativas da nostalgia
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
E-musas
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
Catalogue des prix d’amour
Mosquitos em Bruxelas parecia-me um contra senso, imaginando-os bichos eminentemente meridionais ou amigos de ambientes de gente pobre. Mas quando me começaram a cair no copo lembrei-me que sou pobre e meridional. Não, não foi isso. Quando passei a usar a vetusta base de copos como tampa contra os dípteros kamikazes, tomei consciência do sítio onde estava: La Fleur en Papier Doré (Het Goudblommeke in Papier para os amigos flamengos), um café que respeita o seu ilustre passado mantendo, quase sem a espanar, a decoração original. A Flor em Papel Dourado é um estaminet fundado em 1366, mas não creio que houvesse nenhum mosquito dessa colheita. Os que partilharam comigo o cabernet e mais tarde nadaram nos meus sucos gástricos deveriam ser do tempo da última remodelação do botequim, acontecida, diria, na transição de oitocentos para novecentos. Gosto de sítios assim, com verdadeira história. E se tomasse notas no meu moleskine (ou, menos romanticamente, usasse a câmara do telemóvel), poderia hoje reproduzir na íntegra, poupando o trabalho de inventar tema e coerência para um post, a piéce de résistance das antiquarias que enfeitam, emolduradas, amareladas e empoeiradas, as paredes da casa. Refiro-me ao tarifário de um prostíbulo, de 1915.
Pode ser encontrado na Internet. O "Catalogue". E o amor, parece.
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
A necessidade de flanar
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
Pihada triste
José Diogo Quintela (JDQ) assina no Público de hoje um artigo de opinião sobre a polémica à volta das declarações do ministro Rui Machete de que haverá jihadistas portugueses, a maioria raparigas, que querem desertar das fileiras do Daish.
(Ver o meu post sobre a adopção do termo Daish para designar o proto-estado terrorista surgido no Iraque e na Síria.)
Ao contrário de Ricardo Araújo Pereira (RAP), de quem li diversas crónicas, ouvi diversos comentários e vi diversas intervenções públicas — mais ou menos sérias, mais ou menos satíricas, quase sempre brilhantes —, de JDQ pouca coisa tenho lido, pelo que corro sérios riscos de injustiça no diagnóstico que agora avanço: a este “Gato”, ao contrário de a RAP, falta um pouco (para sermos simpáticos) de perna que lhe permita dar a passada que leva do humor puro e simples, com tons de nonsense, ao comentário jocoso e até sarcástico, mas certeiro.
Opina José Diogo Quintela:
Não se trata apenas de ter colocado em perigo as raparigas que se alistaram numa guerra. A inconfidência de Machete é um símbolo do desprezo deste Governo para com as condições de trabalho em que os jihadistas lusos espalham a morte na prossecução dos objectivos da organização terrorista onde são voluntários.
Os deputados da Comissão devem certificar-se que o Governo está a fazer tudo ao seu alcance para garantir o bem-estar dos nossos compatriotas terroristas. [...] Talvez fosse boa ideia enviar uma delegação da Autoridade para as Condições do Trabalho.
O texto de JDQ mostra que ao humorista falta pensamento estratégico: a sua sofisticação nesta matéria situa-se ao nível da dos intervenientes na “Liga dos Últimos” — ou, para usar uma referência mais contemporânea, ao nível da do ministro Rui Machete.
O caso Rui Machete, de resto, é deveras interessante, porque misterioso: estaremos perante um caso de discurso não filtrado pelo cérebro (aquilo que no meu Pátio chamávamos «ser boca de lavagem»), de burrice pura e simples, ou de senilidade? Pela minha parte, inclino-me para uma das duas últimas, em especial tendo em conta declarações posteriores do ministro, de que não teria «revelado a identidade de ninguém».
(Segundo as estimativas, haverá 12 a 15 portugueses nas fileiras do Daish, incluindo duas ou três raparigas. Mesmo não revelando as suas identidades, não será difícil às chefias do grupo terrorista vigiar mais atentamente uma dúzia de pessoas... Cereja em cima do bolo, tendo em conta que o ministro dos Negócios Estrangeiros revelou que os potenciais desertores seriam «dois ou três, sobretudo raparigas» — e admitindo que os jihadistas, ao contrário do ministro, sabem fazer contas —, a tarefa de descobrir os relapsos não é intelectualmente exigente, em especial para uma organização que, ainda que de cortadores de cabeças, vai além do machete.)
Mas voltemos a José Diogo Quintela: a sua ideia é, resumidamente, «Que interessa que o Daish limpe o sebo aos desertores? São todos terroristas!»
E é aí que JDQ está errado e demonstra o tal défice de pensamento estratégico: interessa, e muito.
