Não há certezas quanto a como este lugar de Vila Real se veio a chamar assim, mas as teorias mais acreditadas apontam para responsabilidades do famoso filme homónimo de 1942.
Até 1998, o Pátio das Cantigas existia essencialmente na geografia de afectos dos vila-realenses mais bem informados. Oficialmente, era apenas um número (o 77) da Avenida Carvalho Araújo, centro do centro da cidade transmontana. Existia também nos envelopes de uma ou outra carta destinada a algum dos seus moradores, remetida por alguém (um vila-realense da diáspora?) que, desconhecendo a morada correcta, estava familiarizado com a designação popular.
Então, nesse ano de 1998, os CTT criaram o código postal “4+3”, com os números extra a detalharem os arruamentos. A ignorância da distante Lisboa, associada à detecção de cartas endereçadas ao Pátio, ditou-lhe a atribuição de um código postal próprio (5000–517), para além do decorrente da sua localização oficial na Avenida Carvalho Araújo (5000–657).
E assim a casa onde nasci e vivi a maior parte da minha vida ganhou duas moradas para a mesma porta.
Mas como ganhou o Pátio tal designação? A teoria mais credível lembra o facto de o Pátio ter sido limitado a sul pelo Teatro Avenida, sala que era também de cinema. Nos anos 40 e 50, o “ar condicionado” consistia em, no intervalo, abrir as portas laterais, deixando entrar a fresca e dando aos espectadores a oportunidade de saírem para o pátio a fumar um cigarro. Não é descabido que num desses intervalos — talvez precisamente no intervalo d’O Pátio das Cantigas — alguém mais humorado tenha visto ali uma versão local do mítico pátio lisboeta. O nome pegou e foi ficando.
Mas a vida dá as suas voltas. O cineteatro faliu no fim dos anos 80, o prédio arruinou-se e, após década e meia de abandono, foi demolido e reconstruído: em 2004 renascia como Conservatório de Vila Real. Anos depois, desconheço por iniciativa de quem, surgiu a placa oficializadora que hoje ali se pode ver.
A memória humana é o que é. Com a nova vizinhança, talvez a lenda mude de musa: chegará o tempo em que a influência do cinema no designativo «das Cantigas» se perderá na bruma, em favor da das paredes-meias com o Conservatório? Talvez já tenha chegado...
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