quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Voltar atrás

Motivo de análise psicológica é a afirmação que seguríssimas pessoas tecem segundo a qual, se voltassem atrás, fariam exactamente as mesmas coisas que até à data terão feito. Sendo, ainda por cima, claro que aquele que atrás voltasse regressaria aí diferente daquele que pela primeira vez agiu, concluiu-se que a personalidade de quem assim fala, se não for dada a ludibriar-nos ou a ludibriar-se, se caracteriza por três aspectos essenciais: nulo arrependimento, rigor matemático e sólida monotonia.

7 comentários:

  1. Rigor matemático?! Não percebo isso. Uma pessoa que volta atrás e faz exactamente o que antes tinha feito pode ser várias coisas: um chato, um obstinado, um autista, um conservador de primeira, etc. Mas um matemático...? Porquê um matemático e não um enfermeiro? Ou um jornalista? Ou outra coisa qualquer?

    ResponderEliminar
  2. Penso que ele quer dizer que só a Matemática é uma ciência de facto exacta, pelo que só por meios matemáticos (analíticos) é possível determinar -- logo, afirmar -- de que se regressou exactamente ao mesmo ponto (neste caso, no tempo). Os métodos mais empíricos, que envolvam algum tipo de medição, pressupõem sempre aproximações (logo, erro).

    ResponderEliminar
  3. Percebo o que diz mas um matemático perceberia que na vida há tantas variáveis e restrições que, pela leis das probabilidades, voltando a um local ou a uma situação algum tempo depois não encontraria as coisas tal como eram antes. A variável tempo teria, certamente, introduzido alterações.

    Inalterações apesar do tempo apenas seriam possíveis em situações conservadas em vazio, não (re)visitáveis.

    PS: Já agora, quanto mais convivo com números e com modelos mais me convenço que a Matemática também seria uma ciência de facto exacta se fechássemos o mundo numa câmara de vácuo. Como isso não é possível...

    ResponderEliminar
  4. Acho que ele não fala em voltar atrás *no espaço* algum *tempo depois*, mas voltar atrás *no tempo*. Que se saiba é impossível (isso dos 'wormholes' parece-me demasiada especulação), mas é o sentido, creio, que as pessoas, com ou sem arrependimento ou desejos de mudança do já feito, dão à expressão «Se voltasse atrás...»

    A Matemática é uma ciência de facto exacta. Um logaritmo é um logaritmo, uma exponencial é exponencial, uma lei quadrática é uma lei quadrática.
    Outra coisa é a aplicação matemática ao mundo físico. (A Matemática vive bem sem mundo físico.)
    Se a queda dos graves segue rigorosamente uma lei quadrática depende das simplificações que se fazem ou não (resistência do ar); se um condensador carrega ou não segundo uma lei exponencial também depende das simplificações que se fazem (impermeabilidade do dieléctrico, etc.).

    ResponderEliminar
  5. Antes de mais, agradeço os comentários. Acrescento só duas coisas:

    - Quando aludo aí ao “rigor matemático”, não pretendo obviamente dizer que a pessoa em questão seria um matemático nem que um matemático teria inevitavelmente as características de tal pessoa.

    - Na sequência do que refere o Fernando, o que está implícito é justamente o facto de a Matemática apresentar o modelo de rigor exigido a quem pretendesse fazer “exactamente” o mesmo (como se a vida fosse um percurso que pudesse ser milimetricamente repetido). Claro que a expressão esconde uma pequena ironia, pois uma coisa é dizer que se faria exactamente o mesmo, outra seria fazê-lo de facto.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá!

      Não leve muito a sério o que eu digo... Por vezes gosto de me dar ares de discordante apenas pelo gosto de discordar.

      Sou muito sensível a conceitos ligados à matemática e acho que há o mito urbano (agora apeteceu-me dizer isto, não ligue) de que a matemática é uma coisa muito objectiva, incondicional, pura. E não é bem assim: tem dias.

      PS: Gosto de ler o que escreve.

      Eliminar
    2. Faça o favor de discordar!
      Grato pela leitura.

      Eliminar