Quem me conhece minimamente sabe que o bem-estar dos jihadistas, arrependidos ou não, é tudo menos uma preocupação minha. Mas nem só a preocupação pelo bem-estar dos outros alimenta o nosso interesse em mantê-los vivos: um desertor é uma aquisição valiosa.
Em primeiro lugar, um desertor pode revelar informação militar importante. Este, em princípio, não será o caso dos jihadistas portugueses, que, tanto quanto se sabe, terão “patente” relativamente baixa. Adicionalmente, e ao contrário do que JDQ dá a entender, não há qualquer indicação de que as “noivas da Jihad” estejam efectivamente a combater: conhecendo o que os fundamentalistas preconizam para as mulheres, o mais certo é que a participação destas se resuma ao apoio emocional dos combatentes, recompensando-os pela sua entrega à Causa do Profeta, e ao papel de parideiras; mulheres em armas, a combater, é coisa dos «apóstatas» curdos... Mas, ainda assim, o valor da informação que eles ou elas possuam só pode ser apurado se chegarmos a interrogá-los — circunstância que, médiuns à parte, requer que se mantenham vivos.
Em segundo lugar, um desertor pode ajudar a perceber como funcionam os circuitos de recrutamento dos radicais, como se processou tão rapidamente a sua adesão a uma versão tão extrema e violenta do Islão. Além de a reconstituição do seu percurso de radicalização permitir, eventualmente, chegar a “peixes” mais gordos, a simples compreensão dos mecanismos sociopsicológicos que levam à adesão à Jihad pode revelar-se valiosíssima no combate ao marketing jihadista.
Finalmente, a possibilidade de apresentar desertores da Causa é uma das melhores formas de a minar. As causas radicais vivem quase exclusivamente do monolitismo interno e da percepção de um confronto Nós/Eles. A existência de desertores entre as fileiras dos que realmente conhecem a verdadeira face da Causa — e que falam a mesma linguagem dos seus novos potenciais aderentes — será mais um trunfo no combate ao discurso radical.
Vamos abrir mão destes trunfos?
’Bora irritar o pseudo-Califa!
Este post destina-se a evitar a necessidade de, num outro post que conto publicar ainda hoje, abrir um longo parêntese a explicar por que chamo “Daish” ao proto-estado terrorista que surgiu na Síria e no Iraque, em vez de recorrer a designações mais comuns, como “Estado Islâmico”, “E.I.”, “EIIS”, “EIIL”, “I.S.”, “ISIS” ou “ISIL”.
A designação “Estado Islâmico”, além de ser a que eles preferem — o que só por si é razão para a rejeitar —, dá-lhes uma dignidade que eles não merecem. Acho que devemos evitar isso.
(Ao contrário de alguns apologistas, não sou de opinião que os terroristas do Daish «nada têm a ver com o Islão» — mas conceder-lhes alguma legitimidade nesse domínio, ainda que não totalmente descabida, é em última análise altamente contraproducente. Evitemo-la, portanto.)
Siglas como “E.I.”, “EIIS” e “EIIL”, resultantes de diferentes designações da organização em português, vão contra uma certa tradição de designarmos entidades estrangeiras pela sigla na língua original: donde, ETA (basco), IRA (inglês) e PKK (curdo), para referir apenas algumas.
As correspondentes em língua inglesa — “I.S.”, “ISIS” e “ISIL” — são ainda mais descabidas: nem são na nossa língua, nem na língua “oficial” dos terroristas, o árabe.
(Obviamente, boa parte dos membros do Daish sabem de árabe pouco mais do que «Allāhu akbar» e «sallallāhu ‘alayhi wa sallam» — da mesma forma que os católicos iam pouco além do «Ora pro nobis» quando o Latim era a língua oficial da sua religião.)
E assim chegamos a “Daish” (ou “Daʿish”).
O termo é um feliz acrónimo: simultaneamente uma sigla e uma palavra por direito próprio. Como sigla, é a transcrição do original árabe (داعش), sendo a designação corrente no Médio Oriente, incluindo entre os seus inimigos de língua curda; corresponde ao português EIIL e ao inglês ISIL, resultando de «الدولة الإسلامية في العراق والشام» ou «Estado Islâmico do Iraque e do Levante». Mas داعش é também, alegadamente, uma palavra árabe em si mesma, criando um trocadilho que irrita os terroristas assim designados: significa, de forma ironicamente certeira, «um intolerante que impõe as suas ideias aos outros».
Mas o valor de designar este proto-estado terrorista por um termo derrogatório vai bem para lá do prazer de irritá-los: as palavras são importantes; uma designação negativa mina a dignidade da coisa designada, diminuindo, ainda que marginalmente, a sua atractividade.
