terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O poder da televisão

Talvez o meu octogenário do post anterior ouça mesmo as cantigas da TV. Talvez as letras pimba lhe sejam agora toleráveis, as tome como evocações actualizadas dos tempos de magala ou de outros dias atrevidos. O próprio Herman José, antes para ele o Anticristo declarado, é hoje aceite em sua casa com bonomia, como mais um dos membros da família alargada (e sinistra) que a televisão lhe assegura. A ele e aos restantes idosos do país. O salazarismo ainda seduz muito velho, mas a TV impôs-lhes alguns costumes, algumas ideias (chamemos-lhe assim) de progresso ou evolução, deixou-os em certas áreas menos apegados ao espírito do Estado Novo. É este o poder da televisão.

O que faz pensar. Se a televisão conseguiu reconciliar aquela geração com os prazeres da juventude, aceitar a exposição dos corpos e da lascívia, tomar como seu e normal o quotidiano boçal e doentio das televisões, das suas novelas e talk shows, imagine-se que povo não teríamos hoje se as TVs não tivessem banido os livros e o teatro e as artes e a inteligência do ecrã. 

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