(Podemos ter certa afinidade por um qualquer Movimento Europeu pela Revogação dos Direitos de Autor — mas aderiríamos com convicção, e não por derisão, a um grupo chamado MERDA?...)
Querem melhor razão para adoptar o termo Daish?!
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
O direito à poligamia
Coisas que não anoto no moleskine (2): em Mainz
terça-feira, 21 de outubro de 2014
Coisas que não anoto no moleskine
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
Futuro próximo
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
Lógica “sareca”
O Carlitos, líder derrubado pela nossa revolução infantil, destacava-se no nosso pequeno mundo por ser o habitante do Pátio das Cantigas com mais designações alternativas: para além do diminutivo que sempre o acompanhou e da alcunha de Pinguinhas que lhe foi atribuída nas Piscinas Municipais por ter medo até da água do chuveiro, era principalmente conhecido como Sareco. (Por um curto período, foi ainda o Nugget, por razões que agora não vêm ao caso.)
O percurso etimológico que desembocou na alcunha de Sareco é algo tortuoso e merece ser explicado.
A tasca que viria a ser dos pais do Carlos Sareco pertencera anteriormente a um senhor de nome Acácio, mas comummente apelidado de Passarinho. Mudando a gerência do estabelecimento, o Rui, irmão um pouco mais velho do Nuno, logo promoveu o “trespasse” também do cognome: como a falta de à-vontade não permitia apodar directamente o casal de novos proprietários, a herança onomástica saltou uma geração, para o filho. E assim passou o Carlitos a ser o Passarinho.
(A jogada do Rui foi uma espécie de “preemptive strike” avant la lettre: o Sr. Acácio era padrinho da mãe do Rui, pelo que, a não serem tomadas medidas, não seria de espantar se a alcunha ornitológica transitasse para ele e os irmãos...)
Com o tempo, Passarinho passou a Passareco. Um pouco mais de tempo e a lei da economia ditou o encurtamento da alcunha para Sareco.
As relações entre os putos do Pátio eram em geral amenas. O mais das vezes dividíamo-nos segundo linhas aproximadamente geracionais (os nascidos nos anos setenta, os dos finais da década anterior e, já mais distantes em mentalidade e vivências, os do seu início), com alguma liberdade ou tolerância no convívio entre grupos etários: de quando em vez, éramos convidados para um jogo de Monopólio no sótão do João Luís, onde funcionava o clube a que também pertenciam o Rui e o meu irmão.
Apesar da paz habitual, por vezes, porém, as coisas azedavam; terá sido nestas circunstâncias que, num episódio que ficou famoso, o Rui acertou o passo ao Carlitos.
A violência não passou do muito moderada, eventualmente pouco mais do que uns calduços, mas era ver o Sareco descer as escadas a berrar como um desalmado, prometendo medidas retaliatórias:
— Isto não fica assim! Vais ver, vais ver... Vou dizer à minha mãe e ela vem cá e bate-te!
Detém-se a meio do caminho, vira-se e acrescenta, peremptório:
— E se ela não vier cá, vai lá tu!
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
A Morada da Sabedoria
Entre outras sonoridades igualmente melodiosas, o Bacalhau Caralho ecoava no hall de entrada do bastião do conhecimento, da arte, da investigação, dos valores académicos e humanistas por excelência.
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
O regresso da cantora careca
terça-feira, 9 de setembro de 2014
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
Os homens sobre as mulheres
O apêndice marital
terça-feira, 19 de agosto de 2014
Deserção à hora do chá*
«Pois eu queria ser um escritor inglês. Nem precisava, aliás, ser escritor. Inglês snob era suficiente. Ou apenas snob. Um snob convicto, sem escrúpulos nem clemência, em vez de português suave com filtro. Da próxima vez que der por mim com rosadas pretensões tugas, faço-me um ultimato britânico, juro. Antes a cor do sangue que o apelo do sangue, if you know what I mean.»
* Diálogo de uma novela por escrever.
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
Considerações sobre o bacalhau
terça-feira, 12 de agosto de 2014
Rule, Britannia!
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
Um preconceito demasiado familiar e uma tomada de posição pessoal
Circula na Internet uma petição a solicitar ao governo de Portugal a interrupção das relações diplomáticas com Israel (encerramento de embaixadas, etc.) até o «genocídio em Gaza» terminar.
Esta escolha de linguagem e o apelo a sanções diplomáticas fizeram-me antecipar a publicação da seguinte infografia:
Porque a realidade é esta: por via de um preconceito demasiado familiar, o “valor” de um cadáver árabe ou muçulmano é maior — muito maior — se o dedo puder ser (com maior ou menor propriedade) apontado a Israel.
Os menos de 2 mil mortos em Gaza são um «genocídio» — já a guerra civil na Síria, com mais de 200 mil mortos, é um detalhe que quase já nem passa nas notícias.
O padrão, de resto, é antigo: fala-se frequentemente da cumplicidade (por vezes, enganosamente, de autoria) do exército de Israel no massacre de Sabra e Shatila (1982), em que 750 a 3500 civis pereceram às mãos de milícias cristãs libanesas — mas esquece-se, no mesmo ano, o massacre de Hama, em que 10 mil a 40 mil cidadãos sírios foram massacrados pelo seu próprio governo.
E, ao mesmo tempo que a ofensiva israelita decorre em Gaza, os islamitas do ISIS decapitam e crucificam “hereges” na Síria, tendo conquistado recentemente a cidade de Sinjar, último refúgio de diversas minorias étnico-religiosas (yezidis, shabaks, xiitas...) no noroeste do Iraque, lançando igual perspectiva sobre o futuro desta gente.
Infelizmente, os exemplos poderiam continuar quase indefinidamente por praticamente todo o mundo árabe e muçulmano.
Who cares! Israel não está envolvido, está?
Não digo que todos os que assinam e divulgam esta petição, ou de outra forma se manifestam contra Israel, sejam antissemitas ou anti-judeus. Certamente que não: o activismo clica-e-partilha faz-se de muita inconsciência, ignorância e preguiça intelectual, também. Mas há muitos que, alegremente, saltam, como de flor em flor, do protesto contra as acções de Israel para a oposição à existência de Israel e, daí, para a apologia da perseguição aos judeus. («O Adolfo tinha razão» foi coisa lida recentemente em paredes.)
Porque, por muito que o custe dizer, o antissemitismo não tem as raízes secas e tem terreno fértil onde cair. (Não, não me refiro às críticas a Israel, muitas delas legítimas.) Viu-se recentemente, de forma particularmente caricatural, com o desaparecimento do voo MH370: não tardou muito para que surgissem mirabolantes teorias da conspiração sobre supostos interesses de um famoso banqueiro judeu; uns pouco comentários online bastaram para que o dedo acusador passasse do banqueiro em concreto para «os judeus». O facto de a “teoria” não ter pés nem cabeça era irrelevante (inclusive para a comunicação social que, em busca do eterno “colorido”, divulgou acriticamente a acusação).
Conforme disse no início, publiquei esta infografia antes do previsto. De facto, andava por estes dias a preparar um (previsivelmente longo) artigo onde exporia de uma forma sistematizada a minha posição quanto ao conflito israelo-palestiniano. É um exercício particularmente deprimente, porque se trata de fazer escolhas num conflito em que nenhum lado fica propriamente bem na fotografia. Nele discutiria, entre outras coisas, aqueles que considero serem os erros (e, nalguns casos, os crimes) de Israel. Isto porque não embarco em maniqueísmos acéfalos: não é por eu apoiar Israel que pinto a actuação do seu exército em tons de cavaleiro andante.
Nenhum dos lados fica bem na fotografia, é verdade — mas os dois lados não ficam iguais na fotografia.
O exército israelita cometeu crimes de guerra, certamente. (Algumas vez terá havido um exército, em cenário de guerra, que não os tenha cometido nunca? Duvido.) Mas a maioria desses crimes foram deliberadamente provocados pelo Hamas, como estratégia de relações públicas — estratégia, ela própria, criminosa. Um crime é sempre um crime, mesmo que em reacção a um crime anterior, mas ainda assim a superioridade moral de Israel fica aqui bem patente: existe, moralmente, uma diferença enorme — abismal, inultrapassável — entre ser implacável para com os nossos inimigos e ser maquiavélico na orquestração do telegénico massacre da nossa própria população.
O maior pecado de Israel foi deixar-se cair na emboscada mediática montada pelo Hamas.
Que fique claro, pois: apoio Israel. Porque, apesar das opções nem sempre correctas, o governo de Israel tem um objectivo legítimo: a defesa e a segurança do seu próprio povo. E, não obstante as imperfeições, Israel é um país livre e democrático: mesmo os seus cidadãos árabes (20% da população), ainda que vítimas de alguma desconfiança quanto à sua lealdade, são mais livres em Israel do que em qualquer país árabe.
O mesmo não se pode dizer do Hamas. Para o Hamas, o objectivo não é a defesa do povo palestiniano, que alegremente sacrifica, mas a promoção niilista da Causa da Fé. Uma vez vencido o «inimigo sionista», o movimento dedicar-se-ia à opressão do seu próprio povo, em nome de uma “pureza religiosa” que mais não é do que um outro nome para a barbárie obscurantista. (De resto, já o vem fazendo em Gaza.) Porque o Hamas não é um movimento de resistência palestiniano ou mesmo uma Organização de Libertação da Palestina (por mais imperfeita que esta seja). O Hamas é, assumidamente, um «Movimento de Resistência Islâmica» (sunita): toda uma variedade de palestinianos — cristãos, druzos, baha’i, muçulmanos xiitas — seria, em maior ou menor escala, excluída, subjugada ou perseguida.
(O mesmo vale para o Hezbollah, o autoproclamado «Partido de Deus», este da vertente xiita, particularmente activo no sul do Líbano.)
Mas tudo pode ser resumido a isto: apoio Israel porque uma versão israelita de mim — ateu e crítico de muitas das acções do governo e do exército — poderia viver a sua vida em Israel sem grandes medos de represálias. (Concedo: existem franjas na sociedade israelita que moralmente não distingo do Hamas — veja-se o assassino de Rabin.)
Mas, e quanto à Palestina do Hamas ou do Hezbollah? (Ou, diga-se em abono da verdade, quase todos os países árabes e muçulmanos...) Poderia o mesmo ser dito? Não, todos sabemos bem que não. Alguém como eu, sendo palestiniano, seria pura e simplesmente abatido pelo seu próprio governo (não por um tresloucado à solta: em Gaza os tresloucados estão no poder) ainda a tinta não tinha secado na palavra «ateu».
There is an English version of this text.
An all-too-familiar prejudice and a personal stand
There’s an on-going online petition asking the Portuguese government to suspend diplomatic relations with Israel (closing embassies, etc.) until the “genocide in Gaza” ends.
This choice of terms and the appeal for diplomatic sanctions made me advance the publishing of the following infographics:
Because the reality is this: thanks to an all-too-familiar prejudice, the “value” of an Arab corpse is greater — much greater — if a finger could (with more or less propriety) be pointed at Israel.
Fewer than 2,000 dead in Gaza constitute “genocide” — while the Syrian civil war, with over 200,000 dead, is but a detail we hardly hear about on the news.
This pattern is not new, by the way: we often hear about the Israeli army’s complicity (sometimes, misleadingly, the authorship) in the Sabra and Shatila massacre (1982), when 750 to 3,500 civilians were killed by Lebanese Christian militias — but more often we forget, in that same year, the Hama massacre, when 10,000 to 40,000 Syrian civilians were massacred by their own government.
And, as the Israeli offensive unfolds in Gaza, the Muslim radicals of ISIS behead and crucify “heretics” in Syria, and recently conquered the town of Sinjar, the last refuge for numerous ethno-religious minorities (yezidi, shabak, shia...) in North-western Iraq, casting a dark shadow over the fate of those people.
Unfortunately, the examples could go on and on almost indefinitely, visiting virtually the entire Arab and Muslim world.
Who cares! Israel is not involved, is it?
I’m not saying every single person who signed and shared the petition, or in any other way demonstrates against Israel, is anti-Semite or anti-Jew. Most definitely not: click-and-share activism thrives in ignorance and intellectual laziness, too. But many gleefully jump, as if from flower to flower, from protesting against Israel’s actions to opposing Israel’s existence and, from there, to advocating the persecution of Jews. (“Adolf was right” was something I read recently painted on some wall.)
Because, however hard it may be to admit it, anti-Semitism’s roots haven’t withered yet and there is plenty of fertile ground for them. (I’m not referring to criticism towards Israel, much of which is legitimate.) We could see it recently, in a particularly caricaturial way, with the disappearance of flight MH370: it wasn’t too long before some crazy conspiracy theories arose, linking it to some alleged interests of a famous Jewish banker; a few online comments down, and there we had the accusatory finger passing from that specific banker to “the Jews”. The fact that said “theory” couldn’t stand the slightest rational inquiry was irrelevant (including for news outlets, always looking for “colourful” ways to spice up their reports, who made the disservice of acritically passing along the accusation.)
As I said earlier, I’m publishing this infographics sooner than planned. In fact, I was working on an extensive article where I would present in a systematic way my standing on this whole Israeli-Palestinian conflict. It’s a particularly depressing exercise, because it’s about making choices in a conflict where both sides fail to look good on the picture. In that article I would discuss, among other things, what I consider to be Israel’s mistakes (and, in some cases, crimes). Because I’m not for brainless Manichaeism: it’s not because I support Israel that I’ll portrait its army as knights in shining armour.
Both sides fail to look good on the picture, that’s a fact — but both sides do not look the same on the picture.
The Israeli army committed war crimes, for sure. (Was there ever an army, in an actual war zone, that never ever committed any? I doubt.) But the majority of those crimes were deliberately provoked by Hamas, as a public relations strategy — a criminal strategy in itself. A crime is always a crime, even if it’s a reaction to a previous crime, but even so Israel clearly retains the moral high ground: there is a huge — abysmal, insurmountable — moral difference between being ruthless with our enemies and promoting in a Machiavellian way the telegenic massacre of our own people.
Israel’s biggest sin was letting itself fall in the media ambush set up by Hamas.
So let it be clear: I support Israel. Because, even with some not-so-acceptable decisions, the Israeli government has a legitimate goal: to defence and security of its own people. And, with all its imperfections, Israel is a free and democratic country: even its Arab citizens (20% of its population), though victims of some distrust vis-a-vis their loyalty, are freer in Israel than in any Arab country.
The same cannot be said about Hamas. For Hamas, the goal is not the defence of the Palestinian people, whom they gleefully sacrifice, but the nihilistic promotion of a Faith Cause. Should they ever defeat the “Zionist enemy”, the movement would devote itself to oppressing its own people in the name of some “religious purity” that is nothing more than an alternative name for obscurantist barbarity. (In fact, they’ve been doing it in Gaza already.) Because Hamas is not a Palestinian resistance movement or even some Palestine Liberation Organization (however imperfect this may be). Hamas is, in its own words, an “Islamic Resistance Movement” (specifically, of the Sunni kind): a whole spectrum of Palestinians — Christians, Druze, Baha’i, Shiite Muslims — would, with greater or smaller severity, be excluded, subjugated or persecuted.
(The same can be said of Hezbollah, the self-proclaimed “Party of God”, this one of the Shiite kind, which is particularly active in Southern Lebanon.)
But all this can be reduced to this: I support Israel because an Israeli version of me — an atheist and a critic of many actions of the government and army — could live a life in Israel with little fear of reprisals. (I concede: there are some fringes in Israeli society that, morally, I equal to Hamas — an example being the murdered of Rabin.)
But, what about Hamas’s or Hezbollah’s Palestine? (Or, truth be told, almost all Arab and Muslim countries...) Could the same be said? No, we all know it could not. Someone like me, should he be Palestinian, would plain and simply be wiped out by his own government (not by a free-range lunatic: in Gaza the lunatics are in power) long before the ink had dried out in the word “atheist”.
Disclaimer: This is a translation of a text originally written in Portuguese, and I'm not a trained translator.
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
quinta-feira, 31 de julho de 2014
Notas sobre uma aberração legal
Segundo o Jornal de Negócios, o Governo prepara-se para taxar telemóveis, tablets e todos os equipamentos digitais que possam gravar ficheiros, leia-se: pens e cartões de memória, discos rígidos, CDs e DVDs graváveis, caixas descodificadoras de televisão, etc., etc., etc. O dinheiro assim conseguido será usado para pagar direitos de autor, leia-se: entregar à Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) para que o distribua entre os amigos, segundo critérios que só a SPA conhece.
Esta legislação é uma aberração legal num Estado de Direito.
Taxar direitos de autor num produto, porque «pode» servir para um acto ilícito (armazenar ilegalmente imagens e sons sujeitos a direitos de autor) é uma flagrante inversão do ónus da prova.
Note-se: com tal legislação não estamos sequer no caso, já de si extremamente preocupante, de o Estado se furtar à obrigação de provar que determinado crime foi cometido por Fulano. Não, esta legislação, a ser aprovada, vai mais longe, desce mais fundo no poço autoritário: nem sequer é preciso ter havido crime, o Estado simplesmente pune (através de uma taxa) todo e qualquer adquirente, sob o pretexto de que o produto adquirido «pode» servir para cometer um crime! E usa o dinheiro para “indemnizar” a parte que talvez nem sequer tenha sido lesada.
Para esta aberração legal, é irrelevante que o equipamento adquirido nunca venha a armazenar produtos sujeitos a direitos de autor, ou que o faça legalmente. Eis a “igualdade” em versão Governo/SPA: pagam todos, do justo ao pecador.
No meu telemóvel não há músicas, vídeos só os feitos por mim, fotos só pessoais? Não importa: paga.
No meu PC só há software (gratuito ou cuja licença paguei), ficheiros Excel e afins, algumas músicas ripadas legalmente de CDs que comprei e cujos direitos de autor paguei? Não interessa: paga, paga de novo.
No meu iPod só há músicas compradas no iTunes, pelas quais também já paguei os devidos direitos de autor? Não importa: paga outra vez.
As músicas que tenho, adquiridas legalmente ou da minha própria autoria, não são de qualquer membro da SPA? Não interessa: paga — a SPA agradece.
Mesmo que nalgum do meu equipamento venham a existir produtos sujeitos a direitos de autor não devidamente remunerados, a taxa é cobrada no acto da compra do equipamento, isto é, antes de qualquer eventual crime ser cometido, pelo que a SPA não tem maneira de saber quais os autores lesados (e que, por isso, mereceriam ser compensados)? Não interessa: paga — os caminhos da SPA são insondáveis...
A aberração legal que constitui uma tal taxa sobre um ilícito potencial é mais claramente ilustrada com a aplicação do mesmo critério a outras áreas do comércio e da vida em sociedade:
Que, a partir de agora, todo o cidadão que compre uma faca seja condenado a passar um fim-de-semana na prisão — pois uma faca «pode» ser usada para matar alguém. Não é preciso provar que Fulano é um homicida. De facto, nem é necessário que tenha havido (ou venha a haver) qualquer homicídio. Uma faca tem um potencial homicida, a sua aquisição deve ser punida.
Pensando melhor, nem só de facas vive o homicídio. Há inúmeras maneiras de matar alguém, inclusive só com as mãos. Todo o ser humano «pode» vir a ser um homicida. Coerentemente, a partir de agora, que toda a criança seja à nascença condenada por homicídio potencial!
(Pena a ser cumprida apenas após alcançarem a maioridade — não somos bárbaros, quê!)
domingo, 13 de julho de 2014
Um postal e a falaciosa Aposta de Pascal
Num expositor destinado a folhetos promocionais e afins, na Universidade do Minho, deparo-me com um postal que, remetendo-nos para um site, questiona: «e se de facto DEUS existir?».
O postal não tem remetente, mas a ausência de selo levará o observador sagaz a concluir que terá sido o próprio Criador a fazer o envio: de que outra forma, se não por intervenção divina, teria um postalito desfranquiado chegado ali? (Deus, tal como os craques de futebol e outras majestades, refere-se a si mesmo na terceira pessoa.)
No verso do postal alguém deixara já a sua lacónica resposta: «Paciência!»
A questão «E se Deus existe?» foi posta, e respondida, pelo grande matemático e filósofo (etc.) francês do séc. XVII, Blaise Pascal. Dizia ele: Se Deus não existir, é irrelevante se sou ateu ou crente, pois, esteja certo ou errado, nada de transcendental existe; mas se Deus existe e eu for crente, tenho muito a ganhar (salvação eterna), enquanto se for ateu terei tudo a perder (danação eterna). Seguindo este raciocínio, numa espécie de cálculo daquilo a que a teoria económica chama função de custo, Pascal concluía que a melhor jogada era acreditar em Deus. Este “argumento” ficou conhecido como “Aposta de Pascal”.
O problema da Aposta de Pascal é que é uma falácia. De facto, várias falácias.
É, desde logo, uma falácia teológica. Pascal não acredita, de facto, que Deus existe: não tem uma fé no sentido exacto do termo (crença sem provas), nem sequer tem uma convicção fruto de qualquer análise e ponderação das eventuais provas a favor e contra a existência de Deus. A opção pascalina é estratégica, economicista, interesseira. Ora, sendo Deus omnisciente como (em geral) o pintam, esse Deus saberia que a fé e a devoção de Pascal não eram verdadeiras, mas calculistas. Um deus interessado, não na mera aparência, mas no que nos vai na alma (chamemos-lhe assim), condenaria por isso o pseudocrente/contabilista encarnado pelo filósofo francês.
A Aposta de Pascal — e a mentalidade subjacente ao postalito — corporiza também uma falácia lógica, concretamente, uma falsa dicotomia. Se os ateus estão certos (há várias estirpes de ateus, mas por simplicidade centremo-nos nos que negam totalmente a existência de entes divinos), então os crentes estão errados — mas se os ateus estão errados, não podemos dizer que então os crentes estão certos. Não há apenas uma concepção do divino; qual concepção, qual fé, é (nesta situação hipotética) a correcta?
Os ateus até podem estar enganados, mas, simultaneamente, também os crentes: o(s) verdadeiros(s) deus(es) pode(m) ser diferente(s) daquele(s) em que esses crentes acreditam. Há muitas maneiras de estar errado.
Daqui resulta a terceira falácia da Aposta de Pascal: vergonhosamente para alguém cujos contributos na área da Probabilidade lhe deram direito a emprestar o seu nome a uma distribuição, esta é, precisamente, uma falácia probabilística. Há uma tal profusão de concepções do divino (do monoteísmo estrito e do pseudomonoteísmo cristão, em especial católico, passando pelo deísmo e maniqueísmo, ao politeísmo clássico e ao xamanismo, culminando no politeísmo extremo — mais de 300 milhões de deuses! — do hinduísmo), cada corrente de pensamento dividindo-se frequentemente em subcorrentes cujas mútuas diferenças, não raro pentêlhicas, assumem proporções cósmicas, que a probabilidade de a nossa concepção em concreto ser a correcta é, por assim dizer, infinitesimal.
Como afirma Richard Dawkins no livro The God Delusion (erradamente traduzido em Portugal como A desilusão de Deus), todos somos ateus em alguma medida, pois negamos a verdade dos deuses dos outros (na Antiguidade os judeus e os primeiros cristão foram precisamente acusados de ateísmo) — os crentes no Deus judaico-islamo-cristão simplesmente suspendem a sua postura crítica um deus cedo demais...
Se atendermos ainda, como em geral é afirmado, a que Deus (ou o divino) é insondável, transcende o entendimento humano, então devemos ainda considerar a possibilidade de que, apesar da sua espectacular diversidade, nenhuma concepção teológica alcançou arranhar sequer a superfície da natureza divina: podemos estar todos errados!
Esta, de resto, é a suprema falácia teológica (pelo menos das religiões monoteístas mais importantes): ao mesmo tempo que afirmam a inefabilidade de Deus, as religiões digladiam-se, não raro literal e dasapiedadamente, à volta de certezas irredutíveis quanto aos desígnios divinos (o que Deus quer ou não quer, quem ama e quem odeia de morte).
O lacónico «Paciência!» no verso do postal despontou em mim um giocôndico sorriso, mas, como se vê por estas linhas, eu tendo a ser mais palavroso. Um milagre fez materializar-se na minha mão a providencial esferográfica com que escrevinhei o meu contributo...
domingo, 6 de julho de 2014
É caro e ineficiente manter o interior: encerra-o e deita fora a chave
domingo, 22 de junho de 2014
Elogio da impassibilidade
sexta-feira, 20 de junho de 2014
O Tua e a sua canção (ou)vistos pela nova direita
quarta-feira, 18 de junho de 2014
Lição n.º 1
O problema é quando algumas destas pessoas escrevem textos que, por uma razão ou outra, nos vemos forçados a ler. A sua forma «descontraída» de escrever geralmente significa que nós não vamos ter uma leitura descontraída, mas trabalhosa, aborrecida, tentando decifrar a sintaxe para conseguir chegar à semântica. Irrita-me quando antes de perceber a ideia ou argumento tenho de parar para perceber a frase. E irrito-me mais quando, depois de finalmente perceber a frase, descubro que não há uma ideia ou argumento (o que também é frequente).
Os praticantes desta «escrita descontraída», mesmo que pensem o contrário, são meros principiantes das letras e da comunicação. Não se relacionam suficientemente com a língua e a linguagem para perceber duas coisas:
1) Que as frases que escrevemos saíram da nossa cabeça e, por isso, somos capazes de entender facilmente um texto nosso, mesmo que ele esteja descuidado, mal pontuado, sem acentos e que ao escrevê-lo lhe tenhamos comido uma parte das palavras. Quem alguma vez se deu ao trabalho de rever a sério o que escreve sabe que é assim.
2) Aquilo a que noutros escritores chamamos de «escrita simples» é geralmente uma escrita bastante trabalhada — e que não ignora regras e convenções. Este tipo de «escritores simples» trabalha arduamente os textos para que a comunicação resulte límpida, transparente, sem dar trabalho desnecessário ao leitor (a não ser o que resulta da compreensão das ideias expressas).
Meus amigos: aspas, acentuação, vírgulas, pontos, travessões, itálicos (em estrangeirismos e títulos, por exemplo), concordância em género e número, correcta conjugação e aplicação de verbos, escolha rigorosa de adjectivos, etc. não são coisas antiquadas, desnecessárias, descartáveis. Não são, sequer, caprichos estilísticos de escritor. São a essência formal da comunicação escrita. Se não têm nada a dizer, não escrevam. Se acham que têm alguma coisa a dizer, lembrem-se que estão a escrever para seres que não convivem intimamente com os macaquinhos que vocês têm no sótão.
segunda-feira, 16 de junho de 2014
Love and War(paint)
https://soundcloud.com/manimal-vinyl/warpaint-the-chauffeur-1/s-FYTII
Problemas de habitação, no centenário de Sarajevo
«Aquilo era uma casa europeia habitada por uma família inteira no início do século XX, mas fazia-me lembrar as choupanas com que me deparava frequentemente na África rural. O princípio era exactamente o mesmo: um chão de terra batida numa habitação construída com paredes de pedra, sob um telhado feito de madeira, colmo ou ramos apanhados localmente. Uma taxa de mortalidade infantil que podia matar seis dos nove filhos da família Princip soava mais a África do que a Europa. O mundo desenvolvido podia desesperar perante os problemas sistémicos da África moderna, mas estar ali, naquele jardim de Obljaj, ensinou-me como grande parte da Europa estivera recentemente em situação similar.»*
* A partir do muito interessante excerto de O Gatilho, de Tim Butcher, publicado na LER de Junho.